Papo de Talarico: Yanomami e a última floresta

A cultura e a luta de um povo na tela dos cinemas

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A ùltima floresta
Yanomami são tema de filme (foto: Pedro J Márquez)

Já ouviu falar nos Yanomami? Há mais de mil anos eles vivem em um território que fica ali entre o norte do Brasil e o sul da Venezuela. Recebi para ver antes da estreia nos cinemas o filme “A Última Floresta”, o qual venceu o prêmio do público na mostra Panorama no 71º Festival de Berlim. O longa-metragem também conquistou o prêmio de Melhor Filme no 18º Seoul Eco Film Festival, na Coreia do Sul. Já passou também pela Espanha, Nova Zelândia, Itália, Canadá e outros locais.

O diretor Luiz Bolognesi assina o roteiro ao lado do xamã e líder yanomami Davi Kopenawa. “A Última Floresta” retrata o cotidiano de um grupo Yanomami isolado. Fui criado no meio urbano, mas tenho um grande amor pela natureza. O Rio de Janeiro é uma cidade mágica nessa mescla entre floresta, montanha, mar e rios. Logicamente, como grande parte dos brasileiros, tenho sangue indígena. Os nomes de nossos bairros são outra herança indígena como Tijuca, que em tupi-guarani significa brejo, lamaçal, ou Guaratiba, que em tupi-guarani significa morada ou sítio das garças. Copacabana? Significa mirante do azul, na língua Inca Quichua. O Diário do Rio já ensinou isso.

Ficava pensando nisso enquanto assistia. O quanto somos agradecidos aos nossos ancestrais e antepassados? O que herdamos deles? No filme, o xamã Davi Kopenawa Yanomami busca proteger as tradições de sua comunidade e contá-las para o homem branco. Kopenawa quer manter vivos os espíritos da floresta nos quais acredita e luta contra garimpeiros ilegais.

Thuëyoma

Uma das melhores partes da obra é quando vemos um plano aberto que pega o esplendor da natureza e começamos a aprender sobre a mitologia Yanomami. Esse povo teria surgido a partir dos irmãos Omama e Yoasi. E da mulher-peixe Thuëyoma.

Além disso, perceber as nossas diferenças culturais, o gosto deles pela liberdade, suas formas de artesanato, a adaptação necessária aos novos tempos, é deveras fascinante. A forma como eles vivem já é coletiva logo de cara. Moram em grandes casas comunais circulares chamadas de “yanos” ou “shabonos”. Algumas delas podem ter até 400 pessoas vivendo juntas. A área central fica para atividades como rituais, festas e jogos.

Ainda por cima, o diretor Luiz Bolognesi mostra um ritual xamânico, onde alguns Yanomami utilizam seu rapé tradicional, o yakoana, um composto de ervas, cascas de árvores e outras plantas. Dessa forma, entram em transe para se conectar com os espíritos da floresta. No final, o filme foca no tom de denúncia e vemos Davi Kopenawa dando palestra na conceituada universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Enquanto escrevia esse texto, um gavião parou na minha janela e olhou nos meus olhos. Dentro do xamanismo, eles acreditam que cada pessoa tem seus animais guardiões. Na rua alguém gritou “Ahô!”, uma saudação xamânica. O gavião cantou e voou rumo ao céu.

“A Última Floresta” estreia nesta quinta, 9 de setembro, nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte, Manaus, Salvador e Brasília. E aí, vai conferir?

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