Na reta final dos ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí, tradicionalmente, acontece a lavagem do Sambódromo. Bem pertinho do Carnaval, o ritual é realizado por baianas das escolas de samba que lavam a Avenida com ervas, água de cheiro e água benta. A ideia é abrir os caminhos para os desfiles e trazer sorte e vibrações positivas para as agremiações que, dias depois, estarão promovendo o maior show da Terra naquele mesmo chão onde se pisa e dança.
Baiana há 24 anos, Edna Aguiar começou a desfilar na Vila Isabel e também sai por outras escolas, como Estácio de Sá, Império Serrano e Imperatriz. Ela conta que não consegue se imaginar fora da ala das baianas e nem distante da lavagem do Sambódromo, ritual do qual participa desde 2014.
A baiana Edna Aguiar é diretora da Vila Isabel e comanda a ala das baianinhas, o futuro desta tradição do Carnaval carioca. Foto: Arquivo pessoal
“A lavagem é um evento, uma festa sem comparação. É uma coisa muito linda, muito importante. É emocionante. É ali quando a gente está preparando o terreno, a nossa casa, a casa dos sambistas, dos foliões, para eles passarem com segurança e alegria. Ali, nós fazemos um trabalho espiritual muito forte, muito bom, para deixar o Carnaval passar leve“, afirma
No último dia dos ensaios técnicos, a escola de samba campeã do Carnaval do ano anterior faz o derradeiro teste de luzes e som da Avenida. O ritual da lavagem do Sambódromo acontece antes e conta com a participação não só das baianas, mas também das baterias e de outros componentes das agremiações.
Como é comum no Brasil, e consequentemente no Rio de Janeiro, as crenças se misturam. Em 2013, por exemplo, a lavagem do Sambódromo aconteceu no mesmo dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio. Neste ano teve escultura do santo, que nas religiões de matrizes africanas é Oxóssi, em meio ao ritual com ervas sagradas.
Essa encruzilhada religiosa é muito comum durante a lavagem do Sambódromo. Padres católicos já participaram do evento. Músicas para Nossa Senhora foram cantadas. No ano passado, o ritual foi aberto com a leitura de um texto de Claudio Vieira pedindo benção de Deus.
Baianas de diversas escolas fizeram a tradicional lavagem da Sapucaí – Beth Santos/Prefeitura do Rio
Por conta da pandemia de Covid-19, em 2021 não aconteceram desfiles de escolas de samba na Sapucaí. No ano seguinte, a festa foi retomada no mês de abril e a lavagem do Sambódromo também. Foi um momento cheio de simbolismo e valorização à vida.
“Agradecer a papai do céu e a todos os orixás, é o momento de celebração, estamos celebrando a vida, obrigado a Deus por nos manter vivos e podendo continuar a ajudar manter viva a nossa raiz, vamos fazer o maior espetáculo de todos os tempos”, disse, durante o ritual em 2022, Elmo José dos Santos, diretor de Carnaval da Liesa.
Para o Carnaval deste ano de 2024, a lavagem do Sambódromo está marcada para o próximo sábado, 03/02. Logo depois, Beija-Flor e Vila Isabel fazem seus ensaios técnicos. No domingo, 04, é dia da Viradouro e da atual campeã, Imperatriz, cruzarem a Avenida.
“A minha expectativa para a lavagem e para o Carnaval desse ano é que eu eu quero o Carnaval que todo mundo quer: muita alegria, paz, beleza e boas energias”, finaliza a baiana Edna Aguiar.
A quarta, e última, matéria da série #40 anos de Sambódromo, feita pelo DIÁRIO DO RIO, vai contar as histórias de Machine, o Síndico da Passarela. Na próxima quinta-feira, 01/02, está no ar.