Fiquei uma semana sem celular. Quem nunca teve um aparelho roubado ou furtado no Rio de Janeiro que atire o primeiro chip. Ou levante as mãos para os “cels”.
Meu celular estava no seguro, então tive que esperar alguns dias até pegar outro aparelho. Nesse intervalo de tempo, vivi um Rio de Janeiro, cidade “instagramavel”, sem smartphone e tudo o que há dentro de um.
Sem celular, a gente passa a ver o que está fora. Terminei de ler um livro sobre revoltas populares na cidade do Rio no início do século XX. Com o celular ali, no transporte público, na cama antes de dormir, combatendo com suas armas tecnológicas, a obra de papel estava perdendo a batalha.
É muito louco como o celular dominou nossas vidas. Para quase tudo nós dependemos dele: acordar, dormir, comer, beber, encontrar pessoas, ter relações afetivas e muito mais. Outro dia, eu estava lendo esse mesmo livro e olhei para a parte de cima da página, querendo saber a hora.
Sobre transporte público, andar de ônibus sem celular pode ser uma experiência libertadora e, ao mesmo tempo, deprimente. Dependendo do caminho que você faz, é possível observar as belezas da cidade com mais detalhes, sem uma tela no meio. Contudo, se a viagem for por áreas que deveriam ter mais atenção do Poder Público, é de fazer chorar…
Andar sem celular pelas ruas do Rio de Janeiro pode ser também tranquilizante. No geral, temos medo de ter o aparelho roubado. Mas se você não está com aparelho, que mal há?
Não fiz isso, mas ir à praia sem celular também deve ser ótimo. Não precisa pedir para ninguém guardar o pertence – a quem nós pertencemos.
Falando sério, essa cidade tem muitos encantos que merecem nossa atenção, que muitas vezes não damos, pois estamos com a cara metida no celular. Esses dias sem me fizeram notar milhares de detalhes em idas e vindas ao Centro, Zona Sul e Zona Oeste.
E esse texto não é uma campanha contra os celulares. Longe de mim digitar essa mensagem. Até porque os primeiros toques desta conectada crônica foram feitos no meu novo aparelho. O que deve ser feito, então? Bom, eu vou fazer como sempre: olhar a cidade com suas belezas e tristezas com meus olhos e bater umas fotos (com o celular) vez ou outra.
Crônica tooop