Por Jade Dias
Anitta, nome artístico de Larissa Machado, ganhou relevância internacional na indústria da música nos últimos três anos. A cantora carioca que iniciou sua carreira no Funk, lançando dois álbuns no gênero – “Anitta” em 2013 e “Ritmo Perfeito” em 2014 -, migrou para o pop em 2015, com o lançamento de “Bang”, e até hoje já bateu inúmeros recordes nas paradas musicais. No início deste ano Anitta lançou o álbum “Kisses”, e mais recentemente deu início às gravações de seu novo projeto: o clipe da música “Muito Calor” em parceria com o reggaeton porto-riquenho Ozuna.
As fotos vazadas nas redes sociais, e republicadas incessantemente nos mais variados veículos de mídia, ilustram o cenário escolhido para este novo trabalho: uma laje, localizada na comunidade Tavares Bastos, Zona Sul do Rio de Janeiro. É possível ver a cantora vestida com um macacão amarelo de tela, um biquíni rosa, maxiargolas e óculos retrô lilás. Além disso, a escolha de penteado chamou bastante atenção nas fotos. Anitta optou por cabelos longos e fios bastante cacheados.
A forma como a ex-funkeira se porta em seus videoclipes têm sido pauta de discussões. No início da sua carreira, Anitta apareceu na mídia como uma mulher branca de cabelos lisos, porém, desde o clipe “Vai Malandra” especificamente, a cantora vem tomado uma postura diferente. No clipe citado, que também foi gravado na favela, Anitta aparece com um tom de pele mais escuro e com tranças afro no cabelo e agora no clipe de “Bola Rebola”, ao lado de Tropkillaz e J Balvin, a cantora optou pela mesma estética.
A afroconveniência de Anitta tem gerado desconforto e indignação nos fãs porque, embora em seus vídeos a cantora apareça na favela trazendo consigo referências afro, em premiações e tapetes vermelhos seu “discurso estético” é outro: pele clara, cabelos lisos e roupas que nem de longe sugerem a mulher negra e periférica que ela busca retratar. As acusações apontam uma jogada de marketing. Anitta se apropria do discurso de negritude apenas quando convêm, com o intuito de lucrar em cima disso.
A apropriação cultural não é uma exclusividade da cantora, mas sim um fenômeno estrutural e sistêmico que se define pela adoção de alguns elementos específicos de uma minoria ou grupo por um outro completamente diferente. A partir disso, um indivíduo pode usufruir da apropriação de símbolos que levaram à marginalização e opressão inconsciente desses grupos culturais. O que Anitta faz, em sua posição de privilégio, é sustentar um processo de exclusão ao reforçar a exotização e a marginalização dos indivíduos dessa cultura, negros favelados no caso, que não correspondem ao padrão ocidental e eurocêntrico exigido nos eventos que a cantora comparece.
A reprodução desses símbolos culturais em escala industrial, motivada pela rentabilidade, ainda carrega o agravante de esvaziar os movimentos sociais. A manutenção de uma identidade negra é mais que estética, é um ato de resistência, e a enorme lucratividade adquirida por Anitta em seus vídeos não tem reflexo algum nessas lutas, apenas na fama da cantora. Apesar da relevância do tema, e da polêmica que as imagens geraram, Anitta pareceu não se importar. A cantora optou por não se manifestar à respeito das críticas feitas pelos fãs. Enquanto isso, a produção do clipe de “Muito Calor” segue em andamento e não possui data de lançamento anunciada.
Minha família é de cordovil! Moro em Copacabana! Amo a Anitta! Ela é a melhor artista pop do Brasil!!!