William Siri: Descaso ameaça patrimônio histórico-cultural da cidade

Em Santa Cruz, o abandono e a falta de manutenção ameaçam seriamente a manutenção de localidades fundamentais para a memória do Rio

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Gostaria de começar o artigo desta semana, caro leitor ou leitora, reservando a você algumas perguntas para uma provocação que se faz necessária e pauta o nosso trabalho. Você já parou para pensar se conhece a história do seu bairro? Sabe onde estão os patrimônios que ajudam a contar sobre esse passado? Por acaso já os visitou? As respostas mostram a importância dos nossos esforços pela valorização e preservação do patrimônio histórico e cultural da cidade, especialmente na Zona Oeste. Esse é um compromisso muito importante para mim, permeando minha vida pessoal e atuação política. Antes mesmo de ser eleito, trabalhei, junto ao coletivo Tudonumacoisasó (do qual faço parte e sou membro fundador), em projetos como o Era Uma Vez, que levava crianças carentes a monumentos de importância histórica da nossa região. Inicialmente, a história do bairro era contada através de pequenas encenações e depois ocorria uma visita a patrimônios como a Ponte dos Jesuítas, em Santa Cruz, ou ao Estádio Moça Bonita, em Bangu, para que as crianças pudessem entender a relevância dos bens existentes em seu próprio bairro.

Esse projeto surge a partir de uma inquietação. Temos um passado relevante, que está materializado nos patrimônios, mas que não são valorizados. Não há motivo plausível para os nossos bens culturais não receberem o tratamento que merecem. Dessa maneira, esse projeto procura divulgar sua relevância, mostrando à população a importância de bens que, muitas vezes, são esquecidos. Essa também é uma maneira de elevar a auto-estima dos moradores, destacando o valor da história de onde vivem. Pensa comigo: por que toda vez que vemos alguma reportagem jornalística sobre cultura e patrimônio cariocas as referências sempre estão restritas ao Centro ou na Zona Sul? A cidade é muito mais ampla e isso não faz sentido. 

A busca pela preservação e manutenção dos patrimônios históricos é especialmente importante quando falamos do bairro de Santa Cruz. Seu passado remonta à Fazenda dos Jesuítas, que realizaram diversas intervenções importantes para o desenvolvimento socioeconômico da região, dentre elas, a já citada Ponte dos Jesuítas, um importante marco tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Ela é, infelizmente, uma das raras construções remanescentes da Companhia de Jesus no Município do Rio de Janeiro. Construída em 1752 e situada na Estrada do Curtume, tinha como objetivo regular o volume das águas e proteger as plantações no período colonial. A preservação deste belo monumento é importantíssima para a valorização de uma história que começa a ser contada pelo subúrbio e um exemplo de como a Zona Oeste possui bens de grande interesse histórico e cultural. 

Posteriormente, com a vinda da família real para o Brasil, a região abrigou a Fazenda Imperial, que incluía o Palácio Imperial de Santa Cruz. A partir de então, o bairro adquire ainda maior importância econômica. Assim, passa a receber diversos equipamentos potentes, como a estação ferroviária, o Matadouro e o Palacete Princesa Isabel, presentes até hoje no território. Vale comentar que importantes projetos de cultura e educação patrimonial já acontecem no bairro, como o Descubra Santa Cruz, que realiza caminhadas culturais com intuito de aproximar a população local e moradores de outras partes da cidade ao passado de Santa Cruz. Há também o Núcleo de Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH), instituição fundamental para a efetivação de pesquisas e organização de acervo e memória do bairro.

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Infelizmente, todos os bens históricos e culturais citados sofrem riscos pelo abandono e a falta de manutenção. A constante preocupação, inclusive da população local, com o estado de conservação patrimonial não se restringe a Santa Cruz. Esta é uma realidade de diversos locais da nossa região. Essa preocupação me levou à criação da Frente Parlamentar de Proteção e Ativação do Patrimônio Histórico-Cultural da Zona Oeste do Rio de Janeiro, mais um mecanismo na luta pela defesa da nossa memória. Também assinamos a co-autoria da lei recém aprovada na Câmara Municipal que reconhece Santa Cruz como bairro imperial. Produzimos ainda um projeto de lei para que a Prefeitura disponibilize, em todos os bens histórico-culturais, informações sobre sua relevância, com o intuito de divulgar e conscientizar a população.

A luta por políticas públicas que preservem e valorizem nossa história é dura, mas seguiremos cobrando mais investimentos e projetos que reconheçam a Zona Oeste como um polo dinâmico de produtoras e produtores culturais, patrimônios diversos e memória.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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