O rio São João nasce próximo a Macaé de Cima, uma reserva ambiental. Depois desce a serra, em direção à sua foz em Barra de São João, no município de Casimiro de Abreu. Ali, antes de desaguar no mar, ele se demora entre morros, manguezais, ilhas fluviais, e a borda da graciosa localidade Beira Rio.
Casas centenárias e sobrados, alinhados na rua, formam a moldura perfeita para o rio. Eles têm na sedimentação do tempo, aprisionado em argamassas de pedra e cal, a sua graça. As casas se alternam entre aquelas maiores, que um dia tiveram um rico proprietário, e as mais singelas, de fachadas estreitas. Mas todas compartilham a solidez e beleza da arquitetura antiga, de paredes grossas, telhados cerâmicos, janelas e portas com folhas de madeira e caixilhos de vidro. As cores das paredes são o branco e as variações do amarelo. E as janelas são de cores fortes, como o verde e o azul. Um ou outro sobrado se alteia em meio ao conjunto, pontuando uma sutil diversidade naquilo que transmite confortante unidade.
Há poucos carros na rua em frente aos sobrados, calçada em paralelepípedos. Entre a mesma e o rio, há árvores também centenárias, fortemente enraizadas na margem coberta por uma vegetação que nos convida a estender a toalha do piquenique. Aqui e ali bancos permitem ao visitante se sentar para ver o rio, as casas ou os poucos passantes. Na borda da água, deques de madeira são propícios à preguiça.
Em contraposição ao casario, o tempo do rio é corrente, não capturável, passando, sempre passando. Barcos amarrados nos ancoradouros se prendem à cidade. O rio, que já corre lentamente, parece retardar seu curso ao passar diante da Beira Rio. Há uma combinação entre movimento e permanência que faz o encanto do lugar.
É curioso que uma rua tão bonita tenha poucos moradores. Há restaurantes. Junto a um deles há uma casa disponível para locação, muito usada por clientes que não se sentem aptos a retornar para suas cidades após uma noitada de boa comida e boa bebida. A biblioteca municipal ocupa um dos imóveis, depois de ter abandonado outro que ameaçava ruir. No mais belo sobrado da rua morou Romaric Büel, ex-adido cultural do Consulado da França no Rio de Janeiro e promotor de memoráveis eventos culturais no Brasil.
A singularidade desse pedaço de cidade, tão harmônico, tão charmoso, difere das quadras vizinhas, iguais a tantas outras, construídas sem muito esmero e atravessadas por estradas que destroem a possibilidade de constituição de um lugar. Ao contrário dessas, a Beira Rio em Barra de São João é o espaço que nos conecta a outros lugares míticos do Brasil, como Paraty e Cachoeiras, e à doçura de um Dorival Caymmi. É lugar para o entardecer e o se deixar ficar. É joia a se preservar.
Excelente texto sobre a bucólica e linda cidade Barra de Sao João onde tenho imóvel e familia morando lá..Conheço desde minha infância pois minha mãe nasceu cidade acima de Macae e sempre viajamos para lá, conheci quando não tinha tantos imoveis..Parabéns pelo texto