Papo de Talarico: Campo de Santana e a avó de Jesus

Paróquia histórica do Rio de Janeiro mostra seu poder

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Paróquia de Sant'Ana no Centro do Rio. Campo de Santana.
A bela Paróquia de Sant'Ana

Conheci uma igreja. Assim como todas as outras, mas tão pouco era. Na Praça Cardeal Leme, 11. Da qual eu nunca havia ouvido falar mesmo tendo passado por lá tantas vezes. Não havia percebido que ali tinha uma construção histórica. Esse é um mal dessa correria que é a vida. Ou talvez seja só porque namoro com a distração. Quiçá a percepção só ocorra quando deve acontecer.

Sem mais delongas, conheci a Paróquia de Sant’Ana. Leva o nome da mãe da mãe de Deus. Ou seja, a avó de Jesus, Ana. Descobri que lá foi o primeiro Santuário de Adoração Perpétua do Brasil. Sim, a esplendorosa Paróquia de Sant’Ana, no Centro do Rio de Janeiro. O local abriga, desde o ano de 1926, a Obra de Adoração Perpétua, a qual foi fundada por Dom Sebastião Leme Silveira Cintra. Lá tem várias relíquias e símbolos guardados que ajudam a contar a história da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (e é claro que tem uma imagem desse santo maravilhoso por lá).

Uma das relíquias é a da Virgem Mártir Santa Prisciliana, um presente do Papa Gregório XIII ao imperador Dom Pedro II. Ela veio do Vaticano de navio! Assim que chegou foi recebida na Praça Mauá por uma multidão de fiéis, que a levaram por onde atualmente é a Avenida Marechal Floriano até a primitiva Igreja de Sant’Ana.

Essa cidade que tanto amo começou a ser construída exatamente a partir do Centro. Mas, na pesquisa desse carioca que até se sentiu envergonhado quando descobriu, o Campo de Santana, tem esse nome por causa dessa santa. Meu pai sempre me levava a esse local. Foi lá que aprendi a andar de bicicleta e fui me conectando mais com a natureza. As capivaras, as árvores frondosas, os patos, assistiam enquanto eu caía e levantava, ajudado pelos bondosos braços paternos.

Lembro como se fosse hoje quando perguntei: “Pai, está segurando?”. Nada escutei. Ele não estava, e ali andei de bicicleta pela primeira vez sem as rodinhas. Flutuei no ar, nos ares, do Campo de Santana. Olhei para trás e vi, ao longe a careca de meu pai reluzindo ao sol. Logo depois, caí, claro. Perdi a segurança e o equilíbrio.

Pioneira

A primeira igreja dedicada a Senhora Sant’Ana na cidade foi construída em 1735. A princípio, o povo venerava a imagem da padroeira na Igreja de São Domingos de Gusmão. Mas quando esta última foi derrubada em 1943 para a construção da Avenida Presidente Vargas, tiveram que subir uma só para essa santa. A Paróquia de Sant’Ana estabeleceu-se em 1814, por decreto de Dom João VI. A matriz funcionou até 1870, passou por uma reconstrução e, posteriormente, reformas em 2003.

Sant’Ana é a segunda padroeira do Rio de Janeiro, depois de São Sebastião. Fui conhecer esse local de aura mística e mágica, antro de fé, num dia de Rosário da Adoração Perpétua feito pelo grupo Manto de Maria, o qual acontece todo dia 25 do mês das 9 da manhã até meio-dia. Foi um espetáculo lindo de fé, todas rezando ao mesmo tempo, enquanto um rapaz tocava seu violão entre um mistério e outro. Em seguida, uma missa foi rezada com afeto pelo Padre Adonias.

Na saída, já apressado para ir ao trabalho, uma senhora negra de olhos bondosos e firmes ainda olhou para mim e disse: Sálù ba Nàná! Saí de lá fortalecido e satisfeito por conhecer mais um marco histórico da minha cidade e descobrir que Sant’Ana olha por mim já faz muito tempo. É, meu Rio de Janeiro jamais deixa de me surpreender. E que saudades do Campo de Santana de outrora…

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