Nosso primeiro parque público urbano foi o Passeio Público, terminado em 1783, no governo do Vice-Rei Luis de Vasconcelos, seu idealizador. Parques públicos vinham sendo criados em cidades da Europa, como o Jardin des Tuileries em Paris e o Passeio Público de Lisboa. Coube ao Mestre Valentim, artista que realizou diversas obras sacras na cidade, a realização do projeto do parque, que veio a ocupar o lugar da Lagoa do Boqueirão aterrada. O Mestre realizou um jardim formal, em estilo francês, em que árvores e arbustos seguem formações geométricas. Decorou-o com as pirâmides e a Fonte dos Jacarés, ou dos Amores, e criou um patamar elevado de onde se descortinava a paisagem marítima.
Tempos depois, já no Segundo Império, o paisagista francês Auguste Glaziou reformou o Passeio Público, adotando o modelo de jardim inglês, com caminhos sinuosos, lagos, pontes e acidentes naturais construídos. É essa a feição que perdura até hoje. Glaziou foi responsável também pelo paisagismo de dois outros parques não menos importantes da cidade: o Campo de Santana, depois Praça da República, e a Quinta da Boa Vista.
É interessante pensar como uma cidade com poucas áreas secas, propícias para edificação, deixou o Campo de Santana vazio. A ocupação urbana colonial pulou a área, indo constituir a Cidade Nova após os seus limites. Isto se deveu à sua função pública como área de exercícios militares, pastagem e acampamentos. O Campo de Santana permaneceu por muito tempo sem tratamento. Chegou a receber uma praça de touros, mas não era um jardim. Isso só foi ocorrer com a implantação do projeto de Glaziou, inaugurado por D. Pedro II em 1880. Ali, o paisagista ampliou o repertório usado no Passeio Público, incluindo monumentos em ferro fundido e a construção de grutas.
Em direção à Zona Norte, encontramos o terceiro parque projetado por Glaziou na Cidade do Rio de Janeiro, a Quinta da Boa Vista, que sedia o Palácio Imperial. O tratamento paisagístico dado ao parque inclui os caminhos sinuosos e grutas, mas também a alameda retilínea no eixo do palácio, ornada por sapucaias. Com esses três parques cessou a criação de parques urbanos na cidade no século XIX.
Já na segunda década do século XX, o urbanista francês Alfred Agache propôs um sistema de parques que, iniciando-se na Quinta da Boa Vista, avançaria em direção à Zona Norte até alcançar o Engenho de Dentro. Infelizmente, tal proposta não foi executada e não se viu mais nenhum parque de grande porte ser criado na Zona Norte até a construção do Parque Madureira em 2012, um parque linear e estreito, em área surgida com a redução da largura da linha de transmissão da Light.
Já na Zona Sul, na década de 1960, viu-se a criação do Parque do Flamengo, sobre área aterrada na praia, com projeto paisagístico de Burle Marx. Mais tarde a Zona Sul, que já contava com o Jardim Botânico, o Parque Lage e o Parque da Cidade, ganharia também parques no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas e na encosta do Morro Dois Irmãos.
Com a expansão da urbanização para a Baixada de Jacarepaguá, foram criados o Bosque da Barra e o Parque Chico Mendes, contemplando a Barra e o Recreio. No entanto, os bairros populares da Zona Oeste e os subúrbios da Zona Norte permaneceram desprovidos de grandes parques urbanos. Há praças e pequenos parques, como o Ary Barroso, ocupado por diversos equipamentos públicos que o desfiguraram. Mas parques generosos, densamente arborizados, não há. A Floresta do Camboatá, em Deodoro, poderia ser uma opção importante, caso o infame projeto de um autódromo sobre a floresta não venha a vingar.
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