Construída em 1742, no alto de um morro na região, no Centro do Rio, a Igreja de Nossa Senhora da Saúde foi e continua sendo testemunha ocular das mudanças urbanísticas da cidade do Rio de Janeiro, sobretudo na Região Central.
“No final do século XVIII, a atual região da Saúde era conhecida como Valongo (ou Valonguinho). A futura área portuária do Rio de Janeiro consistia-se então em uma estreita faixa de terra espremida entre a baía de Guanabara e uma série de pequenos morros, que praticamente isolavam aquela região do núcleo urbano. O afastamento fez com que aquela área fosse pouco habitada até o século XIX. Naquela região, de topografia acidentada e litoral recortado, foram construídas diversas chácaras, muitas das quais possuíam suas capelas particulares. As capelas eram construídas devido ao fato daquelas propriedades ficarem afastadas das igrejas matrizes do núcleo urbano”, informa o jornalista e pesquisador Leonardo Ladeira.
Foi Manoel da Costa Negreiros quem construiu a Capela. Manoel era um traficante de escravos. Depois, o local teve outros donos, como as famílias Leite (proprietária de trapiches) e a Rodrigues Ferreira.
Foi em meados do século XIX que a região, que era quase inteiramente residencial, começou ver crescer trapiches e armazéns onde antes existiam chácaras. Logo virou uma área movimentada, dada às práticas portuárias.
Toda essa movimentação que uma área de porto tinha, mudou completamente a configuração do lugar. Antes pacato, passou a ser um dos centros urbanos do Rio.
Em 1898, foi fundada a Irmandade de Nossa Senhora da Saúde. A Igreja deixa de ser propriedade particular, sofrendo obras de ampliação e passando a abrigar uma grande quantidade de portugueses, que haviam se estabelecido naquela região.
Isso impactou em transformações no próprio prédio, que teve tribunas abertas e a construção de uma segunda sacristia.
“No início do século XX, a igrejinha testemunha as transformações pelas quais passa aquela área. Os ancoradouros da Saúde e da Gamboa já não conseguiam atender ao crescente fluxo de mercadorias, assim como as condições de armazenagem oferecidas pelos trapiches eram bastante precárias. No governo Rodrigues Alves, teve início a construção do novo porto do Rio de Janeiro, obra inaugurada em março de 1908. Ao longo do porto surgiria a Rua do Cais, depois chamada de Avenida Rodrigues Alves”, conta Ladeira.
Por muito tempo, o padre Arnaldo Leopoldo Sulzbach, vigário paroquial da Igreja da Sagrada Família, lutou pela restauração da Igreja de Nossa Senhora da Saúde.
O sonho do padre Arnaldo em ver a Igreja recuperada se tornou realidade em dezembro de 2003, quando o templo passou por completas obras de restauração, que abrangeram toda a parte civil e artística.
Mais recentemente, com as obras na Região Portuária e todas as mudanças pelas quais a área passou, a Igreja seguiu ali, acompanhando tudo mudar, bem de perto.
A região cresceu, voltou a ter algum caráter residencial e ao mesmo tempo viu surgir uma série de empresas e outros equipamentos públicos e privados, sempre perto da Igreja que viu tudo se transformar.
A história da igrejinha da Saúde mais uma vez se transforma. Afastada do mar, que a essa altura já está longe por conta dos inúmeros aterros na região, ela agora está cercada de edificações altas, novas, inclusive o AquaRio. Mas continua lá, na dela, vendo a cidade que não para de crescer e mudar.