Eu não me reconheço mais,
Olhando no espelho,
Esses pelos que não estavam aí.
Eu não estava nem aí,
enquanto ouvia Deep Purple,
Led Zeppelin, Black Sabbath e
Janis Joplin.
Os herois que morreram de overdose
assustavam a família tradicional,
eu não me reconheço mais.
Quando os filhos dos pais
Tradicionais do pós guerra
Passaram a votar em
Bolsonaro, em Trump?
Ninguém viu, nem ouviu reclamar,
Quando Hitler parou de fumar?
Quando Malcolm X cruzou os braços?
Quando Trotsky atracou no Golfo do México?
Alguém sobreviveu ao holocausto,
houve Vietnã ou era apenas Fanta Laranja?
Eu não me reconheço mais,
eu costumava ser rebelde, mamãe.
Deus nem nos reconhece mais,
Motoqueiros rebocando trailers de família.
E votando e discriminando e sendo
Rebeldes contra quem é rebelde e
Tirando porte de armas.
Hoje minha guitarra descordada só desafina.
Holy Hendrix, holy God…
O que aconteceu com as atiradeiras,
o que aconteceu com os pompos
que costumavamos atirar,
Só nos resta lhes alimentar
Com bolinhas de isopor?
Quando Deus deixou de nos reconhecer
e passar a ser impresso nas bíblias
de charlatões que discursam
na televisão?
Quando foi o dia e hora que o amor
morreu, em qual Tabelião foi isso
registrado, há certidão?
Quando que clandestinamente a
Harley Davidson passou a marchar
com Deus para a Família e a Sociedade?
O que fizemos de errado?
Quem nos colocou essa bola de aço
em nossos pés, quem abateu a
Águia careca?
A pedra que atiramos acertou a cruz de quem,
Meu deus, foi na Geni, foi em Maria Madalena,
Na minha mãe?
Quem matou o rock n roll?
Eu nem me reconheço mais,
Deus nem nos reconhece mais.
Iggy Pop, somos todos passageiros cantando
Cha-lá-lá-lá lá-lá-lá rumo ao Golfo Pérsico
ou ao Vietnã.
Deus não nos reconhece mais.