O que é a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro em 2013?

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Este texto é de 2011

JMJ-Rio-2013Sou, como muitos brasileiros, um católico não praticante, ou seja, quando perguntam a religião falo que sou “Católico Apostólico Romano” mas ir à Igreja, são outros mil. Até gostaria de ir mais, mas sempre deixo para a semana que vem. Então para saber mais sobre a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro que acontece em 2013 tive de perguntar a um amigo, o Rafael Cresci, que sabe muito sobre o que acontece na Igreja Católica aqui do Rio.

A Jornada Mundial da Juventude, ou JMJ, é um encontro com periodicidade entre 2 e 3 anos encabeçado pelo Pontifício Conselho para os Leigos, organismo da Santa Sé (o governo central da Igreja). Ela acontece nessa periodicidade em uma cidade-sede; e anualmente em todas as dioceses ela é celebrada sempre no Domingo de Ramos.  A JMJ pretende a reunir jovens do mundo inteiro para uma partilha de experiências entre suas diferentes culturas, mostrando como o Catolicismo é vivenciado em cada uma delas, e dando dicas e pistas que os jovens de outras culturas podem aplicar na sua própria vivência. Assim, mantém-se viva a chama da fé, e se “dá um gás” à vida espiritual e à missão do jovem no mundo. A JMJ é como uma “recarga das baterias” para depois o jovem voltar para casa com o ímpeto missionário de professar a sua fé no seu dia-a-dia.

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O Rio de Janeiro já vinha se candidatando há anos para ser sede do evento. O método é parecido com o da escolha da Copa ou Olimpíadas (as dioceses submetem suas candidaturas, com relatórios de capacidades e infraestrutura), com a diferença de que normalmente não há intromissão governamental, e a decisão em última instância é do Papa. A de Roma, por exemplo no ano 2000 foi escolhida para coincidir com o Ano Santo Jubilar; a de Madrid em 2011 foi escolhida por ser na Europa onde o laicismo e o ateísmo estão em alta.

O evento é organizado pela diocese escolhida (uma diocese é uma divisão geográfica eclesiástica, que pode se confundir civilmente com uma única ou com um conjunto de cidades, não necessariamente sendo um Estado ou uma macro-região civil. No caso, na nossa cidade é a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, comandada pelo Arcebispo Dom Orani João Tempesta, mas há no Estado as dioceses do Rio de Janeiro, Niterói, Campos, Nova Friburgo, Petrópolis, Itaguaí, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Valença, Barra do Piraí-Volta Redonda ). Esta em geral cria uma fundação sem fins lucrativos (ou contrata os serviços de uma) para gerir o evento. Em Madrid, por exemplo, a Arquidiocese de Madrid criou uma fundação, cujo presidente é o Cardeal-Arcebispo, e cujo financiamento foi totalmente através de doadores privados (bancos, agências de turismo, etc). O governo só teve de arcar diretamente com as despesas de segurança e limpeza como em qualquer grande evento.  O evento é auto-sustentável e em geral não precisa de grandes obras públicas a serem feitas como a Copa ou as Olimpíadas.

Entretanto há alguns gastos indiretos, por exemplo, a atenção governamental tem de ser voltada também para o mobiliário urbano, banheiros públicos e o sistema de transporte público. Os peregrinos NÃO vão usar táxi ou alugar carros, a ideia do evento é o “mochilão” (afinal jovem raramente tem dinheiro), e a exploração da cidade à pé, com o auxílio de voluntários espalhados por toda a cidade. Vão usar se quiserem, mas a experiência diz que a maior parte usa metrô trem e ônibus mesmo, porque sua inscrição dá direito a uso ilimitado do transporte público da cidade durante todo o tempo do evento. Também é necessário remanejar o calendário escolar das escolas públicas, pois não poderá haver aulas durante a semana do evento.

Também é esperado do governo federal que se dê isenção da taxa de visto para o Brasil e se facilite o processo, para aqueles que vierem como peregrinos registrados, mesmo os de países como os EUA (a partir da Lei da Reciprocidade, turistas americanos precisam de visto para entrar no Brasil como os brasileiros precisam entrar nos EUA). Também é esperado da Infraero libere mais slots para voos internacionais chegando no Rio (e que isente da ou reduza a taxa de embarque).  Além que deem isenção e/ou benefício fiscal aos patrocinadores e doadores do evento.

Na JMJ 2013, a cidade poderá usar o evento como um pequeno teste do sistema para ver se ele aguenta o tranco, para 2014 e 2016. Afinal, são esperadas centenas de milhares de turistas, além de milhões de pessoas na missa com o Papa, o Brasil ainda é o maior país católico do mundo. De acordo com Cresci é difícil dar uma estimativa de inscritos, na JMJ na América do Norte, Europa ou como foi na Austrália, dá em média entre 400 mil a 1 milhão de peregrinos inscritos, e as missas com o Papa, sobem a 1-5 milhões de pessoas (havia entre 5 e 6 milhões de pessoas em Manila, nas Filipinas). No Brasil, esses números (ao menos o de inscritos) facilmente dobrariam ou mesmo triplicariam.

O Rio de Janeiro também teria o retorno do gasto dos turistas, apesar de não ser esperado que a indústria hoteleira vá lucrar muito com ele, talvez as pensões. Também tem o aspecto espiritual do retorno, ele irá dar um gás na juventude da cidade e das dioceses vizinhas que irão receber estes peregrinos e dividir suas experiências. Ainda por cima, a maioria dos jovens brasileiros não têm apesar de querer a oportunidade de participar de uma JMJ devido aos custos e medos de uma viagem internacional, então sendo local, eles terão a oportunidade única de participar de um evento a mundial e de caráter universal.

Como falei acima, a hotelaria não será o foco principal dos gastos, como o espírito é de mochilão a maioria fica em alojamento coletivo em ginásios, salões paroquiais, escolas e outros equipamentos públicos ou da Igreja, ou em casas de família. Em geral os que se inscrevem em grupo são colocados no mesmo local à medida do possível, e há salas/áreas separadas para meninas e meninos e vigilância estrita. A tolerância para quebra de regras, sexo, uso de drogas ou abuso de álcool é zero (o evento é católico, não o Woodstock). Os peregrinos são obrigados a trazer seus próprios sacos de dormir ou colchonetes e devem dormir nestes mesmos sacos de dormir na noite da Vigília. Os locais onde dormem são fechados durante o dia (não podem ser usados por ninguém) e só abrem à noite para dormir mesmo. A segurança destes locais em geral é feita por adultos responsáveis voluntários e, no caso de escolas públicas, usualmente a direção coloca um servente de plantão à noite.

Os peregrinos, quando fazem a inscrição, escolhem entre 6 pacotes, que são ou a semana inteira ou só o fim de semana (sex-sáb-dom), e se tem alimentação e hospedagem ou não. Os que optam por hospedagem e/ou alimentação próprias, pagam menos; os que querem tudo, pagam mais; os que vão só aos eventos públicos abertos, não pagam nada. O valor total varia conforme o pacote e o país de origem do peregrino (dividido em 3 zonas; os peregrinos de países mais desenvolvidos pagam mais caro e assim bancam os de países mais pobres). A inscrição paga dá direito ao uso livre e ilimitado do transporte público durante o período selecionado (a semana inteira, ou só o fim-de-semana), incluindo metrô, ônibus e trem. Este ano em Madrid, os pacotes variaram entre 30 Euros (o mais barato, para os países mais pobres, somente fim de semana, sem comida e sem hospedagem) e 210 Euros (semana completa, com ambos os “opcionais” de comida e hospedagem, para os países mais ricos). Este valor é recolhido e gerenciado exclusivamente pela instituição organizadora do evento.

A comida é algo interessante: em Toronto em 2002, os peregrinos foram servidos exclusivamente pelo catering da multinacional Sodexho, em pontos distribuídos e marcados pela cidade, onde os líderes de cada grupo iam buscar, a cada refeição, a comida para todo o seu grupo (macarrão e sopa instantâneas, carne seca no palito, salgadinhos, enfim, comida pronta que não precise de preparação ou só precise de água quente, sem elaboração). Já este ano, a organização do evento foi mais inteligente e ecologicamente consciente com o tal do desenvolvimento sustentável, e fez um convênio com mais de mil restaurantes pela cidade, onde os peregrinos apresentarão seus vouchers e comerão “de graça” nestes restaurantes; e no sábado receberão uma cesta de piquenique com a comida para todo o final de semana de uma vez só. Assim, ao invés de ir para uma grande empresa, a renda será distribuída entre os restaurantes da cidade, que participarão do “bolo”, mas em troca terão de oferecer refeições a preços “palatáveis” (afinal, 160-210 Euros tem de dar para comer café da manhã, almoço e janta por 6 dias, mais o transporte público ilimitado pelos mesmos 6 dias, mais o fretamento dos ônibus para o dia da chegada, mais os gastos com material para os alojamentos, mais os gastos para com o evento). Para um país mergulhado em profunda crise econômica, este aquecimento na economia local de Madrid é muito bem-vindo, e os comerciantes que deviam estar desesperados, devem estar suspirando de alívio…

Há também os peregrinos não-inscritos (estes que virão “só por causa da visita do Papa”, e estes também gerarão um retorno adicional para a indústria hoteleira e para o setor de serviços e restaurantes).

Para finalizar, a Jornada Mundial da Juventude se dá em duas semanas, começando na segunda ou terceira semana de Agosto, que é a época de férias escolares de verão da maior parte do mundo. No Rio deve ser na mesma época, porque no começo de agosto é muito mais frio.

A primeira semana é “opcional”, e trata-se de uma semana dos “Dias nas Dioceses”. Nesta semana são realizados em geral trabalhos sociais com os necessitados da região, ou missões de evangelização, ou ainda retiros espirituais. Obviamente, também são realizadas visitas turísticas. Nesta primeira semana, o peregrino está por si só, e tem de procurar hospedagem própria a não ser que a diocese que os receba providencie abrigo e comida.

Na segunda-feira da segunda semana, inicia-se o processo de acreditação. Os inscritos são buscados nos aeroportos e rodoviárias da cidade-sede por equipes de voluntários (frotas de ônibus são em geral alugadas para isso), e são levados à um local (normalmente à base de operações da JMJ, num local fechado amplo como um centro de congressos) para receberem sua acreditação, crachá/passe para o transporte público, e a tradicional mochila, que contém o mapa da cidade, o guia de eventos, um terço, uma badana e alguns outros brindes (este ano foi uma cópia de um dos Evangelhos, e um resumo do Catecismo para a Juventude, o YouCat).

De posse do seu crachá, eles então estão livres para procurar o transporte público e dirigir-se ao local designado onde poderão dormir. O processo oficial é de chegada na terça-feira durante todo o dia, visto que algumas pessoas viajam mais de 24h e viajar no domingo nem sempre é mais barato. Na terça-feira pela noite há a missa de abertura do evento. Nesta missa não há lugares marcados.

Na quarta-feira, pela manhã, os peregrinos registrados se encaminham para uma igreja também pré-alocada, e esta alocação é feita por grupos linguísticos, e lá rezam, assistem uma sessão de catequese de meia hora com algum bispo católico, depois têm espaço para perguntas ao bispo, interação, e terminam com a missa. O resto da tarde e noite costuma ser livre. Por livre, entenda-se a disponibilidade de eventos culturais (GRATUITOS para os peregrinos) por toda a cidade, com a apresentação destes mesmos jovens (por exemplo, em Madrid há um espaço “palco Brasil” onde artistas católicos brasileiros se apresentam, ou bandas católicas amadoras e profissionais tocam e fazem apresentação de teatro; há concertos, exibições teatrais, exposições, enfim, de tudo). Em Madrid foram cerca de 3600 eventos agendados de diferentes países, línguas e culturas.

Na quinta-feira o cronograma é bem parecido, mas há na parte da tarde-noite uma cerimônia oficial para recepção do Papa (é o dia em que ele chega na cidade) que não é fechada, mas em geral é focada somente nos peregrinos e é quando os jovens são convidados à oração e aos sacramentos, e se dispõe de forma oficial (apesar de eles estarem disponíveis desde a terça-feira) um local para confissão e para adoração ao Santíssimo Sacramento.

Na sexta-feira acontecem as últimas catequeses e eventos culturais oficiais. Ao cair da noite, os jovens participam com o Papa de uma Via Crucis (Via Sacra) pelas ruas da cidade. Na tarde da sexta-feira em geral a programação do Papa é voltada a um encontro fechado e pré-acreditado com religiosas (freiras) e outro com intelectuais (professores universitários, artistas).

Pelo sábado, de manhã, o Papa se encontra também pré-acreditadamente com o clero e seminaristas, em geral celebrando a missa com eles. Os peregrinos passam o dia a “migrar” lentamente para o local da Vigília (que deve ser um campo aberto com total visão para o palco, provavelmente o Aterro do Flamengo), e os peregrinos são divididos em grupos/setores “coloridos”. O critério dos setores mais perto do palco é justamente o de quem fez e fechou a inscrição mas cedo; quem se inscreveu por último fica mais afastado. O povo que não está inscrito e que virá para a missa da manhã do domingo, ficará localizado após o último grupo de inscritos. A partir do começo do fim da tarde, o palco começa a ser animado com cantos, músicas, orações, preparando para a Vigília em si. Antes de partir para o local da Vigília, o Papa costuma visitar uma obra social ou instituição do tipo. Depois, ele se dirige ao local da Vigília e lá participa com os jovens, até umas 23h quando então se recolhe. Os jovens esta noite dormem obrigatoriamente acampados no local da vigília, com segurança reforçada, pois a JMJ não é Woodstock.

No domingo de manhã, o Papa vai celebrar a missa no local da Vigília, anuncia o local da próxima JMJ, e envia os jovens em missão de volta a seus países. À tarde, o Papa visita o QG da organização e abençôa a mesma e os Voluntários do evento, batendo um rápido papo com eles, e depois vai para o Aeroporto, onde participa de uma cerimônia com autoridades e parte de volta à Roma. Aos peregrinos é permitida a última pernoite nos locais onde foram alocados a dormir, e na segunda-feira todo mundo começa a voltar pra casa (ou no domingo mesmo, depois da missa) ou viram turistas “normais”.

Este PDF da organização da JMJ de Madrid também ajuda a quem quer saber mais sobre como é o evento. E os números do evento podem ser visto abaixo ou neste artigo.

 

  • 100.000.000 (cem milhões) de euros deverão ser arrecadados pela JMJ para a Espanha.
  • 10.000.000 (10 mil) metros de fio foram usados para preparar os telões para as massas.
  • 1.200.000 Visualizações do canal de vídeos da JMJ no YouTube.
  • 1.000.000 (1 milhão) de  jovens participarão dessa festa.
  • 30.000 voluntários foram inscritos para ajudar na organização, muitos deles estrangeiros.
  • 15.000 Cartões do “Clube dos Avós”, que incentivam e colaboram com a organização.
  • 14.000 sacerdotes concelebrarão a Santa Missa com o Papa.
  • 2.000 jovens de países com poucos recursos participarão do Dia Mundial da Juventude, graças ao Fundo de Solidariedade.
  • 5.000 jornalistas de todo o mundo foram credenciados para cobrir o evento.
  • 4.000 jovens com deficiência participarão da JMJ.
  • 800 Bispos de todo o mundo estarão presentes, muitos deles nas sessões de catequese para os jovens.
  • 300 pessoas formam o Coro e Orquestra da JMJ.
  • 300 rotas culturais espalhadss pela cidade de Madri. Serão concertos, exposições, apresentações teatrais…
  • 200 confessionários em forma de um barco a vela celebrarão a Festa do Perdão no Parque do Retiro.
  • Os peregrinos são de 190 países.
  • 150 equipes de voluntários cuidarão da saúde dos peregrinos. O material é doado pela Cofares.
  • 120 sacos de farinha de 25 kg cada foram doados para as Missas da JMJ.
  • 100 % Natural. 5 projetos para compensar o impacto do CO2 gerado durante a JMJ.
  • 79 horas de permanência de Bento XVI na JMJ em Madri.
  • 68 estandes de várias instituições religiosas estarão à disposição dos peregrinos para a feira vocacional no parque do Retiro.
  • 50 diferentes mídias e agências de publicidade para divulgar e colaborar com spots de rádio para o DMJ.
  • O equivalente a 48 estádios é o espaço preparado em Quatro Ventos para os jovens da JMJ.
  • 26 vezes se comemorou o Dia Mundial da Juventude.
  • 24 viadutos estarão decorados nos locais por onde vai passar o papamóvel.
  • 21 idiomas nos quais você pode verificar as informações no perfil oficial da JMJ no Facebook.
  • 17 Tendas de Adoração Eucarística no aeródromo de Cuatro Ventos.
  • 15 Talhas da Semana Santa espanhola, vindas de diferentes regiões da Espanha, vão ser utulizadas para  presidir a Via-Crucis no Paseo de Recoletos.
  • 12 jovens terão um almoço com o Papa.
  • 12 Há imagens da Virgem Maria vindas de vários países para a reza do terço.
  • 8 toneladas de frutas vão ser doadas pela Associação de Atacadista de Frutas do Mercado Central de Madri.
  • 7 cinemas de arte da rua Fuencarral projetarão filmes no dia 17 de agosto durante toda a tarde.
  • 7 toneladas de terços para os peregrinos feitos em uma fábrica no Equador, que emprega 150 famílias.
  • 5 continentes representados na JMJ.
  • 2 vezes  a JMJ foi realizada na Espanha. A primeira foi em Santiago de Compostela em 1989.
  • 0 euro é o custo para o contribuinte espanhol.

 

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