Atualmente, essa região está em alta, devido à modernização e revitalização da zona portuária. Entretanto, essa área da cidade do Rio de Janeiro tem em seu DNA muito da nossa história.
O Cais do Valongo tem uma ligação fortíssima com o período da escravidão no Brasil. Até meados de 1770, os negros escravizados vindos do continente africano desembarcavam na Praia do Peixe (atual Praça XV) e eram negociados na Rua Direita – hoje Rua 1º de Março -, no centro do Rio.
A presença dos negros africanos incomodava a elite, sobretudo portuguesa, que frequentava a região. Por isso, em 1774, uma nova legislação estabeleceu a transferência desse mercado para o Cais do Valongo, por iniciativa do segundo Marquês de Lavradio, Dom Luís de Almeida Portugal Soares de Alarcão d’Eça e Melo Silva Mascarenhas, vice-rei do Brasil.
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Após a chegada da Família Real Portuguesa, junto com a corte, a região do Valongo passou a ser muito frequentada por pessoas que queriam comprar escravos. Isso porque a população do Rio duplicou nesse período. Foi de 15 para 30 mil pessoas.
Mesmo com a proibição do tráfico negreiro, em 1831, o Cais do Valongo continuou sendo um dos principais pontos dessa atrocidade que era a compra e venda de pessoas trazidas à força dos países da África. Nessa época, esse tipo de comércio era feito de forma clandestina.
“Aquela região, mais do que o cais, era um complexo de escravos, que incluía o lazareto, para onde os negros que chegavam doentes iam se curar ou morrer, o Cemitério dos Pretos Novos e os armazéns de engorda e venda dos escravos, que se concentravam na Rua do Valongo, atual Rua Camerino”, diz Tânia Andrade Lima, arqueóloga do Museu Nacional que supervisionou as obras no Porto Maravilha.
Em 1831, por pressão da Inglaterra, o tráfico transatlântico de escravos foi proibido. Com isso, o Cais do Valongo foi fechado. Os traficantes passaram, então, a fazer o desembarque em outros portos menos fiscalizados.
Mais de uma década depois, em 1843, foi feito um aterro de 60 centímetros de espessura sobre o cais do Valongo para a construção de um novo ancoradouro. O motivo foi a chegada da Princesa Teresa Cristina, futura esposa de D. Pedro II. O cais foi rebatizado. Passou a se chamar Cais da Imperatriz.
No ano 1911, durante a reforma urbana realizada pelo prefeito Pereira Passos, o Cais da Imperatriz também foi aterrado.
Em 2011, durante as escavações realizadas como parte das obras de revitalização da zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, foram descobertos os dois ancoradouros: o do Valongo e o da Imperatriz. No mesmo lugar estava uma grande quantidade de amuletos e objetos de culto originários do Congo, de Angola e Moçambique.
“O Cais do Valongo é um lugar simbólico, porque ali está o passado da população afrodescendente do país. Ele não foi encontrado por acaso. Desde 2010, sabíamos da existência de um sítio arqueológico naquele lugar”, conta Tânia Andrade.
Agora, o Cais do Valongo está lá, visível para nos lembrarmos de um período extremamente negativo da história do nosso país e do mundo. Que sirva de exemplo para que não cheguemos nem perto de repetir certos erros. Coisa que muita gente, infelizmente, ainda não aprendeu.