Teve um tempo, não muito tempo, que ser carioca e dizer isso ao mundo era motivo de orgulho e até de soberba. Em todos os lugares, ser carioca era uma grife. Hoje não é mais assim. O povo carioca está abatido, triste, envergonhado e até com raiva. Fala em ir embora. Nem sempre vai, mas sente que é bonito dizer que irá.
Existe quem diga que a violência é a raiz dos males, outros afirmam ser a corrupção desenfreada e outros ainda (esses os piores casos) dizem que é assim mesmo, porque assim mesmo sempre foi. E, no final, tudo cai na conta dos políticos.
Deveríamos examinar melhor essa questão e, se examinarmos, chegaremos a um fato concreto: a exploração contumaz de uma imagem negativa para o Rio de Janeiro leva junto a capacidade de sua gente de reagir. Temos problemas graves e antigos e políticos ruins, sem dúvida, mas perdemos a vontade de ultrapassar tudo isso, porque os cariocas acreditam que, de fato, o Rio não é mais um bom lugar para viver e os políticos daqui são os piores do mundo.
Daniel Innerarity, catedrático em filosofia política e social, considerado um dos 25 grandes pensadores do mundo pela revista Le Nouvel Observateur, escreveu “A Política em Tempos de Indignação“, livro que todas as pessoas que carregam um título de eleitor deveriam ler. Refere-se à Espanha, numa situação que se identifica com a política em todo o mundo. Na obra, o autor, com uma frase curta, aponta um ponto que me serve aqui, no texto. Lá está dito:
“Não estaríamos usando os políticos para exorcizar os nossos próprios demônios de culpabilidade e frustração? (…). Ao desprezo pela classe política associam-se vários lugares-comuns e algumas desqualificações que no fundo revelam uma grande ignorância acerca da natureza da política e promovem a depreciação em relação à mesma”.
Ora, problemas graves que o Rio tem estão representados em todos os lugares do mundo. No entanto, no mundo todo, quem não se deixou abater por isso, venceu a parada. Recuperou-se, saindo até dos escombros. A política foi o instrumento de trabalho.
No entanto, existem políticos Lippy e políticos Hardy. Para quem não se lembra ou não conhece a dupla, registro que ela nasceu em 1962, criada pelos estúdios Hanna-Barbera. Lippy é o leão, sempre de bem com a vida e de olho nas oportunidades. As ameaças não lhe preocupavam. Hardy, uma hiena, está sempre pessimista. Diante das melhores oportunidades, ela via ameaças e dela nasceu um chavão: “Oh céus, oh vida, oh azar“.
Usarei este espaço que me foi presenteado pelo DIÁRIO DO RIO para escrever sobre a política carioca, desde o tempo em que o meu olhar alcança. Espero que a história nos ajude a entender que não existe razão para pessimismo, quando o Rio de Janeiro é o tema.
Bem, até a próxima semana.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.