Papo de Talarico: Good Times e a prudência contra a paixão

Uma crônica sobre coragem

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Flor de Cacto e Paixão
Flor de Cacto (foto: Alvaro Tallarico)

Quem já se apaixonou que erga os braços e agradeça. Paixão é uma coisa dolorosa e intensa. Ouvi esses dias a canção “Prudência” de Maria Bethânia. Essa tal prudência que traria uma paz. Ah, desculpem-me os prudentes, eu sou das aventuras e caço paixões. Não quero evitar os amores que a vida oferece. Claro, depois das feridas, a gente fica mais receoso. Mas que coisa tediosa é a vida sem paixão.

Prudência não me interessa. Prefiro sair arranhado, mas ter vivido. Menos rotinas e mais aventuras. Uma vez uma pessoa me disse que eu tinha isso de poeta, de intensidade. Sim, tenho sim. Que bom, graças a Deus. Quando menino ouvia um programa em uma rádio chamado Good Times. Era só música romântica, coisa antiga. Tinha a parte tradução em que o locutor trazia para o português os sucessos estrangeiros. E lá ficava eu ouvindo “I just called to say I love you”, e ele, com voz grave, sedutora, mandava: “Só liguei para dizer que te amo”. Aquilo já me dava vontade de amar, somente para saber como era.

Às vezes tocava Tim Maia, “Azul da Cor do Mar”. Anos depois descobri como ele fez a música. Quando criança ela já me tocava fundo. “Se o mundo inteiro me pudesse ouvir, tenho muito pra contar, dizer que aprendi”. Do seu âmago, de suas vivências, de seus amores, Tim tocava meu coração. Não só o meu. Saudades, Tim Maia.

Sonho

Também tenho minhas histórias, todos temos. Nem todas ganham o mundo. Meu sonho todo azul, azul da cor do mar, era simplesmente viajar, razão para viver e contar para quem quisesse ouvir ou ler. Buda não foi um deus. Buda foi um homem que alcançou a iluminação e resolveu ensinar. Depois de chegar no alto da montanha, desceu para dizer o que viu e mostrar um caminho que encontrara. Estou longe de ser anjo, deus, tão pouco me identifico com os demônios. Aliás, vade retro, malignos!

Entretanto, partilho minhas jornadas em contos e poesias, prosas e crônicas, e jogo para o mundo para que alcance quem deva ser alcançado e reverbere seja lá como for. Quando escrevemos algo, quando criamos qualquer tipo de arte e jogamos para o mundo, com coragem e ousadia, não sabemos o que acontecerá.

Fazer arte é como se apaixonar. É intenso, é difícil, é gostoso, prazeroso, nunca sabemos o que vai dar, mas, no fim das contas, vale a pena.

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