Olhos d’água é um livro de contos escritos por uma das maiores escritoras brasileiras da atualidade: Conceição Evaristo. Foi publicado pela editora Pallas no ano de 2016.
Os 15 contos presentes nesta obra mostram a desigualdade social e racial, a injustiça, a violência que são presença constante na vida de grande parte da população. Uma realidade para a qual muita gente prefere fechar os olhos, mas que está lá, dura, pungente, causando sofrimento a milhares de pessoas.
Por isso, não espere finais felizes. Muitos contos terminam em tragédia, pois, com frequência, é assim que acontece na vida. O intuito da autora não é romantizar a vida da periferia, mas utilizar a ficção para mostrar como ela é de fato, com seus prazeres e suas dores.
O conto que dá nome ao livro conta a história de uma personagem que se sente culpada por não se lembrar da cor dos olhos da mãe. Ela se lembra de diversos detalhes da vida que viveu junto à mãe, mas não consegue lembrar de seus olhos, o que lhe causa angústia:
“Sempre ao lado de minha mãe, aprendi a conhecê-la. Decifrava o seu silêncio nas horas de dificuldades, como também sabia reconhecer, em seus gestos, prenúncios de possíveis alegrias. Naquele momento, entretanto, me descobria cheia de culpa, por não recordar de que cor seriam os seus olhos.”
Com frequência, Conceição Evaristo alterna, em seus contos, o presente e o passado, como no conto Ana Davenga, no qual a personagem-título recebe em seu barraco a visita inesperada de vários homens e mulheres, seus vizinhos na favela, mas percebe que seu companheiro, Davenga, não está presente. Enquanto Ana Davenga, angustiada, tenta entender o que aconteceu com ele, o leitor acompanha o seu passado, desde quando se conheceram, até aquele dia:
“O peito de Ana Davenga doía de temor. Todos estavam ali, menos o dela. (…) Onde estava Davenga? Teria se metido em alguma confusão? Sim, seu homem só tinha tamanho. No mais era criança em tudo. Fazia coisas que ela nem gostava de pensar. Às vezes, ficava dias e dias, meses até, foragido, e quando ela menos esperava dava com ele dentro de casa. Pois é, Davenga parecia ter mesmo o poder de se tornar invisível”.
A fome também é presença constante nos contos. Uma presença tão dura, que nem a prosa poética da autora consegue aliviar: “Lembro-me que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse, ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento”.
Neste livro de contos curtos, mas potentes, Conceição Evaristo põe o leitor cara a cara com uma realidade cruel, que desperta no leitor as mais diversas emoções. Seus personagens tentam, apesar das adversidades, viver e lembrar os momentos bons, ainda que a vida não dê trégua.
Livro: Olhos d’água
Autora: Conceição Evaristo
Editora: Pallas
Páginas: 116