Na política contemporânea diz-se que uma foto não publicada nas redes sociais de um político diz muito mais do que uma publicada. Enquanto o governador Claudio Castro (PL) fazia de um devaneio a “a chapa dos sonhos”, ao posar ao lado do presidente da Alerj, Andre Ceciliano (PT), e do deputado federal Pedro Paulo, registrando o momento em seu Instagram, os dois outros ignoraram.
Castro, possivelmente em tom de brincadeira, aventou ter Ceciliano como senador e Pedro Paulo, vice. Não terá nem um nem outro. Pior: em Brasília, cresce de forma exponencial a possibilidade de Ceciliano ser o candidato a governador pelo PT. Algozes costumam dar abraços nos adversários.
Lula e seus consultores políticos entendem que sua candidatura não pode vir estanque do PT. É preciso fortalecer o partido com nomes com estatura. Portanto, o partido não abrirá mão de lançar candidatos a governador musculosos nos principais estados da República.
A questão é de posicionamento. Ceciliano é um desses nomes. O PT enxerga o presidente da Alerj como um político sem a marca do radicalismo, conciliador, agregador e líder. Tais características, numa eleição, independentemente do resultado, elevariam a qualificação do PT, um partido surrado em busca de ressurreição.
Ao enxergar em Ceciliano um possível senador de seu grupo, Castro ignora o tamanho de Ceciliano e do PT. Mais do que isso: Castro é Bolsonaro, Ceciliano é Lula. Não se bota gelo numa taça de vinho. A associação é absurda e de certa forma deselegante.
O presidente do PT no Rio, João Mauricio, soltou uma nota, ressaltando a oposição a Castro. Mas nem precisava. Tanto Lula quanto a presidente do PT nacional, Gleisi Hoffmann, dialogam com interlocutores de outros partidos sobre a candidatura de Ceciliano ao estado. O presidente da Alerj não comenta o assunto. Mas é realidade.
Pedro Paulo, que em 2016 deveria ser o prefeito do Rio, mas ficou sozinho, sem que seu grupo político fortalecesse e amontoasse uma aliança – saíram naquela ocasião candidatos do Centro-Esquerda Alessandro Molon (Rede), Carlos Osorio (PSDB), Flavio Bolsonaro (PSC), Indio da Costa (PSD) que diluiriam a votação de PP – trabalha com o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, para pensar na melhor candidatura a enfrentar Castro.
Nas redes sociais, Paes costuma cutucar o bolsonarismo com veemência, demonstrando seu desconforto com a gestão presidencial. O prefeito, inclusive, passa por cima de um de seus princípios: o de manter boa relação com o presidente da república, seja ele qual for. Além do mais, há rumores, ora ou outra, de que seja ele o vice de Lula em 2022.
Refém de Bolsonaro e da fauna política que toma conta de seu governo, Castro acaba de nomear um apadrinhado do senador Flávio Bolsonaro na Secretaria de Esportes, o ex-árbitro de futebol e comentarista Gutemberg Fonseca. É mais um sinal de subserviência.
O jogo político fluminense está absolutamente aberto. O que não ajuda Castro é a juvenilidade de sua comunicação. Os textos que leva para sua rede social parecem ter sido fornidos num grêmio estudantil. Marketing político não é coisa de criança.
Ainda mais no meio de tanta gente grande.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.