Quando recebi a mensagem do Nicolielo, falando sobre a morte do cartunista Paulo Paiva, lembrei de uma história do Adail, contada pelo Netto, outro cartunista.
Netto dizia que toda vez que o Adail ligava para ele era para dizer que alguém morreu. E era.
Maldade com o Adail. Mas o Adail viveu muito, conhecia muita gente que já estava com o pé na cova. Conheceu jornalistas, cartunistas, cantores, músicos, boêmios… muitos já octogenários.
Mas o Paulo Paiva, não. Paulo morreu jovem ainda. Aos 64 anos, no último dia 9 de maio, vítima de uma pneumonia e de sequelas de um AVC.
Hoje, então, em tempos de pandemia, é um risco atender o telefone, abrir o jornal ou ler uma mensagem de Whatsapp. Tem sempre alguém morrendo.
Não conheci pessoalmente o Paulo. Sabia pouca coisa ao seu respeito. Mas conheci o Maciota, seu principal personagem. Eu era leitor assíduo da revista esportiva ‘Placar’, onde o personagem foi publicado, a partir dos anos 80. E por curtir seu trabalho, anos a fio, o considerava uma figura intima, quase um amigo.
Paulo de Paiva Lima, que assinava P. Paiva, foi um quadrinhista goiano, nascido em Santa Helena de Goiás, em 1957, que veio morar na capital paulista, em 1963, no bairro do Brás.
Começou a desenhar na adolescência, estimulado pelos gibis que colecionava. Teve seu primeiro cartum autoral publicado em 1971, antes de completar 14 anos, na revista “Garotas e Piadas”, da Edrel.
Em 1971, o quadrinista entrou para os estúdios Mauricio de Sousa, como roteirista de tiras. Alguns anos depois, começou a publicar uma série de tiras diárias chamadas ‘Cia. Ltda’, nos jornais ‘Folha da Tarde’ e ‘Diário do Povo’ (Campinas- SP). Nos anos seguintes, passou a colaborar com a Rio Gráfica Editora, no histórico tabloide ‘Gibi Semanal’, fazendo os roteiros da série ‘Chico Peste’, criada pelo Munhoz.
Na primeira metade da década de 70, Paiva criou junto com o amigo Franco de Rosa um personagem mau caráter, o jogador de futebol de várzea Maloca, para a Editora Saber. Mas a revista nunca foi publicada. Mais tarde, reformulado e rebatizado como “Maciota”, e feito só pelo Paiva, foi um grande sucesso na revista ‘Placar’.
Maciota, um jogador perna de pau, bêbado e mau caráter, era escrito e desenhado pelo próprio Paiva, com seu peculiar traço tosco e extremamente expressivo, com forte influência do mestre do humor gráfico francês, Sempé, seu grande ídolo.
De acordo com Franco, Paiva tinha tentado criar uma cooperativa de quadrinistas e cartunistas em 1980, sem sucesso. Em 1983, Paiva então se reuniu num bar com os amigos Sebastião Seabra, Franco de Rosa e José Guimarães, para criar uma nova editora. Nascia a Editora Maciota.
A ideia era pegar o filão erótico deixado pela extinta Grafipar. Guimarães entrou com a distribuição, Paiva com o capital e Franco com a produção. A editora que lançou diversos gibis, acabou, algum tempo depois, virando a Press Editorial.
A partir de 1984, Paiva estava editando uma infinidade de quadrinhos nacionais na Editora Press, em parceria com Franco de Rosa. Ainda como editor, ele lançaria um sucesso gigante em 1989, Piadas de Ary Toledo, com ilustrações de Otávio.
Na década de 1990, o autor lançou, em sociedade com a Nova Sampa, os livros de piadas do comediante Ary Toledo, que foi um fenômeno de vendas.
Um Acidente Vascular Cerebral, em fevereiro de 2007, tirou Paiva do mundo editorial como profissional de criação. A partir de 2017, antologias de seus trabalhos foram lançadas pela Editora Criativo.
Paulo Paiva, sempre foi uma pessoa de ótimo humor. Querido por todos, auxiliou dezenas de artistas em início de carreira e foi, além de um grande ilustrador, cartunista, argumentista e editor, um incentivador e entusiasta do quadrinho brasileiro.
Talvez o maior do Brasil.