Enquanto a presidente Dilma Rousseff (PT) vem tentando ao menos dar uma cara de moralidade no Governo Federal, aqui no Rio é o “pouco me importo”. Mas também, por que se importaria? Na ALERJ não há oposição e a imprensa só faz denúncias pontuais, quando a situação chega a um ponto impossível. Com exceção da paulista, como no artigo abaixo de Fernando de Barros e Silva na Folha de São Paulo:
César de ponta-cabeça
O governo de Sérgio Cabral acaba de firmar oito contratos emergenciais, com dispensa de licitação, com a empreiteira Delta, do empresário Fernando Cavendish, seu grande amigo.
São contratos que totalizam R$ 37,6 milhões e vêm se somar aos R$ 58,7 milhões que a Delta já recebeu sem licitação do governo fluminense somente neste ano.
Foi um acidente aéreo no litoral baiano, há dois meses, que jogou luz sobre as relações quentes do governador. Ele e o empresário viajaram juntos no jatinho emprestado por Eike Batista. Iam comemorar o aniversário de Cavendish e aguardavam o helicóptero que caiu, matando a namorada do filho de Cabral e familiares do empreiteiro.
Cabral e Cavendish já haviam usado o jatinho do mesmo Eike para ir às Bahamas, a passeio. Ambos têm casa de férias no mesmo condomínio de endinheirados em Mangaratiba, litoral sul do Rio.
Essa bonita relação de amizade não foi suficiente para constranger negócios com o Estado, que devem se pautar pela impessoalidade. Pelo contrário, tudo parece pertencer a uma mesma festa. A Delta abocanhou mais de R$ 1,3 bi em contratos na gestão Cabral, dos quais R$ 214 milhões são "emergenciais".
O dinheiro aprovado nesta semana, por exemplo, se destina a reparar danos provocados pelas chuvas de janeiro de… 2010 – um caso de "emergência retroativa". A Delta vai receber 40% dos R$ 96,3 milhões reservados às obras.
O que chama a atenção nessa história toda é a sem-cerimônia com que a promiscuidade se apresenta. Tudo é muito didático e ostensivamente escancarado. Como se o governador estivesse empenhado não mais em agredir a inteligência do contribuinte – já passamos desse ponto -, mas em testar os limites da sua impunidade e o grau de omissão das instituições do Estado.
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No Brasil, as coisas funcionam de ponta-cabeça. Não é que invertemos a máxima da mulher de César?