Pequenos, funcionais, inteligentes, práticos e agora também super luxuosos. Os recém-apelidados “estúdios” têm dominado os lançamentos imobiliários do Rio de Janeiro. Com a escassez de terrenos, especialmente na Zona Sul e no Centro, as construtoras e incorporadoras precisaram se reinventar e adaptar. Na Zona Sul, cada metro quadrado vale ouro, e agora, se não se retrofitam os prédios, eles são demolidos para dar lugar a novas construções.
Segundo um levantamento recente da Secovi-Rio, houve um crescimento de 35% no número de unidades do tipo estúdio, contabilizados os lançamentos nos últimos dois anos. Em contrapartida, o número de imóveis de quatro quartos lançados no Rio de Janeiro diminuiu quase 40% entre 2021 e 2023.
Esse dado, no entanto, não tem agradado boa parte da elite tradicional carioca. Um grupo de moradores do Leblon vem criticando esses lançamentos, que, na visão deles, trazem má fama ao bairro. “Muquifo chic” foi como uma moradora apelidou o mais novo lançamento imobiliário que ocupará o antigo terreno da Boate Melt, na Rua Rita Ludolf. Além disso, Ipanema e Leblon têm dezenas de outros projetos em fase de construção ou lançamento.
Barata Ribeiro 200
Alguns moradores têm comparado os novos prédios ao “Barata Ribeiro 200”, um dos edifícios mais polêmicos da cidade. Se listarmos as moradias coletivas mais famosas do Rio, como o Balança Mas Não Cai, o antigo Rajah e o Master, certamente o Barata Ribeiro 200 encabeça a lista. O “200tão”, como é popularmente conhecido, foi construído na década de 1950, durante a explosão imobiliária de Copacabana. Morar no bairro era um sonho, e para tornar isso mais acessível, o prédio oferecia quase 500 micro-apartamentos divididos em 11 andares, com 45 quitinetes por pavimento.
Inaugurado em 1954 com um anúncio de página inteira no jornal ‘O Globo’, o prédio prometia um “conjunto arquitetônico moderno, apartamentos bem arejados, indevassáveis, construção de primeira e acabamento esmerado, próximo à praia”. No entanto, pouco tempo depois, o local virou reduto de prostitutas, viciados, traficantes, malandros, proxenetas e decaídos de toda espécie. Quem adquiriu um dos mais de 500 apartamentos no “conjunto arquitetônico moderno” acabou nas páginas policiais. A situação ficou tão crítica que a polícia mantinha uma viatura na calçada em frente ao prédio 24 horas por dia.
Ao longo dos anos, a administração conseguiu mudar a imagem do prédio, inclusive trocando sua numeração para desassociá-lo da antiga má fama.
Vieram pra ficar
Apesar da resistência de parte da elite tradicional, os novos estúdios vieram para ficar e estão cada vez mais sofisticados e inteligentes. Alguns incluem todas as comodidades, como piscina, ofurô e varanda, tudo milimetricamente planejado.
“Se pegarmos as décadas de 80 e 90, o Brasil tinha uma pirâmide demográfica com a base muito larga. As famílias tinham, em média, 5,5 pessoas, ou seja, pai, mãe e 3,5 filhos. Para atender a demanda da sociedade da época, eram necessários apartamentos de 3, 4 quartos. Os quitinetes eram muitas vezes utilizados por pessoas que vinham ao Rio de Janeiro, geralmente em bairros menos valorizados, e acabaram ganhando uma má reputação. Agora, tivemos uma transição demográfica muito rápida no Brasil”, explica Ernesto Luiz, CEO da Lobie, uma startup carioca que investe pesado em imóveis compactos e novos formatos de empreendimentos para expandir o mercado com moradia por assinatura ou locação de diária.
“Hoje, a faixa etária mais populosa está entre 30 e 39 anos. Essa população está casando mais tarde e tendo menos filhos. Atualmente, a família média tem 1,9 pessoas, o que reduz a taxa de reposição. O mercado imobiliário precisa atender a demanda desse novo perfil de sociedade. O Rio de Janeiro ficou 20, 25 anos sem uma legislação que permitisse a oferta de apartamentos de baixa metragem, como estúdios. Com o Código de Obras atual e após a chancela no Plano Diretor, agora podemos oferecer estúdios. Por isso, estamos vendo uma explosão de ofertas e lançamentos para atender essa demanda reprimida há décadas”, destaca Ernesto.