A pandemia trouxe a tônica da reinvenção à vida de muitas pessoas. Cada um a sua maneira e do seu jeito buscou formas para manter a serenidade e o equilíbrio emocional frente a tantos receios e incertezas.
Logo após, o início do isolamento físico, a rede social Instagram teve sua função de live
descoberta por uma maioria que ainda era pouco familiar no manuseio de suas ferramentas.
A música – sempre considerada como um lenitivo que desperta e acarinha emoções diversas – tornou-se ainda mais companheira do dia-a-dia recluso, e seus diversos intérpretes, compositores e instrumentistas entregaram-se aos recursos das redes sociais para fomentarem uma generosa troca envolvendo arte, amor e aliança.
Uma artista da nobre casta dos ícones da MPB, que há 47 anos escreve seu nome nessa
história, foi uma das primeiras – de forma altruísta e nada comercial – a compartilhar seu
canto e carisma em uma produção intimista, diretamente de seu apartamento, em São
Conrado.
No auge de sua beleza madura e visão humanista, Simone Bittencourt de Oliveira, conhecida como Cigarra, título de uma música que lhe foi dedicada no final da década de 70, começou no dia 12 de abril, pontualmente às 18h, uma série de lives semanais, realizadas todos os domingos, já contabilizando mais de 18 ininterruptas.
Simone já tinha declarado ser avessa particularmente ao uso de todas as parafernálias do
mundo tecnológico, e muito recentemente, mas precisamente no ano passado, iniciou sua
maior proximidade com esse universo high tech, investindo na criação padronizada de suas
mídias sociais.
Certamente, como todos mortais, Simone não poderia imaginar que estava sedimentando o
palco que passaria a ocupar, para uma temporada surreal, sem previsão de término, já que
anunciou que enquanto a pandemia perdurasse, ela estaria junto a sua platéia virtual.
Público que já tem como um rito dominical marcar a presença nas lives, que recebem de uma média de 3.500 pessoas ao vivo para assistirem no gargarejo de suas reclusões a um
espetáculo, cujo set list é repleto de novidades e surpresas a cada semana, inclusive contando com a total interação dos seguidores, que já foram conclamados para escolherem juntos as canções que a Cigarra poderia incluir em seu repertório.
Simone traz consigo um time de estrelas que a seguem nessa missão de quarentena, como
Ana Costa, Leila Pinheiro, Webster Santos, Ricardo Leão, entre outros, gerando uma corrente colaboratia, que lhe oferecem as bases gravadas (os famosos BGs), para que ela coloque o timbre de sua voz inconfundível.
Em toda sua trajetória, Simone, sempre demonstrou ser muito exigente e perfeccionista com suas produções, esmeirando-se ao máximo pela excelência, não só sua, mas de toda a equipe.
Nesse novo momento, a Cigarra além de demonstrar que seu talento manteve-se intacto, que continua sendo sublime na escolha de repertório, vem se reinventando em um cenário no qual o showbusiness mundial já vinha demandando outras estratégias. Simone está se entregando de forma muito transparente, manifestando ser gente como a gente, com preocupações com o coletivo, com indignações frente as insensibilidades, com posicionamentos justos em prol do fim das desigualdades, com sentimentos à flor de pele, que lhe permitem demonstrar tanto o choro de angústia e/ou tristezas, quanto o sorriso de esperança. E isso tem fascinado, ainda mais sua legião de fãs já de longa data e, outros que estão se tornando admiradores dessa artista.
Cynthia Calixto é co-gestora do fã clube Simone na Veia e relata que “ há muito tempo
seguimos Simone e encarar esse isolamento em sua companhia tem sido um bálsamo, um
carinho enorme para seu público, fato que nos aproximou ainda mais dela!”
A mesma sensação é compartilhada por Alexandre Gadelha, que está a frente do fã clube As Formiguinhas da Cigarra e ele, ainda, acrescenta que “ as lives de Simone estão nos
proporcionando momentos de muita beleza e ternura e, sem dúvida, alguma, tem tornado
esse momento da pandemia mais ameno e plácido.”
Entre uma música e outra, Simone interage com sua audiência, conta histórias particulares, de seus trabalhos, evoca a todos a aderirem o uso de máscaras, preocupando-se com o coletivo, deixando-se revelar por inteira e ampliando, assim, seu carisma latente.
Simone, mesmo sendo uma das maiores divas do cancioneiro brasileiro, sinaliza com distinção que sabe o que é ser empática, e, em momentos como esse, não titubeou em levar a ferro e fogo a criação de seu amigo Bituca (Milton Nascimento), intitulada, Nos Bailes da Vida, e foi em direção ao povo, oferecendo o seu dom prodigioso, seguindo as premissas do isolamento de corpo e não social, já que as redes estão mantendo as pessoas em conexão e isso tem salvado muita gente.
A música tem atenuado as tensões e permitido um certo aprumo da sanidade de muitas
pessoas… e as lives da Simone são prescrições perfeitas, sem moderação, pois fazem um bem danado à mente, ao coração e alma de todos nós.
Ficamos muito bem acostumados com as lives dominicais da baiana da gema, mais carioca,
que há mais quatro décadas vive no Rio de Janeiro, e não queremos, nem pensar, em uma
possível interrupção desses encontros virtuais.
Andrea Nakane, parabéns pela sensibilidade e profundidade com que abordou as lives de Simone Bittencourt de Oliveira durante os domingos no auge da pandemia. Seu texto captou com maestria a importância desses momentos, que trouxeram alento e esperança em tempos tão difíceis. As palavras ecoaram o sentimento de união e arte que a Simone transmitiu, e sua matéria fez jus à grandiosidade desse gesto. Muito obrigada por registrar e compartilhar essa memória tão significativa.
Realmente Andréa uma matéria linda sobre nossa Cigarra e também sobre o trabalho de Cynthia Calixto e todos Administradores Fã Clube Veia espetacular…
Só elogios pra vc querida Andrea, pela elegância e afeto nas palavras com a nossa Cigarra. Lindo texto! Obrigada. @fcsimonenaveia
Que matéria linda e sensível, Andréa! Combina muito com a bela e grande cantora Simone! Sou muito fã dela, mas esse reconhecimento independe. E você o fez lindamente! Parabéns!???