No início do ano, em nossa viagem à Porto Alegre, eu e a Sheila fizemos um tour cultural.
A capital porto alegrense tem seus encantos. O charme dos parques, os cafés, o Centro Histórico e o pôr do sol no Guaíba, são alguns deles.
Além deles, a capital dos gaúchos oferece a quem mora em Porto Alegre – ou passa por lá – ótimas opções de cultura.
Visitamos, livrarias, bares, cafés, museus e galerias; templos da cultura no sul do país. Começamos pelo imponente prédio do Mercado Público com seus sabores, aromas e texturas. Visitamos o Centro Cultural Usina do Gasômetro, às margens do Guaíba. Nos encantamos com a arte e beleza do Museu de Arte do Rio Grande do Sul; do Centro Cultural Érico Veríssimo e do Memorial do Rio Grande do Sul, instalado no imponente prédio dos Correios.
Conhecemos o Tutti Giorni, o bar dos cartunista, em Porto Alegre, seu folclórico e simpático dono, Nani e seu acervo de obras de grandes cartunistas gaúchos.
No Caminho dos Antiquários formado pelas ruas Marechal Floriano Peixoto, José do Patrocínio e Coronel Fernando Machado, voltamos ao passado.
Na Praça da Alfândega, o prédio onde funciona o Santander Cultural é uma atração à parte. A histórica edificação construída entre 1927 e 1932, tradicionalmente dedicado às atividades bancárias hoje é uma grande galeria de arte.
Em Porto Alegre, que eu me lembre, só em dois ou três lugares conseguimos tomar um café expresso “decente”, como o servido num café que funciona dentro de velhos cofres do Santander Cultural. Atrás das gigantescas portas de aço arredondadas.
A visita a Casa de Cultura Mário Quintana, valeu a viagem. A casa de cultura está instalada no antigo prédio do Hotel Majestic, onde o poeta morou e foi transformado em atração turística.
Hoje o antigo hotel é uma biblioteca, centro de exposições, artes visuais, dança e peça de teatro. Além disso, foi possível visitar o quarto onde o poeta passou os seus últimos dias.
Considerado o maior poeta gaúcho, a melhor definição sobre Mário Quintana, foi feita por ele mesmo, em 1984:
“Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente.
Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto.
Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro — o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim.
Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Verissimo — que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras”.
Não precisa dizer mais nada.