Não faltam exemplos de bandas de rock n roll que misturam guitarras pesadas e letras poéticas. É por essa linha que o grupo Canto Cego, com raízes na região da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, pretende escrever sua trajetória artística.
A banda, formada em 2010 e atualmente composta por Roberta Dittz nos vocais, Rodrigo Medeiros na guitarra, Magrão no baixo e Ruth Rosa na bateria, está preparando o primeiro disco. Novidade que anima não só os fãs, mas também os integrantes:
“Essa é nossa notícia mais empolgante. Estávamos para lançar um EP com cinco músicas, mas depois de muita conversa estamos entrando em estúdio de novo para gravar mais cinco canções e aí sim completar um CD. Vamos ter um tempinho de espera até tudo acontecer, mas vai ser um sonho poder lançar um primeiro CD com músicas antigas e inéditas. Antes disso vamos lançar um single” destaca a vocalista Roberta Dittz.
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Muito se fala sobre a falta de grandes letristas na atual música nacional. Roberta, que escreve as letras da banda, diz que esse processo de criação de poesia com rock acontece de forma natural.
“Eu [Roberta] sempre fui muito envolvida com teatro, mais do que com música. E quando vim morar no Rio comecei a frequentar muito o circuito de saraus pela cidade. Corujão da Poesia, CEP 20.000, Ponte de Versos, Arte em Andamento. Frequentando e conhecendo poetas comecei a escrever e dizer as poesias que fazia nos saraus. Daí quando surgiu a possibilidade de ter uma banda, não tinha como não propor aquele universo no qual eu estava completamente inserida. Achei maneiro que a banda nunca se opôs a isso, mesmo sendo pessoas que não tinha intimidade alguma com a poesia. Aos poucos, a gente foi construindo essa identidade que se sobressai muito mais na performance ao vivo”.
Se as letras ficam nas mãos de Roberta Dittz, os arranjos são extremamente coletivos. A banda conta que começam fazendo bases e aos poucos, com ideias de todos, a parte instrumental das músicas vai surgindo.
A banda Canto Cego tem raízes na Maré, uma região composta por áreas que não recebem tanta atenção dos governos e acabam sofrendo duras consequências por conta disso. Isso influencia no processo criativo do grupo. E muito.
“A Maré é nossa grande influência, digamos nossa bússola. A partir dessa visão de mundo a gente tenta sempre retratar os conflitos urbanos, as contradições da cidade. É muito forte para gente esse respeito com o espaço. Esse olhar em torno para a partir daí criar a música. Geralmente compomos à medida que vamos respirando a cidade a rotina, as polêmicas sociais, a própria violência, e claro o amor, que apesar de muitos estragos, ainda persiste” frisa Roberta.
Apesar do reconhecimento positivo da crítica musical, os integrantes do grupo ainda não vivem só de música. Magrão é tatuador, Rodrigo trabalha com produção cultural, Ruth é motion designer e Roberta trabalha com edição de vídeos.
Com mais de seis mil curtidas no Facebook e fãs atentos, a banda Canto Cego já é exemplo para novos grupos. Contudo, quem influencia também tem influências e as principais da Canto são Jimi Hendrix, Queens of the Stone Age, Elis Regina, Artic Monkeys, Silverchair, Lenine, Pearl Jam. Nas letras, Arnaldo Antunes, Ferreira Gullar, Fernando Pessoa e Manoel de Barros dão o tom.
Nesses cinco anos de Canto Cego, os resultados vêm acontecendo: “A gente participou e ganhou alguns festivais que foram muito importantes para o crescimento da banda, como o Webfestivalda que fomos finalistas em 2012, o Nova Música Brasileira (2012) que fomos vencedores e o Planeta Rock (SP) em 2014. Mas sem dúvidas nosso maior feito foi ter tocado no Festival de Jazz de Montreux em julho deste ano. Esse festival é um dos mais antigos do mundo, a gente teve pela primeira vez contato com uma produção gigante e tocamos para um público internacional, além da pequena turnê que passamos pela Suíça, fazendo alguns shows menores por cidades como Basel e Genebra. Uma experiência única e que nos despertou muitas expectativas para o que vem por aí” destaca Roberta.
Roberta pontuou que as letras poéticas em português não foram empecilho para o grupo no exterior. Segundo ela, o público europeu é atento à música de qualquer forma. No momento, quem não poderá ficar muito atento à banda ao vivo são os fãs, pois a Canto Cego está em período de trégua de apresentações. Entretanto, eles dão um recado:
“Não vai durar muito, mas por enquanto estamos apenas nos preparativos e sem datas a vista. Mas é só ficar ligado nas nossas redes sociais que vamos avisar assim que tivermos datas”.