Nos últimos dias, o Rio de Janeiro vem registrando altas temperaturas. O calor chegou e parece que veio com tudo - mais uma vez. Embora toda a cidade sinta os impactos, algumas regiões são mais afetadas. E essas ficam nos subúrbios.
A maior sensação térmica já registrada no Rio de Janeiro aconteceu em fevereiro deste ano, em Santa Cruz: 55,4 graus. No último dia 02/10, um recorde de alta temperatura na cidade. O bairro de Irajá, às 15h15, chegou a ter 46,3°. Fotos que mostram que está ficando mais calor. Mas o que explica os subúrbios sofrerem mais que outras partes do Rio?
“Um fato é que os subúrbios cariocas sofrem com a redução da cobertura vegetal, seja para construção particular ou até mesmo pública. Um exemplo disso foi o BRT Transcarioca em Ramos. Mas é possível ver outros exemplos como clinicas da família ou naves do conhecimento. As poucas Praças de subúrbios, por vezes, são usadas como reserva técnica de terrenos, trocando a arborização por instrumentos construídos até mesmo para fins eleitorais, cuja manutenção futura é incerta. Em áreas tão degradadas como os subúrbios, não faltam terrenos privados que poderiam ter este fim de uso para saúde e educação, assim como para aumentar o número de praças públicas”, opina o geógrafo Hugo Costa.
Como citado por Hugo Costa, a diminuição do número de árvores é o principal motivo para o aumento de calor nas regiões suburbanas do Rio de Janeiro. Segundo os especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO RIO essa condição se deu e vem aumentando por conta do crescimento pouco planejado dessas áreas.
Apesar disso, a lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro prevê proteger este patrimônio. Art. 235: “As áreas verdes, praças, parques, jardins e unidades de conservação são patrimônio público inalienável, sendo proibida sua concessão ou cessão, bem como qualquer atividade ou empreendimento público ou privado que danifique ou altere suas características originais”.
Soluções para o problema passam por ações do Poder Público e também da sociedade civil. O biólogo Alessandro Magalhães, do projeto Penha Verde, comanda plantio de árvores na Zona Norte da cidade.
“Primeiro temos que melhorar o manejo, voltar ao bom funcionamento da Fundação Parques e Jardins, preparar os profissionais da Comlurb que ficaram responsáveis pelas podas das árvores recentemente. E temos as ações das pessoas, que vêm crescendo e são muito importantes. No Rio de Janeiro, hoje em dia, temos quase 100 grupos organizados para fazer replantio de árvores. Acho que seria importante, também, termos educação ambiental nas escolas. As ruas que têm mais pessoas conscientes do problema tendem a ser ruas com mais árvores“, destaca Alessandro.
De acordo com dados do Instituto Pereira Passos, das 15 áreas com a pior classificação no ranking de áreas verdes, 10 ficam na Zona Norte. Esse índice tão baixo contraria a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Muitas doenças, entre elas respiratórias e ligadas ao estresse, podem resultar desta situação, dizem os especialistas. Pensando, também, nessa questão da saúde, Vitor Almeida, da página Suburbano da Depressão e candidato a vereador da cidade do Rio, pelo PDT, comenta o tema:
“Cresci nos anos 90 ouvindo a Fernanda Abreu cantando Rio 40 graus, mas hoje tenho maior esclarecimento para perguntar: de que Rio era aquele de onde a Fernanda cantava? Da Cidade Maravilhosa ou do Rio mesmo, onde mora mais de 80% da população? O recorde histórico de sensação térmica é em Santa Cruz; em 2019, metade do ano a estação de Irajá teve as máximas da cidade. Quem muito mais sofre com essas temperaturas acima dos 50° não pode frequentar as praias que estampam as notícias sobre o calor. E mais: têm praias perto de casa, mas todas degradadas por falta de projeto de revitalização dos orlas das baías. Um projeto que só quer tudo pra Cidade Maravilhosa e nada pro Rio. As altas temperaturas devem se tornar caso de saúde pública!”