O nome dele parece onomatopéia para soluço: Hippertt.
Mais parecido que o dele, só o do Ique.
O cartunista, chargista e ilustrador André Hippertt nasceu do outro lado da poça, em Niterói, em novembro de 1962. Desde criança, foi um apaixonado pelo desenho de humor. Devorava jornais e revistas com cartuns de J. Carlos, Nássara, Lan, Loredano, Chico Caruso, Al Hirschfeld e Robert Risko, ídolos que, mais tarde, viriam influenciar o seu estilo.
“Comecei a desenhar ainda muito cedo. Tenho lembranças muito antigas já com papel e lápis na mão. Meus pais perceberam a minha obsessão pelo traço, e me incentivaram.” – diz
Hippertt começou a carreira profissional na grande imprensa em 1984, quase que por acaso: “Eu, na verdade, conheci o Ziraldo em Niterói, em uma palestra. Ele então me convidou para uma noite de autógrafo em um bar, em Ipanema. Cheguei lá, todo tímido, com meu portfólio debaixo do braço. O lugar estava lotado. Muita gente famosa. A maioria já no maior porre. De repente, dou de cara com o Lan vendo meus desenhos. Daí começamos a conversar. Na verdade, eu estava ‘tietando’ meu ídolo. Quando, de repente, ele me convidou para dar um pulo no ‘Jornal do Brasil’, onde ele trabalhava. Daí eu fui, e naquela mesma semana comecei a fazer uns freelas para o JB. Foi uma super-experiência.” – disse.
Depois de vários freelas em outras redações e um curso de Comunicação Visual na Escola de Belas Artes, Hippertt foi parar em ‘O Globo’. Lá, Chico Caruso o apresentou ao diretor de redação, Evandro Carlos de Andrade. Nos oito anos que passou no jornal da família Marinho, Hippertt fez de tudo: ilustração, charge, cartum.
“Nessa época, Marcelo Monteiro, o Marcelinho – decano da ilustração editorial – foi uma figura muito importante para mim. Um dos meus grandes ídolos. Aprendi muito com ele.” – disse.
Em 1988, Hippertt foi para os Estados Unidos fazer um curso de especialização em ilustração, design e infografia digital, no Poynter Institute for Media Studies. Lá, aprendeu a trabalhar com ferramentas gráficas que foram essenciais para a criação de seu estilo minimalista, sendo ainda um dos pioneiros na implantação da computação gráfica nas editorias de arte da imprensa brasileira.
Depois do ‘JB’ e de ‘O Globo’, o cartunista foi para ‘O Dia’ concluindo assim sua passagem pelos três maiores jornais cariocas da época. Em ‘O Dia’, onde assumiu a editoria de arte, Hippertt participou da criação e modernização de diversos jornais e revistas, entre eles a reformulação de ‘O Dia’, a criação do ‘Meia Hora’, o projeto do ‘Marca Campeão’ e a reformulação do jornal ‘Brasil Econômico’. Lá, ele conquistou 40 prêmios da SND – Society for News Design e cinco vezes o Prêmio Esso de jornalismo, considerado o Pulitzer do jornalismo brasileiro.
Além desses, teve trabalhos publicados nos jornais ‘Folha de São Paulo’, ‘Marca Campeão’, ‘O Pasquim’ e nas revistas ‘Exame’, ‘Playboy’, ‘Veja Rio’ e ‘Placar’, entre outras.
Hippertt ganhou diversos salões de humor pelo país. Entre eles, o ‘Salão de Humor de Niterói’, (Prêmio Nair de Teffé), com uma caricatura da roqueira Nina Hagen, que havia feito muito sucesso no primeiro Rock in Rio.
Em quase 40 anos de trabalho na imprensa, Hippertt colecionou várias histórias. Em uma que me contou, ele disse que nos últimos dias para o final da inscrição no Salão Carioca de Humor de 1990, ele – ainda muito revoltado com a eleição do ex-presidente Collor de Mello para a presidência da República – resolveu fazer uma charge que expressasse toda a sua raiva. Desenhou o mapa do Brasil, na parte superior, fez uma bunda com toda textura, sombra e luz possível. Pegou as duas letras “l”, verde e amarela – símbolo da campanha à presidência -, e enfiou na bunda do Brasil. A charge, para surpresa dele, levou o primeiro lugar do salão, mas nunca foi publicada. Em ‘O Globo’, onde ele trabalhava, na época, deram capa do Segundo Caderno para os vencedores do salão, com foto da caricatura vencedora, do cartum, da escultura, mas a charge com a bunda foi censurada. Mas Jaguar ligou pra ele e disse que ia publicar n´O Pasquim. Saiu. Mas como a impressão do jornal era horrível, eles redesenharam por cima. Tentaram melhorar, mas ficou uma merda maior ainda.
Mas muita gente gostou. A ilustradora Márcia Z , uma das juradas, disse: “Aquela bundinha, que linda! Toda fofinha! Aquilo tava o máximo.” No dia da entrega dos prêmios, Hippertt encontrou Jaguar no saguão, com seu indefectível copo na mão, que lhe disse: “Votamos no seu desenho para testar a democracia”. Riram juntos. Foi o trabalho premiado menos divulgado do artista, mas, segundo ele, o que valeu mais a pena ter feito.