Um centro cultural de pesquisa de matriz bantu e de preservação da memória do babalorixá baiano João Alves Torres Filho, o Joãozinho da Gomeia, deve ser tombado até o fim deste mês. Este é o objetivo da Comissão de Preservação e Tombamento da Memória Gomeia, formada por religiosos e descendentes espirituais do sacerdote, que morreu em 19 de março de 1971 e comandou o Terreiro da Gomeia, no bairro Jacatirão, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, desde 1948.
O processo deve ser concluído ainda este mês. Após a conclusão do estudo técnico pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o relatório seguiu para a Secretaria Estadual da Casa Civil e Desenvolvimento Econômico, de onde será encaminhado para a assinatura do governador em exercício, Cláudio Castro. Depois, a Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa determina o tombamento provisório.
Após confirmado o tombamento, a Comissão quer buscar parcerias para começar as intervenções no terreno. Segundo a comissão, o templo religioso está seis metros abaixo do terreno. A Secretaria da Casa Civil disse que o estudo será analisado pelo governo.
“Os planos após o tombamento são esses. Fazer as escavações, porque eu me preocupei em preservar o terreiro, que está a 6 metros de profundidade, e correr atrás de capital para que comece as obras”, explicou afirma Mameto Seci Caxi, herdeira espiritual de Joãozinho da Gomeia, e presidente da Associação dos Descendentes da Ndanji Gomeia (Adengo).
Ela ressaltou que o tombamento é muito importante, pois ele resguarda o espaço de fazer outro tipo de construção no local, dessa forma, preservando a memória do povo negro e de Joãozinho da Gomeia. Ela reforçou também a importância da Comissão Gomeia, afirmando que eles não deixaram que ela desistisse, apoiando o tempo todo.
No último dia 30, o Ministério Público Federal (MPF) realizou reunião com a secretária de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Danielle Barros, e representantes da Comissão Gomeia, para acompanhar o andamento do processo de tombamento. O Procurador da República Julio José Araujo Junior ressaltou que o MPF espera que o tombamento se concretize este ano.
Em junho deste ano, o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, anunciou a construção de uma creche no local. Diante do anúncio, o Ministério Público Federal (MPF) pediu explicações ao prefeito e às secretarias municipais de educação e cultura. No dia 18 de julho, foi realizado um ato em defesa do Terreiro da Gomeia. Uma semana depois, a prefeitura desistiu de construir a creche no espaço.
O professor Marroni Alves (PT), candidato a vereador de Duque de Caxias, ressaltou que a prefeitura abordou um problema importante, já que há a necessidade das creches, porém criticou a escolha do local.
“Nós da EducAfro entramos nessa lua após a prefeitura projetar a construção de uma creche naquele espaço, ou seja, pegando uma pauta tão importante como a falta de creches, mas logo naquele espaço sagrado, histórico… em uma cidade que tem tantos terrenos baldios abandonados e improdutivos que podem se tornar creches.”
Ainda segundo Marroni, o objetivo é que ali seja feito o Memorial AfroBrasileiro Joãozinho da Gomeia, com exposição de adereços, roupas, vídeos, músicas, entre outros, visando deixar o espaço aberto para a população conhecer. Além disso, ele cita também o desejo de o espaço oferecer cursos de cultura, artesanato, espaço para apresentações culturais, entre outros.