Mega evento de rádio ligada a políticos evangélicos pode destruir o que sobrou da Quinta da Boavista

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Um evento evangélico para mais de 50 mil pessoas está sendo programado para ocorrer na Quinta da Boavista. O belo parque, cujo belo palácio foi incendiado pela negligência dos dirigentes da UFRJ, não tem, segundo especialistas, estrutura para receber mega eventos. O limite atual para eventos no entorno do palácio de São Cristóvão destruído pela incompetência federal é de 5.000 pessoas. O mega show programado para ocorrer neste dia 15 de abril é uma realização da produtora MK Music e da rádio evangélica 93FM, ambas de propriedade do falecido senador Arolde de Oliveira.

O “Louvorzão 93“, segundo sua organização, vai reunir dezenas de milhares de pessoas, numa maratona de shows que reunirá nomes da música evangélica neopentecostal, com 23 atrações “confirmadas” que incluem Aline Barros, Anderson Freire e outros famosos do segmento. Os artistas evangélicos se apresentarão à gigantesca multidão das 14 às 23h do dia 15.

A multidão prevista representa mais de dez vezes a capacidade do combalido parque. Curiosamente, um evento de semelhantes proporções foi vetado em 2016, quando o Palácio ainda nem estava em ruínas por conta do incêndio, que ocorreu 2 anos depois. Na ocasião o Ministério Público se insurgiu – e com razão – contra o Ultra Rio Brasil, uma mega festa ‘rave, feita para público também de dezenas de milhares de pessoas. Na ocasião, o MP citou os riscos ao patrimônio nacional, e também o problema do som altíssimo, que pode colocar em risco os animais do Jardim Zoológico (Bioparque), que fica bem ao lado. Na época, o MP demonstrou que o pedido havia sido indeferido pelo Iphan, o que, segundo fontes, parece ter ocorrido também no caso do Louvorzão.

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Na época, o MP citou os estragos que poderiam ocorrer também com a instalação de centenas de banheiros químicos, instalação de palcos e outros fatores que causariam “impactos negativos ao patrimônio tombado“, além do mal estar que causaria aos animais do Zoológico (atual Bioparque). A emissão de decibéis de megashows é considerada altíssima por especialistas. O que foi chamado de “Tesouro Arqueológico“, não poderia ser danificado pelo uso de equipamentos e instrumentos eletrônicos. Na época, o procurador da república Jaime Mitropoulos deixou claro que havia necessidade urgente de impedir a realização de condutas que poderiam causar danos ao patrimônio cultural brasileiro. Assim, seus destrambelhados organizadores – que na época tinham, patrocínio da Prefeitura – tiveram que levar o evento para o Sambódromo.

Agora, porém, os organizadores são um dos mais fortes conglomerados empresariais evangélicos do país. A Secretária Estadual de Cultura resolveu patrocinar o evento; a titular da pasta, Daniele Barros, é irmã do polêmico deputado federal Áureo Ribeiro (Solidariedade), integrante da bancada evangélica que foi citado várias vezes na delação do ex-deputado José Severino Silva Felinto, quando do afastamento do deputado Eduardo Cunha. À época, Áureo foi acusado de fazer requerimentos com o intuito de pressionar empresários, em suposto conluio com Nelson Bornier, ex-prefeito de Nova Iguaçu já falecido. Na ocasião, acusado de ser amigo de Cunha, o irmão da Secretária de Cultura disse que sua relação com ele era “institucional“. O então assessor do ex-ministro da saúde petista Alexandre Padilha também mencionou o deputado: disse que recebeu 200 mil reais em pagamentos intermediados por Áureo. O assunto, porém, foi arquivado. Esta intrépida trupe está dentre os mais ávidos organizadores do “Louvorzão”.

Tão ávidos que fizeram requerimento ao Iphan para aprovação da entrada da multidão nos jardins da Quinta bem em cima da hora, e cientes do teor da INFORMAÇÃO BÁSICA 217/2018, que regula os eventos na Quinta da Boa Vista (abaixo).

No documento público acima, o IPHAN informa os organizadores do LOUVORZÃO as regras para realização de eventos no local. Eventos acima de 5.000 pessoas estão vetados, como proteção ao patrimônio.

O parque é repleto de jardins, estátuas, fontes e outros bens tutelados pelo Iphan, órgão responsável pelo Patrimônio Cultural, que explicou na ocasião serem os jardins do Palácio indissociáveis do mesmo. Na época da ‘rave’ que acabou transferida pro Sambódromo, só a montagem de palcos – pois o evento não chegou a ser realizado – causou danos graves aos jardins do Palácio, que geraram multa de R$ 82.050,00 e a obrigação de reparação de danos, inclusive o gramado, quase que totalmente destruído.

Marina de Oliveira, herdeira de Arolde, falou à Folha dos Lagos sobre o assunto no dia 20 de março, e disse que “precisou de muita força de vontade para manter segredo até anunciar oficialmente que o Louvorzão 93, edição 2022, seria uma realidade“. Marina disse que a essência do evento é celebrar o “legado do senador Arolde de Oliveira“, conhecido também como um dos maiores magnatas do showbusiness neopentecostal.

Segundo o artigo 62 da lei 9.605/98, constitui crime destruir, inutilizar ou deteriorar bem tombado, inclusive por culpa. Será que celebrar o legado do senador-empresário evangélico justifica pisotear a norma vigente – e que valeu pros organizadores da ‘rave’- e destruir de vez os jardins do Palácio de São Cristóvão? É daqueles que compensa?

O pedido foi negado pelo Iphan mas os políticos-organizadores não cancelaram o evento até o momento. Devem achar que o apoio do Presidente Jair Bolsonaro – e o suporte contínuo a ele dado pela bancada evangélica – lhes garante poder absoluto e multiplica por dez a capacidade de receber pessoas da Quinta da Boa Vista e do entorno do Palácio Imperial. Afinal, são amigos do Rei.

Procuramos a Superintendência do Iphan, que não se pronunciou até o fechamento desta matéria. Informações do processo on-line dão conta de que o órgão indeferiu a realização do evento, e o recurso dos organizadores foi enviado para “análise“.

Atualizado em 13 de Abril de 2022 – 19h41min

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Quintino Gomes Freire

Diretor-Executivo do Diário do Rio e defensor do Carioca Way of Life

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Ver comentários

  • Este tipo de evento, muito louvável, deveria ser em um local na Rio-São Paulo onde há muito espaço, ninguém a incomodar e nenhum patrimônio público (este de TODOS religiosos ou ateus).
    Ou perto de áreas desertas em Campo Grande ou Santa cruz. Acho que todos tem direito a manifestação, religiosa, pólítica ou outras mas há de se preservar a história e o respeito aos que não participam.
    Homenagem ao glorioso quem?

  • PERGUNTA PRO PREFEITO FANFARRÃO EDUARDO CORRUPTO PAES NÉ ?
    O LOUVORZÃO TÁ ADIADO
    MAS O CARNAVAL PODE NÉ ?

    • volta para teu Pais sr. matubayashi, aqui e brasil dos brasileiros, respeito e bom e nos gostamos.... louvorsão do dinheirão em local publico sai de graça e da para economizar um dinheirão de aluguel. o carnaval sempre teve e e sempre foi nas ruas e agora na marques de Sapucaí. vaza daqui volta para seu lugar

  • PERGUNTA PRO PREFEITO FANFARRÃO EDUARDO CORRUPTO PAES NÉ ?
    O LOUVORZÃO TÁ ADIADO
    MAS O CARNAVAL PODE NÉ ?

  • PERGUNTA PRO PREFEITO FANFARRÃO EDUARDO CORRUPTO PAES NÉ ?
    O LOUVORZÃO TÁ ADIADO
    MAS O CARNAVAL PODE NÉ ?

  • Reportagem totalmente preconceituosa. Evento evangélico é para as famílias. Nunca destruí nada. Pelo contrário, edifica, constrói, agrega. Uma vergonha esse tipo de jornalismo tendencioso.

  • Tudo bem de cancelar o evento na quinta por motivos plausíveis, mas a reportagem aqui feito foi um lixo, como sempre.

    • É chocante ver que para parte da população, o interesse de um grupo ultrapassa o reconhecimento e valor de um dos bens mais preciosos do país. Fora o desconhecimento histórico, já que sediou o único Império Europeu fora da Europa... Mas o assustador é ver que não se pode comentar dos riscos que tem grupos que saem atacando... Independente de ser rave, evangélico ou funk, a Quinta não é lugar para aglomeração e ponto final.

  • a RÁDIO NÃO ESTÁ NEM AÍ PRA ISSO, SERÁ FEITO EM OUTRO LUGAR MUITO MELHOR E ESPAÇOSO, AQUELA QUINTA HORROROSA... DEUS ME LIVRE... E SE PREPAREM, O NOVO LOCAL VAI ATRAIR MUITOS MAIS PESSOAS.....
    PODEM VCS CONTINUAR TENTANDO! Mas não IRão conseguir!

  • Que façam em local apropriado! Não é porque já houve no passado que se deve continuar. Um erro não justifica outro.

  • Nossa, a matéria demonstra cunho preconceituoso, creio que por se tratar de um evento gospel.
    No momento, diversos eventos estão sendo realizados e não vi uma chamada tão polêmica como esta.
    Na minha opinião, não deveria ter nenhum evento neste momento, mas o futebol não parou nunca, o carnaval está a mil, os produtores de show estão surfando na onda.
    Depois eles resolvem!