Quase 300 fiéis se reuniram, neste último sábado (20/07), na histórica Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, localizada no Centro do Rio, para uma missa de ação de graças especial. A cerimônia marcou a comemoração da volta de cinco itens sacros que estavam desaparecidos há cerca de 50 anos da capela que foi erguida pelos comerciantes do Centro em 1747.
A devolução dos bens ao templo foi noticiada pelo DIÁRIO DO RIO na última quinta-feira (18/07). Os objetos religiosos do século XIX, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), foram recuperados após uma investigação concluída pela Polícia Federal em outubro de 2023. A investigação teve início quando o provedor da igreja descobriu as peças em um catálogo de leilão da Casa de Leilões Dagmar Saboya e denunciou o fato ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Todas as pratarias originais da igreja têm o brasão da irmandade, que é composto por uma coroa, as iniciais “AM” cercadas por folhas e flores chamadas de açucenas. Além das peças da Igreja dos Mercadores, também foram apreendidas peças da Ordem Terceira do Carmo e da Catedral de Belém do Pará na mesma operação.
Especialistas estranharam especialmente o fato de que as pecas da Ordem Terceira do Carmo – cuja igreja segue caindo aos pedaços na Rua Primeiro de Março há anos – colocadas em leilão por Saboya constam, com foto e descrição, do Cadastro público de Bens Culturais Procurados (BCP) do Iphan no país. Este cadastro é acessível por qualquer um, num site aberto, e teoricamente os antiquários e leiloeiros deveriam buscar os bens que lhes são entregues no sistema, para evitar vender peças de óbvia procedência ruim.
Os itens devolvidos incluem dois tocheiros e três objetos conhecidos como “sacras”, que são utilizados pelo padre para ler as principais orações da antiga Missa Tridentina. Estas peças, feitas de prata e ricamente trabalhadas, foram identificadas em um leilão organizado pela antiquária Dagmar Saboya em Copacabana. Avaliadas em mais de 200 mil reais, essas relíquias possuem um valor cultural inestimável, ostentando o símbolo emblemático da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, o que reforça sua importância histórica.
Durante as décadas de 70 e 80, mais de 150 peças desapareceram da igreja, incluindo imagens, coroas, cálices, cruzes monumentais e outros objetos de prata, além de móveis e até cabeças de anjo serradas da capela, representando um prejuízo estimado em mais de R$ 1,5 milhão. As peças ainda desaparecidas incluem pratas, móveis e imagens religiosas e fazem parte de um acervo fotográfico mantido pela irmandade, que segue buscando mais ítens em leilões de arte e antiquários pelo país. Segundo fontes do DIÁRIO, as autoridades investigam o espólio de um famoso colecionador de arte e autor de livros sobre o assunto, já falecido, como sendo o possível detentor de parte deste acervo.
Na cerimônia de sábado, as peças recuperadas foram solenemente entregues de volta à igreja pelas mãos de autoridades do IPHAN e da Polícia Federal, como a delegada Paula Mary, o Superintendente do IPHAN Paulo Vidal e o Superintendente da Polícia Federal, o delegado Leandro Almada. Os três entraram carregando as peças na procissão de entrada da Missa Solene, que foi celebrada em latim. Os ítens foram recebidos pelo provedor da Irmandade, Dr. Cláudio André de Castro. O evento foi conduzido pelo padre Vítor Pereira, Vice-Chanceler da Eparquia Nossa Senhora do Paraíso, que celebrou a missa especial, marcando um momento de grande emoção e gratidão para a comunidade religiosa, estando a igreja apinhada de fiéis. Mais de 250 pessoas vieram acompanhar a Missa Solene e conhecer de perto as peças no templo que foi totalmente restaurado recentemente e é tombado pelo IPHAN.
Poucas pessoas sabem, mas quando uma igreja é tombada pelo órgão, todas as peças que integram seu acervo fazem parte do mesmo tombamento, não podendo sequer serem vendidas pela igreja, que fica como guardiã das peças. O acervo de um templo tombado pelo Iphan não pode ser mutilado. A igrejinha dos mercadores foi tombada em 1938.