O que é ser Vasco? Ser Vasco é tudo ao mesmo tempo: é apoiar o time incondicionalmente, independentemente de em que série esteja, é mandar Pix para contribuir com qualquer coisa, é se sentir em São Januário como se fosse sua própria casa, é chorar pela história linda que nossos portugueses ajudaram a construir. O que é não ser Vasco? Dar uma declaração pública, na véspera do jogo mais importante do ano para o clube, revelando que tinha planos para nossa instituição em dois cenários: o Vasco na série A. Ou o Vasco seguir na série B. Nunca na história do Vasco se viu uma atitude tão distante de toda a nossa história, de nossa alma, de nossas lutas.
Jorge Salgado, o nosso presidente, normalizou a tristeza, oficializou a desesperança, tratou o Vasco como uma ação em baixa na Bovespa, que, ah, amanhã recupera. Salgado não entendeu até agora a importância de comandar o grande amor de milhões de torcedores. Seja com seu sumiço absoluto de todos os momentos nos quais mais precisamos dele. Aqueles ruins, em que precisávamos de uma voz de comando e de força. Se nós não enxergamos Salgado nessas noites sombrias, imagine o time?
Faço parte de um grupo de WhatsApp de amigos, vascaínos de verdade, de sangue português, de vida dedicada à Cruz de Malta. Essa turma, nunca vi nada igual, alimentava desde sempre a certeza do acesso à série A. Mesmo com todos os erros absurdos do departamento de futebol, mesmo com o inacreditável e tenebroso marketing do clube. Eles estavam lá. Vendo todos os jogos, torcendo, gritando. Imagino que ali esteja apenas uma gota de sangue do imenso oceano venoso que é a torcida do Vasco da Gama.
E ao fim da noite desta quinta-feira (4/11) estavam todos ali, unidos em torno de uma improvável vitória sobre o Guarani. Improvável não pela noite em si, mas pelo conjunto da obra. O Vasco está sendo dirigido por um presidente que não entende nada de futebol, comandado por um gerente de futebol que nunca ganhou nada de expressão, alavancado por um técnico que conseguiu perder o campeonato brasileiro de 2020 pelo São Paulo com trocentos pontos na frente.
A triste história da noite desta quinta-feira teve como protagonista o pior elenco da história do Vasco, com jogadores reservas de times da série A e B sem nenhum tipo de brilho. Quem entende um mínimo de futebol sabia que o Vasco estava predestinado, como afiançou meu amigo Luiz Neto, ao meio da tabela. O Vasco nunca esteve no G4 em todo o campeonato. E só quem é Vasco de verdade, como meus amigos do Gigantes da Resenha, ficou ali plantado na TV à espera de um milagre.
Salgado é o sucessor de Alexandre Campello, aquele que virou presidente sem voto, tal qual um suplente de senador. Deixou legado nenhum, foi o zero à esquerda mais à esquerda que o Vasco já teve. Achávamos que jamais seria superado.
Mas foi. Jorge Salgado, em menos de um ano, conseguiu essa façanha. Para Salgado, power points e excels são mais importantes do que o choro dos Gigantes da Resenha. “Estamos reconstruindo o Vasco, com um projeto de futuro”. Assim, como um reles político que põe a culpa no passado para o desastre atual, Salgado pensa que atravessará os próximos anos na paz. Não vai. Cada um dos milhões de vascaínos que chora nesse momento não esquecerá o nome do presidente que fez o Vasco passar o maior vexame de sua história.
Amar o Vasco, enfim, deveria ser evitar que o Vasco passasse esse vexame.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.