Outro dia vi um filme chamado Wisdom of Trauma sobre como os traumas nos moldam como seres humanos. Difícil terminar o filme sem ficar embaralhado em reflexões com relação ao próprio caminho de vida. Aliás, isso fez o cronista lembrar de um curso muito interessante que está fazendo chamado Escrita Curativa. É com uma escritora e acadêmica, Geruza Zelnys, que acabou virando uma estudiosa dos traumas.
Poderia ser ao vivo, mas é pela internet, afinal, vivemos tempos pandêmicos. Mas isso permite que uma pessoa de Minas Gerais, outras de São Paulo e cariocas como eu participem e se conectem. As histórias que vamos criando a partir dos exercícios propostos pela professora vão desvendando traumas que nem mesmo entendemos, ou sabemos que possuímos. Além disso, tem aqueles que não gostaríamos de reencontrar. Mas precisamos.
Pedradas
A última aula foi uma pedrada na cabeça. Relacionamentos abusivos, situações de estupros e mortes surgiram nas literaturas de cada um. Alguns resistem e procuram esconder com floreios suas feridas. Outros desabam em lágrimas. Interessante constatar que quanto mais próximo chegam de seus machucados, melhores são os textos, dotados de profundidades ímpares.
Aprendemos sobre nós mesmos a partir dos escritos dos outros e ensinamos quando damos nossas opiniões e visões do que ouvimos. Cada um traz algo que outro não percebeu, detalhes que falam muito e acessam fatos escondidos no subconsciente.
Nas ficções da escrita curativa, naqueles personagens que criamos em textos inspirados e inspiradores, nos limpamos do sangue pisado que ainda restou das dores passadas. Lembranças da infância viram sementes de árvores frondosas. Enquanto ancestrais e antepassados apareciam e reviviam, dei de frente com animais de poder que não esperava, vi falecimentos que não tinha superado, lutei contra intrusos da minha alma. Fui vencedor de mim mesmo.
É a arte ajudando o ser humano. Por fim, fica a certeza que sim, a arte cura. É só dar uma chance.