Ciclismo no Rio: beleza e morte sobre duas rodas

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Provas de ciclismo no Rio / Foto: Tomaz Silva - Agência Brasil

A cidade do Rio de Janeiro tem um cenário paradisíaco que convida a um bom passeio ao ar livre. Sua orla é convidativa não apenas ao banho de mar, mas também à pratica de atividades físicas as mais variados.

O carioca gosta de se exercitar ao ar livre. Andar de bicicleta de forma recreativa ou como treinamento tem atraído cada vez mais adeptos em diferentes regiões. A cidade do Rio conta com aproximadamente 450 quilômetros de ciclovia. Só na Zona Oeste são 250 km. Na Zona Sul mais 130 km, além de 50 km na Zona Norte e mais 9 km no Centro da cidade.

Apesar do cenário e da boa malha cicloviária, o carioca sente medo de andar de bicicleta pela cidade, e não é só por conta dos assaltos. Quedas, má conservação de pistas e estradas, falta de sinalização e imprudência de motoristas são fatores que impedem muitas pessoas de se exercitarem sobre 2 rodas.  

O medo maior, sem dúvida, é o de ser atropelado e morto por motoristas imprudentes ou alcoolizados, como aconteceu com o cliclista Cláudio Leite da Silva, de 57 anos, atropelado pelo capitão do Corpo de Bombeiros, João Maurício Correia Passos, de 35 anos, no Recreio dos Bandeirantes, na última segunda-feira (11/01).

Não há estatísticas de órgãos oficiais sobre o número de acidentes que vitimam os ciclistas na cidade. Isso impede a formulação e implementação de políticas de apoio e segurança para os atletas e a promoção do uso da bicicleta.

Segundo o triatleta e fundador da Comissão de Segurança no Ciclismo da Cidade do Rio de Janeiro (CSCRJ), Raphael Pazos, as entidades que prestam socorro na cidade não classificam as ocorrências seguindo um padrão. Corpo de Bombeiros, Samu e Polícia Militar têm critérios de registros próprios. O que dificulta não só a quantificação das ocorrências, como inviabiliza o mapeamento dos pontos críticos de acidentes para os ciclistas. O conhecimento desses dados poderia levar à identificação do motivo dos acidentes e diminuir o número de vítimas, assim como os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com atendimentos de emergência.

Em várias cidades do mundo, a bicicleta é vista como um veículo de condução, portanto pode também trafegar pelas ruas das cidades. No Brasil ainda não desenvolvemos essa visão, o que torna cliclistas e transeuntes elos frágeis nas relações de trânsito.

No caso dos esportistas, quando estão treinando, não podem usar a ciclovia, por causa da sua velocidade alcançada, que pode chegar 40 Km/h. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, a velocidade máxima em ciclovias e ciclofaixas deve ser de 20 Km/h.

Os ciclistas de competição procuram se proteger o quanto podem. Muitas vezes eles contratam carros e motos como batedores para segui-los e acompanhar os treinos. Para os que treinam sozinhos ou são ciclistas amadores, o risco é constante e total.  

Quem dirige ou circula pela cidade já percebeu que houve uma diminuição das operações Lei Seca em 2020, o que aumentou a imprudência de motoristas que dirigem alcoolizados de madrugada, quando o treino de esportistas é mais comum.

Se a Olimpíada realizada na cidade do Rio não deixou todos os legados prometidos, pelo menos, deixou uma malha cicloviária desejada por esportistas e cicloturistas que querem refazer o circuito da prova pela orla, entre os bairros de Copacabana e Grumari. Mas para que isso aconteça com segurança é necessário que o poder público faça a sua parte e instale radares de velocidade e sinalização vertical e horizontal para alertar que há ciclistas na pista. A falta desses cuidados repercute também na economia da cidade que poderia atrair mais atletas e turistas para desfrutar das nossas ciclorrotas,

Em vista da violência no trânsito que tem vitimado muitos ciclistas, associações de atletas lançaram uma petição on-line, no site Avaaz, solicitando sinalização prioritária para ciclistas no circuito olímpico. No texto de apresentação, elas lembram que “a Barra se transformou no point dos ciclistas cariocas” depois da Olimpíada do Rio.

A cidade do Rio de Janeiro é a única cidade do Brasil a ter três Áreas de Proteção ao Ciclismo de Competição (APPC): uma no Aterro do Flamengo; outra na Praia da Reserva, que funciona às terças e quartas, das 4h30m às 5h30m; e a mais recente no Porto.

‘Pedalaço’

Aproximadamente mil ciclistas fizeram um ‘pedaloço’ neste sábado (16/01) em protesto pela morte de Cláudio Leite da Silva, no Recreio dos Bandeirantes, próximo ao local do seu atropelamento. O cliclista foi sepultado na última terça-feira (12/01), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste, do Rio.

Acidentes na Zona Oeste

Em 2019, o empresário Artur Vinícius Sales morreu após ser atropelado por um ônibus durante um treino em grupo na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca.

Em 2017, foi a vez do empresário Hélio Crespo ser vitimado próximo à Praia da Reserva.

Em 2016, durante a Olimpíada do Rio, atleta do Kosovo, Qendrim Guri, de 22 anos, foi atropelado em frente ao Supermarket, na Avenida das Américas, na altura do Recreio, dias depois de competir na prova de ciclismo de estrada. Felizmente Qendrim Guri não sofreu ferimentos graves.  

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