William Siri: Precisamos falar do direito à cidade

Desigualdades sociais foram normalizadas em determinados territórios do Rio

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Rio de Janeiro, dia 09 de março de 2022 - Centro da Cidade | Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

A sociedade brasileira é marcada pelas desigualdades sociais, fruto da exclusão de parcelas significativas da população ao longo da nossa história. A pandemia da Covid-19 acentuou esse cenário, com a queda da renda sendo um fenômeno mundial. Estudos recentes apontam que as 100 pessoas mais ricas recuperaram suas perdas em nove meses, enquanto que os mais pobres levarão, no mínimo, 14 anos para isso. 

Mas falar de desigualdade vai além de falar das disparidades de renda, sendo ela uma realidade que permeia todas as áreas da vida das pessoas. Pauta desde o acesso à saúde, educação e moradia até aos bens de capital cultural, como cinemas, museus e o lazer em geral. E que fica visível de acordo com o CEP frequentado. 

Andando pelo Rio de Janeiro é fácil perceber a diferença de cuidado dado aos bairros da cidade. Uns possuem grande oferta de transportes, com modais diversificados, vias bem asfaltadas, diversas ciclovias e grandes centros comerciais. Já outros amargam ruas esburacadas, falta de pavimentação e de calçadas, escassez de transporte público e demais carências. O tratamento destoa e é gritante. 

Eu, como morador da Zona Oeste, lido de perto com essa desigualdade há anos e, agora como parlamentar, consigo entender que a maioria dos problemas enfrentados pela nossa região são causados pela falta de um olhar mais sensível do Poder Público, que priva grande parte de seus moradores do direito à cidade. Como assim? Eu explico.

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O direito à cidade garante a todos os membros da sociedade os benefícios da vida urbana. Ou seja, além de ser o lugar de moradia e de trabalho, o espaço urbano precisa prover os meios para que a vida social nele se reproduza. Assim, todos os cidadãos devem ter acesso à educação, ao lazer, à boa infraestrutura e etc. Mas, na prática, não é isso o que ocorre na Zona Oeste. Recentemente, nosso mandato descobriu e denunciou que ela recebe asfalto de menor qualidade, mesmo possuindo vias movimentadas e extremamente irregulares. Já os bairros situados na Zona Sul são recapeados com material superior.

Averiguamos também que de todos os postos de trabalhos criados na cidade do Rio de Janeiro 52% estão localizados na região Central/Zona Sul e apenas 7,5%  na Zona Oeste. É importante lembrar que quem mora na ZO faz grandes deslocamentos utilizando o transporte público para ganhar o pão de cada dia. Hoje, os trajetos demoram de duas a três horas em ônibus e trens lotados e sucateados. Precisamos urgentemente acabar com essa disparidade na oferta de empregos que prejudica a qualidade de vida de tanta gente.

Constatamos ainda que no Programa de Proteção de Encostas apenas 5,8% das obras de contenção e drenagem realizadas foram feitas na Zona Oeste. Esse é um dado muito preocupante tendo em vista os estragos causados pelas últimas chuvas em Campo Grande e em Guaratiba, por exemplo.

Em relação à infraestrutura, quando olhamos para os valores de contratos das obras em andamento de toda cidade, excluindo a TransBrasil que abrange vários bairros, apenas 13% são na Zona Oeste. Há diversos contratos suspensos, dentre eles os que envolvem melhorias como a implantação do Terminal de BRT no Mato Alto e em Santa Cruz, fundamentais para a população.

Outro ponto sensível é a falta de espaços destinados à cultura e lazer por aqui. A desigualdade no acesso à cultura é evidente quando fazemos a comparação com as áreas mais ricas do município. A título de exemplo, o bairro de Botafogo, que tem aproximadamente 80 mil pessoas, possui cinco cinemas. Já Realengo e Padre Miguel que, somados, têm cerca de 250 mil habitantes, não têm nenhum.

As desigualdades também são constatadas nos esforços pela preservação de nosso patrimônio. Santa Cruz, bairro de grande importância histórica, tem apenas 10 bens tombados. Já Laranjeiras possui 89. Por isso, promovemos discussões sobre o patrimônio da Zona Oeste, como forma de trazer visibilidade para o que há e é realizado neste território na luta contra esse tipo de distorção. 

O trabalho do nosso mandato é lançar luz para problemas como estes que impossibilitam os cidadãos da Zona Oeste de usufruírem plenamente da cidade que eles mesmos ajudam a construir. Analisar e denunciar a realidade de cada bem público é nossa missão, assim como cobrar da Prefeitura para que ela aja para mudar esse cenário o quanto antes.

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1 COMENTÁRIO

  1. Esses direitos não são garantidos pela constituição?!? Esqueceu?!? Pq o nobre vereador que possui um salário bem legal, bancado pelos impostos, não move uma ação civil pública contra vocês vereadores por prevaricação e não cumprimento do artigo 5 da constituição?!? Mesma história que todos estamos cansados de ouvir… baixa os impostos, quer medida mais popular que essa?!? Baixa o IPTU!!! Não quero saber de prédio tombado não! Briga com seus coelegionarios para zerar o ICMS da gasolina, alimentos e medicamentos! Agora vir dizer para nós que a solução do problema que VOCÊS mesmos causaram, são vocês?!? Faz me rir… por isso à abstenção no Rio é de mais de 50%, ninguém acredita mais nesse papinho… faz e depois apresenta aqui… fui morador da zona oeste por mais de 30 anos e passou político com a mesma conversinha de 4 em 4 anos e até hoje, nada mudou… faz esse dever de casa que lhe passei, depois entra em contato com o diário do Rio ou meu email que terei grande satisfação em responder..

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