Jazz fusion, mais rock psicodélico, mais ritmos brasileiros, mais espaço (muito mais) para o experimentalismo. O resultado de tudo isso talvez defina a banda carioca Estômago. Talvez. Como eles mesmos dizem, fazem “canção fusão”. O conjunto é composto por Eduardo Alberto Verdeja (guitarra e voz), Frederico Santiago (bateria, teclado e voz), Lucas Freire (bateria), Pedro Moraga (baixo e voz) e Tomás Inglês (letras, voz e percussão).
Formada no final de 2013, a banda Estômago lançou seu primeiro EP, chamado Mano Primata, em agosto deste ano. Muito elogiado, o trabalho, que conta com quatro canções, vem rendendo novos convites de apresentações para o grupo.
“Temos alguns shows para o mês de outubro que serão divulgados em nossa página no Facebook” diz Tomás Inglês.
Não são tantas as casas que abrem espaço para sons tão experimentais. No entanto, o pessoal da banda Estômago garante que segue firme e forte na luta: “Certamente o melhor lugar com essa pegada experimental hoje em dia no Rio é a queridíssima Audio Rebel, e principalmente a programação da Quintavant. Fizemos nosso show de lançamento do EP na Sala Funarte, na Ocupação Quintavant” afirmou o responsável por bateria, teclado e voz, Frederico Santiago.
Quando questionado sobre uma possível falta de artistas mais experimentais na cena brasileira, Tomás Inglês deu uma resposta reflexiva: “Sempre existem bandas experimentais. Faltam lugares onde se possa apresentar esse tipo de trabalho, porque é difícil manter um estabelecimento com esse tipo de programação extensamente. Não há público/cena suficiente pra sustentar financeiramente esse tipo de programação. Isso é assim em qualquer tempo. Mas estamos aí trabalhando para somar e para que uma cena maior se estabeleça”.
Fazer um som tão livre de amarras requer qualidade técnica dos músicos e muita química tocando juntos. Tomás Inglês explica como se deu a união da banda Estômago, que tem componentes oriundos dos bairros Vila Isabel, Laranjeiras, Santa Teresa, Gávea e Barra da Tijuca.
“Estômago é quase como um coletivo mutante. Surgiu de encontros descontraídos na casa do Frederico [Santiago], com a galera na vontade de improvisar livremente, evoluir musicalmente, ter papos absurdos e fazer jams culinárias na cozinha. No meio de todo o processo rolaram saxofonistas, clarinetistas, tentativas e erros (alguns acertos). No começo era só ‘fritação’, gravávamos em vídeo as jams, editávamos em seguida e surgia praticamente uma música concreta no termo avant-garde mesmo, estruturada só com recortes fílmicos de improvisos. Esse método foi um bom pontapé inicial, mas não funcionava em longo prazo. Logo não estávamos mais conformados em ser meramente uma banda de improvisação instrumental. Começamos a investigar mais a voz, e criamos esse lado cancioneiro do Estômago também (da qual, inspirados pelo jazz fusion, carinhosamente apelidamos de “canção fusão”). Com o tempo, os integrantes das jams foram se concentrando nos atuais integrantes da banda, e conseguimos viabilizar formas mais claras de estruturar nossas ideias, a coisa foi ganhando cara, tronco, pernas e Estômago” diz o responsável pelas letras, voz e percussão da Estômago.
O nome “Estômago” veio dessas reuniões. Após esses encontros musicais, batia fome no pessoal e eles iam para a cozinha preparar o que comer. Então, o batismo da banda se deu temperado por esses experimentos culinários.
Embora o processo criativo na banda Estômago seja intenso, um CD ainda não tem data para ficar pronto. O que está definido é que os integrantes continuarão compondo, criando e as músicas desse possível álbum (quando ele sair) terão a mesma liberdade criativa das quatro canções lançadas no EP Mano Primata.
Surpreendente, o grupo inova até nas influências, que vão de King Crimson, Metá Metá, Mahavishnu Orchestra, Frank Zappa, John Coltrane e Caetano Veloso a Robertinho do Recife e Mc Pedrinho (“e sua microtonalidade”). E claro, muito mais coisa, pois nesse Estômago cabe bastante fome de música.
