Papo de Talarico: O retorno do Rio e a positividade tóxica

Para onde iremos na liberdade que volta?

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Positividade tóxica e Rio de Janeiro
Como será o amanhã? (foto: Alvaro Tallarico)

A vacinação caminha e a pandemia arrefece. Enquanto isso, o Rio de Janeiro tenta se erguer novamente. Cidade vibrante, mas cambaleante, que sofre com mazelas presas num ciclo sem fim. Quando falo da minha cidade para os outros, deixo claro que somos maravilhosos, mas pecamos na desorganização. A bagunça no Rio de Janeiro é clara. Acabo sempre falando com muitos turistas brasileiros e quando cito isso eles acham graça. É óbvio, todos percebem. Muitos vem de lugares onde prezam pela ordem.

Por outro lado, muitos turistas estrangeiros gostam exatamente disso. Dessa bagunça. Isso é inóspito para eles. Veem como uma das grandes graças do Rio de Janeiro junto com suas belezas naturais. Eles dizem que a Lapa é um Rio verdadeiro. Não estão errados.

Como carioca que já viajou um pouco por outros Brasis e países, entendo isso, mas é difícil não querer um mínimo que seja de organização. Isso ajuda na segurança. Percebo o medo dos turistas também. Quase não andam pela cidade, pegam táxis e outros transportes de aplicativo entre um ponto turístico e outro. O receio de serem roubados fala mais alto. A impressão que a mídia passa para eles é que podem ser assaltados a qualquer momento.

Frequentemente digo para caminharem um pouco, indico as ruas centrais. Eles parecem escutar. E logo depois chega um carro para buscar. Perdemos a credibilidade.

Sim, há insegurança, e todos nós sabemos disso, é importante andar ligado nas ruas e saber em que viela não entrar. Seria exatamente nesse trecho agora que eu queria defender a cidade, mas comecei a pensar melhor e não sei se conseguirei. A desordem reina em cada esquina. Reflito sobre um termo que vem sendo abordado atualmente, a positividade tóxica.

“O Brasil vai melhorar, é o país do futuro”. “O Rio tem muito potencial, é só ajeitar, agora vai”. As pessoas voltam para as ruas. Será que estarão mais conscientes? Cada um terá condição de fazer sua parte, de fazer o certo? Cumprirão horários e compromissos? Serão educadas e gentis com o próximo? Não vão jogar lixo e guimbas de cigarro no chão? Respeito será a palavra que nos guiará? A pandemia trouxe mais maturidade e consciência para a população?

Hoje está difícil ser otimista, está difícil ser cronista. A chuva cai com jeito de lágrimas. As casas de shows reabrem e veremos as pessoas sedentas por alegria e liberdade. Mas liberdade sem responsabilidade é um dos caminhos mais fáceis para a perdição. Para onde o rio correrá?

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6 COMENTÁRIOS

  1. O Rio precisa se abrir para o subúrbio, sair das atávicas e anacrônicas “comunidades”, cujo vício de morar mal, ou de favor, remonta ao Morro da Glória, do Castelo e da Providência e à histórica indolência/descaso dos pseudoaristocráticos governos republicanos, desde a liberação dos escravos, para que saíssem de uma condição subumana para entrar em outra.
    Assim, morar mal, cada vez mais, se tornou praxe, em vez de ser condição “Provisória”, pois a vista do espelho azul do mar era deslumbrante e bastava descer o morro, para encontrar sustento de alguma forma, nem que fosse na estiva ou em alguma casa de luz vermelha.
    Tudo isto já virou documentário, cenário ou roteiro de filmes premiados e tema a ser explorado por antropólogos, sociólogos, sendo que um até virou presidente, e por agentes turísticos sofisticados de estrangeiros, que há muito não viam degradação humana tão pitoresca para eles, se não fosse tão trágica para nós…
    Esses produtores, cineastas e agentes turísticos, coparticipes ou delatores desta política pública miserável, deslumbraram a chance de melhorar as próprias vidas, expondo sem filtros, suas patrióticas vergonhas, ao denunciar a política governamental de conveniente manipulação do povo e do voto de cabresto, pela cultura macabra da manutenção da ignorância e da pobreza, sem deixar de defender os seus caraminguás, é claro…
    Afinal, todos sonham com o fim de suas indignidades, seja pela esperança de um dia, talvez…, ganhar na loteria, ou ter um filho craque no futebol, enfim selecionado por algum clube de regatas, dessas esquecidas no passado, apesar de tanta água… Suja, imunda e fedorenta, diga-se…
    Aliás, a palavra Ipanema, em tupi, significa lago fedorento, água imprópria para beber, nadar e pescar, rio imprestável… Quod usque tandem, governantes?…
    Tudo isso, sempre se deveu à falta absoluta de transporte para o subúrbio, onde há espaço para aprazíveis praças arborizadas, quintal no fundo de casa, ruas tranquilas para uma infância feliz, com mais facilidade de urbanização, segurança contra o tráfico e a milícia, sem a indignidade de ter que vender a alma, para garantir a vida de um corpo vazio e exausto de tantos maltratos.
    Não estou falando de trens lotados como de gado que vai para o matadouro, mas de investimentos massivos em transportes rápidos e de boa qualidade, feitos com trabalho e honestidade de quem sabe honrar subsídios, impostos, multas, taxas e moras que arrecada, sem superfaturamentos e tradicionais desvios de verbas, feitos por governantes viciados, inconformados, recalcados mesmo, por terem perdido o primeiro lugar no ranking dos PIBs brasileiros para Brasília…
    Conformem-se governantes, se não fossem seus roubos, claramente demonstrados por suas tornozeleiras eletrônicas, os impostos pagos pelo PIB Fluminense, o subsídio do petróleo e outras benesses dariam perfeitamente para se executar trabalho honesto e bem administrado para toda a população.
    Porém, enquanto sustentarmos políticos vagabundos, que não passam de nomeadores de logradouros e de autores de atos legais em benefício próprio ou de seu partido, continuaremos a ver políticas públicas paliativas, esmolas e outros auxílios, engodos e bolsas miséria, do mesmo jeito que a pseudoaristocrática governança sempre usou e abusou do povo carioca.

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