Os casos de ataques a jornalistas cresceram expressivamente desde que o presidente Jair Bolsonaro chegou ao poder.
O Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa, divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), diz que Bolsonaro foi responsável, sozinho, por 121 casos de agressão a veículos de imprensa ou jornalistas em 2019.
A maioria dos ataques ocorreram durante entrevistas e declarações oficiais da Presidência da República, como foi o caso do episódio onde o presidente mandou repórteres calarem a boca, quando foi questionado sobre mudanças na Polícia Federal.
Bolsonaro deveria aprender a respeitar um jornalismo que já derrubou um presidente americano usando apenas as canetas de dois repórteres do “Washington Post”, no caso Watergate, em 1974.
Eu sou do tempo do ombudsman. O ombusdsman era um jornalista que criticava os próprios jornalistas e os veículos de imprensa – com mais educação que o presidente Jair Bolsonaro, claro.
Era o jornalista que era pago para defender o leitor.
Hoje o ombudsman é uma palavra em desuso. Caiu no esquecimento como jornal de papel, rotativa, calandra, linotipo, clichê, lauda, flan, fotolito, telex, carbono e máquina de escrever; palavras que soam mais como pré-história.
Alberto Dines foi o primeiro ombudsman brasileiro. Criou a função, na “Folha de São Paulo”, em julho de 1975, com a coluna “Jornal dos Jornais” – que durou 114 edições, até setembro de 1977 – antes da função existir. A Folha só instituiu a função em 1989, motivada pelo sucesso das experiências do “Washington Post” e do espanhol “El País”.
Dines foi um dos maiores jornalistas brasileiros. Viveu 65 anos dos seus 86 anos de vida focado na imprensa. Criou um novo padrão de jornalismo no comando do “Jornal do Brasil”; ganhou diversos prêmios de jornalismo, entre eles o Maria Moors Cabot, da universidade de Columbia; Prêmio Jabuti; Prêmio Vladimir Herzog; Prêmio Abraji; entre outros.
Teve uma carreira extraordinária no jornalismo. Passou pelas revistas “Cena Muda”, “Visão” e “Manchete”. Em 1959, assumiu a direção do segundo caderno do jornal “Ùltima Hora”; colaborou para o jornal “Tribuna da Imprensa”; dirigiu o “Diário da Noite”, dos “Diários Associados”; foi editor-chefe do “Jornal do Brasil”, no qual permaneceu por 12 anos. Em 1975, passou pela “Folha de São Paulo”.
Foi o primeiro jornalista a denunciar as ameaças que levaram Vladimir Herzog à morte sob tortura no DOI-CODI, e a perseguição a Zuzu Angel, que buscava o corpo do filho, Stuart Angel, morto em 1971, no Centro de Informações da Aeronáutica, no Galeão.
Foi pioneiro ao criar o site “Observatório da Imprensa”. Em 1996, lança a versão eletrônica do “Observatório da Imprensa” que conta atualmente com versões no rádio e na TV.
Em 1980, passou a colaborar com o semanário “O Pasquim”. Entre 1988 e 1995 se mudou para Portugal onde assumiu o cargo de secretário editorial do Grupo Abril, onde lançou a revista “Exame”.
Escreveu mais de 15 livros, entre eles “Morte no Paraíso – a tragédia de Stefan Zweig”; “Vínculo do Fogo” e “Tomo I”, entre outros. O livro sobre Stefan Zweig foi adaptado para o cinema por Sylvio Back em 2002 no filme Lost Zweig. Alberto Dines também fala sobre Stefan Zweig no documentário do mesmo diretor.
Dines morreu em São Paulo, em 22 de maio de 2018, aos 86 anos.