O Rio de Janeiro é um dos locais mais escolhidos por aqueles que saem do Nordeste em busca de trabalho e melhores condições de vida. Há pouco tempo, entre os dias 8 e 12 de novembro de 2023, tive a oportunidade de encontrar diversos nordestinos que viveram e trabalharam no Rio por anos. Isso aconteceu em Bananeiras, localizada no Brejo Paraibano, a 136 km de João Pessoa, 70 km de Campina Grande e 147 km de Natal. Conheci gente que viveu na Rocinha, Nova Iguaçu, Borel, Rio Comprido. Todos lembravam com carinho da Cidade Maravilhosa.
Essas conversas aconteceram durante o Festival Bananeiras de Cinema, que movimentou essa cidade da Paraíba enchendo de turistas cinéfilos, como os do grupo Topcine de João Pessoa, dirigido por Andrés Von Dessauer. Sem falar nos estudantes da Universidade Federal da Paraíba e os intercambistas africanos que moram por lá e aproveitaram diversos curtas e longas-metragens de forma totalmente gratuita no Engenho Reserva da Moenda.
A princípio, a cidade de Bananeiras proporciona um mergulho na história. A colonização começou naquela localidade ainda no século XVII, com Zacarias de Melo e Domingos Vieira, vindos da Vila de Monte-mor. O nome Bananeiras originou-se das pacoveiras, uma bananeira rústica, que caracterizava a região escolhida por eles em 1716.
Café e cinema
Bananeiras era a maior produtora de café da Paraíba e a segunda no Nordeste, destacando-se até 1923, quando uma praga devastou as plantações. Porém, o patrimônio arquitetônico preserva construções coloniais, neoclássicas, ecléticas, art déco e protomodernistas, testemunhos da opulência da antiga aristocracia rural. A Igreja de Nossa Senhora do Livramento, concluída em 1861, foi a que mais me chamou atenção com sua beleza e imponência, sendo um grande marco da cidade. O engraçado é que conta a lenda que portugueses sobreviveram a um confronto com indígenas após fazer uma promessa para Nossa Senhora do Livramento. Após isso, pediram uma imagem dessa santa para Portugal. Enviaram uma de Nossa Senhora das Graças, e é essa que está lá, linda e brilhante, na frente da Igreja.
No momento, o único cinema da cidade, o Cine Bananeiras, está tristemente fechado. Por causa disso, Silvio Toledo e Natali Toledo, moradores de Campina Grande, mas fãs de Bananeiras, resolveram fazer algo por conta própria para reabri-lo. Dessa semente, nasceu o Festival Bananeiras de Cinema, que contou com 37 curtas-metragens em competição pelo Troféu Bananito de Ouro.
Fui conhecer esse local após ter sido selecionado com o curta-metragem “O Preto de Azul”, que dirigi e roteirizei juntamente com Leandro Ferra, e fiz a trilha sonora em conjunto com o cabo-verdiano Plácido Vaz. Resolvi unir o útil ao agradável: ver meu filme passar em um telão na Paraíba e cobrir esse festival histórico como jornalista cultural.
E o Rio de Janeiro não fez feio na competição. O excelente curta-metragem “Fantasma Neon” ganhou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor (Leonardo Martinelli) e Melhor Ator (Dennis Pinheiro) em sua categoria. Além disso, qual não foi minha surpresa quando levei o prêmio de Melhor Música Original? Fiquei realmente emocionado, ainda mais após toda a recepção que tive na cidade e em João Pessoa, onde cheguei a princípio. Durante a exibição já tinha ficado feliz com a reação do público e os gritinhos no final, mas o reconhecimento dos jurados também me gerou uma enorme satisfação. O cantor, Plácido Vaz, comemorou diretamente de Portugal, onde vive atualmente.
Por fim, cheguei ao Rio de Janeiro com o Bananito de Ouro nas mãos e uma imensa vontade de retornar para a Paraíba assim que possível.