Crônicas Cariocas: Nelson Sargento e a sabedoria eterna

O sambista morreu nesta semana e deixou um legado enorme para a arte e para a vida

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Tive a honrosa sorte de entrevistar Nelson Sargento uma vez e depois da entrevista, ficamos batendo papo. Nelson era de uma sabedoria única, que se perpetua, profunda, popular, daquele tipo que dá gosto de ouvir falar, mesmo que a fala já estivesse baixa e cansada por conta da idade. Cada frase um ensinamento. E que ensinamentos. E que frases.

Nelson Sargento morreu nesta semana e deixou um legado enorme para a arte e para a vida. Além da música, ele também pintava e era escritor. Digno de todas as continências e reverências.

Ele dizia que tudo o que fazia era intuitivo, que não estudou música, por exemplo. Que intuição! Ela que brotava forte de seu ser, como a boa sabedoria popular se dá. Nelson sempre fez suas canções, mesmo quando não conseguia gravar. Sua inteligência ignorava o esquecimento.

Meu disco preferido de Nelson Sargento é o primeiro que ele lançou “Sonho de um Sambista”. A obra (prima) foi lançada quando Nelson já tinha 55 anos de idade. Certa vez, Sargento foi chamado para um teatro. Ele, que trabalhava com construção civil, achou que o convite era para pintar o prédio. Mal sabia, e soube depois, que o chamado era para colorir o mundo com sua arte.

Na entrevista que fiz com Nelson, quando ficamos batendo papo, ele disse que não se achava tão importante assim para o Brasil e para o mundo. Eu disse que isso não era verdade e que se fosse, o mundo e o Brasil estariam completamente errados. Ele riu.

Nelson Sargento deixa um legado enorme e fico aliviado por ele ter sido bastante homenageado em vida. Contudo, a maior herança que Nelson deixa é sua sabedoria eterna, tentacular, côncava e democrática. Se bem que a herança, para todos, já estava aí, antes do sambista partir. Ou ficar.

Como disse o intelectual Luiz Antônio Simas: “A última vez que vi seu Nelson Sargento foi no velório da Beth. Ele me disse, com o humor fino que tinha: professor, todo mundo morrendo e eu aqui. Tou achando que não vou morrer nunca, hein. Eu ri, disse que ele estava certo e continuo tranquilamente com essa certeza”.

Agoniza, mas não morre.

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