Gens Cariocas: Os Monteiro de Carvalho

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Gens Carioca feita por Giancarlo Zeni* comenta sobre a genealogia de algumas das famílias mais importantes ou conhecidas do Rio. Giancarlo Zeni, matogrossense naturalizado carioca, é advogado e genealogista. E-mail para contato (inclusive pesquisas): gwmzeni@gmail.com


Astrid Monteiro de CarvalhoAstrid, Lilibeth, Baby, Evinha, Olavo… nomes que frequentam as colunas sociais cariocas e os noticiários de economia quase diariamente. Um dos mais poderosos clãs cariocas, dono de um fortuna de aproximadamente 1 bilhão de reais, que tem origem bem calcada no Estado vizinho.

 

O nome chegou ao Rio na década de 1910 com Alberto Monteiro de Carvalho e Silva, nascido em Campinas em 30 de maio de 1887. O pai de ALBERTO, Joaquim Monteiro de Carvalho e Silva, era grande cafeicultor no norte do Paraná e no Estado de São Paulo; Alberto residia em Santos, onde comerciava na bolsa de café a produção familiar, além de trabalhar na Companhia Construtora de Santos. Em 1919 juntou-se ao amigo de infância Olavo Egydio de Souza Aranha (tio de Olavo Setúbal, fundador do Banco Itaú) para fundar o Grupo Monteiro Aranha, firma de engenharia convertida, hoje, em empresa de investimentos. A capital federal era escolha óbvia para uma companhia de construção; apaixonaram-se por Santa Teresa e foram viver no casarão que até hoje pertence à família.

 

ALBERTO era filho de JOAQUIM com Maria Belém da Silva Bueno, nascida na cidade de Castro, Paraná, filha do desembargador Vicente Ferreira da Silva Bueno, paulistano, e de sua sobrinha Maria Rosa da Silva Bueno, de Atibaia. MARIA BELÉM descendia de várias famílias fundadoras de São Paulo, e curiosamente de dois lados de uma guerra que dividiu São Paulo durante um século e meio: a sangrenta rivalidade entre os Pires e os Camargo.

 

PIRES E CAMARGO

Cacique TibiriçáA família PIRES começou no Brasil com o Capitão Salvador Pires, casado primeiro com Maria Rodrigues e, após enviuvar desta, com Messia Fernandes, a Messia-ussú, bisneta do Cacique Piquerobi, chefe indígena na época da fundação de São Paulo. A família CAMARGO, por seu turno, tinha como tronco Jusepe de Camargo, sevilhano chegado ao Brasil muito depois de SALVADOR, casado com Leonor Domingues, bisneta do Cacique Tibiriçá – irmão de PIQUEROBI.

 

O conflito teve início em 1640 quando tendo se levantado uma disputa entre Fernando de Camargo, o "Tigre", e Pedro Taques, chefe do partido dos PIRES, ambos desembainharam as espadas e adagas no largo da matriz da vila de São Paulo (hoje Largo da Sé) e se travou terrível combate, em que tomaram parte numerosos membros de um e outro partido, se ofendendo e lutando todos entre si.

 

Travado o combate na porta da igreja, percorreram as ruas sempre combatendo, até chegarem novamente ao ponto de partida, e isto com tanta felicidade que, tendo morrido no conflito muitas pessoas, feridas por escopetas, entretanto escaparam os principais combatentes. Passado tempo, quando já convalescidos das feridas os dois, existia um temor de novo combate para o qual se desafiavam os dois partidos formados de parentes e aliados, os quais nesse tempo se declararam inimigos. Em 1641, estando PEDRO TAQUES conversando com um amigo, e tendo as costas para a porta da matriz de São Paulo, veio FERNANDO DE CAMARGO e correu a adaga pelas costas de PEDRO, que logo perdeu a vida.

 

Esfriados os ânimos durante alguns anos, a batalha entre as famílias se reaqueceu em 1653 quando Alberto Pires, que se casara com Leonor de Camargo Cabral, sobrinha de FERNANDO DE CAMARGO, matou-a. Após o uxoricídio, ALBERTO emboscou Antônio Pedroso de Barros, concunhado de LEONOR, e o assassinou com um tiro de bacamarte, para alegar que apanhara ambos em flagrante adultério.

 

Após o duplo homicídio, ALBERTO refugiou-se na fazenda de sua mãe, Inês Monteiro, viúva de Salvador Pires Monteiro e nora de MESSIA-USSÚ. No encalço dos criminosos, os CAMARGOS foram à fazenda exigindo sua entrega. Com um crucifixo na mão, INÊS implorou que seu filho fosse entregue à Justiça regular. Os CAMARGO não atenderam ao apelo e sequestraram ALBERTO para leva-lo a Bahia, segundo disseram.

 

Dona INÊS veio espera-los no Rio, com capangas, para retomar o filho. Durante a viagem, porém, os CAMARGO o haviam matado e atirando o cadáver ao mar com uma pedra amarrada no pescoço. Desesperada, INÊS voltou para São Paulo e instigou o recomeço da matança que se desenrolaria pelas décadas seguintes.

 

Somente um casamento de uma CAMARGO com um PIRES, em 1783, selaria o fim da terrível inimizade entre as duas famílias. Naquele ano, Maria Franco, bisneta materna de Francisco de Camargo, uniu-se com João Pires Pimentel, neto de dona Sebastiana Pires.

 

ANA JANSEN

ALBERTO MONTEIRO DE CARVALHO E SILVA, o patriarca dos Monteiro de Carvalho, se casou com Beatriz de Souza Castro, filha de Sérgio Francisco de Souza Castro e Hortência Jansen de Aguiar Almeida. Pelo pai, BEATRIZ descendia de família bandeirantes paulistas e paranaenses, e pela mãe de um dos mais interessantes enredos familiares do Nordeste.

 

Dona HORTÊNCIA tinha por avoenga Ana Joaquina Jansen Pereira, filha de Vicente Gomes de Lemos Albuquerque e Rosa Maria Jansen Möller. Expulsa de casa pelo pai por ter engravidado de um namorado que fugiu, pobre e marginalizada, conta-se que chegou a se prostituir para sobreviver. Depois de penar por bom tempo, torna-se amante do coronel Isidoro Rodrigues Pereira, homem mais rico da província, com quem se casa depois de ele enviuvar da primeira mulher.

 

O relacionamento faz de ANA alvo fácil para a sociedade de então, conservadora e rigorosa, que não admitia uma mulher ter filho de um homem que ninguém sabe quem é e ser amante de outro, ainda por cima casado. O comportamento de ANA era chocante em um contexto em que as mulheres se casavam cedo e viviam uma vida de submissão.

 

Ana JansenOs anos passaram e com a morte do marido ANA se torna a viúva mais rica do Maranhão, poderosa senhora de terras e escravos e líder política, ganhando o epíteto que a eternizou no imaginário popular: a Rainha do Maranhão. Ambiciosa e ardilosa, transforma o dinheiro em poder, assumindo a liderança política da cidade e reativando o esfacelado partido liberal. Passa a comandar o partido, a cidade e a Província. A essa altura, era amante de vários homens e se comportava ela mesma como um.

 

ANA também foi celebrizada na crônica histórica maranhense pelo modo desumano como tratava os escravos e serviçais. Conta-se que certa feita mandou arrancar um a um todos os dentes de uma escrava de sorriso bonito, por inveja e despeito; a negra não resistiu, morrendo de hemorragia, e o corpo foi jogado num poço onde jaziam mais de cem cadáveres de cativo.

 

Morreu aos setenta e seis anos, em 1869, e tem gente que jura que em noites de quintas ou sextas-feiras, conforme variação da lua cheia, sua carruagem sai do Cemitério do Gavião, vagando pelas principais ruas de São Luís. A carruagem seria puxada por cavalos sem cabeça e guiada por um escravo igualmente decapitado e que traria no corpo salientes sinais de tortura. Por onde a carruagem passa faz um barulho horripilante de ferragens velhas e ouve-se lamentações de uma quantidade incalculável de escravos vítimas da Rainha do Maranhão. Reza a lenda que enquanto ANA não pagar seus pecados, seus cavalos decapitados não deixarão de arrancar fogo do chão. É um dos mitos mais difusos do Maranhão.

 

Dizem as más línguas que Dona BEATRIZ, bisavó de ASTRID, avó de OLAVO e mãe de BABY, vivia maritalmente com ALBERTO e o sócio OLAVO EGYDIO; essa história talvez seja a mais "light" do passado do poderoso clã.

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Carioca por escolha e adoção exilado em Ottawa, Canadá. Corretor de imóveis comerciais desde 2011, foi treinado na profissão pela velha guarda carioca na Sergio Castro Imóveis. Hoje é Associate Vice President na Colliers Canada e especialista em investimentos imobiliários e grandes terrenos urbanos.

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