O transporte é um direito garantido pela Constituição Federal! Não podemos negar a importância desse serviço para a população, já que metade dos moradores da região metropolitana do Rio tem o transporte público como principal meio de deslocamento. Há anos as empresas de ônibus vêm perdendo passageiros e o que temos visto é um ciclo vicioso de má qualidade dos veículos que circulam no município.
Com a pandemia a situação ficou ainda pior! Os protocolos de segurança sugerem distanciamento, mas dentro dos ônibus essa realidade não existe. E a frota nas ruas só reduz: hoje das 29 empresas que atendem a população do Rio, 11 entraram com pedido de recuperação judicial e três consórcios enfrentam a mesma situação. A alegação é de déficit financeiro, agravado pela pandemia, e a redução de 50% no número de passageiros pagantes.
Mas a crise no setor rodoviário vem de antes da Covid-19. Estudos da Casa Fluminense, publicados em março de 2020, apontaram que, já naquela época, apenas 55% da frota estava efetivamente nas ruas. Um ano depois, em alguns consórcios como o Santa Cruz, menos de 30% da frota servia a população. A Prefeitura bem que se esforça para amenizar os problemas, mas a situação ainda é lastimável. Dos 1.585 carros que deveriam estar em circulação, apenas 699 servem a população com intervalos irregulares e veículos sucateados.
Nossa equipe conversou com moradores de Campo Grande, Cosmos, Paciência, Bangu, Guaratiba, Realengo, Sulacap, Padre Miguel e Santa Cruz. A realidade em todos esses locais é bem parecida e na boca do povo a reclamação foi a mesma: “cadê meu ônibus que passava aqui?”.
O BRT – sigla em inglês para Bus Rapid Transit, ou, no nosso português, Transporte Rápido por Ônibus –, na realidade não é tão rápido. Nos últimos nove anos, desde que o sistema inaugurou, ligando Santa Cruz até a Barra da Tijuca, a promessa de ser uma viagem rápida e segura durou pouco tempo.
Com estações pequenas para a demanda, massa de asfalto frágil e o descaso do Poder Público, o sistema nasceu obsoleto, foi depredado e perdeu fôlego gradativamente. As viagens rápidas se tornaram grandes filas de espera para um ônibus articulado lotado, sem manutenção e com baixa velocidade, devido à via esburacada e às faixas compartilhadas com carros, táxis e coletivos.
Este modelo de mobilidade existe em mais de 140 países e aqui na cidade do Rio é administrado por um grupo de empresas privadas de transporte de passageiros, que, focado no lucro oriundo das tarifas, deixou o serviço de passageiros se deteriorar ao ponto de hoje a Prefeitura ter que intervir e realizar uma encampação do serviço.
Basicamente o Poder Público se tornou responsável por toda gestão do sistema nos próximos meses de 2021 e, assim que a “casa” estiver arrumada, como de costume, entregará o sistema renovado novamente para as mãos de novos, ou velhos empresários.
Desde a intervenção pública, a Prefeitura já conseguiu recuperar algumas estações e ônibus do sistema ônibus articulados. O caminho é longo e, enquanto isso, segue o sofrimento dos moradores da Zona Oeste.
Sobre os trens, as passagens estão mais caras, mas o serviço não melhorou. Mesmo após o aporte de bilhões de reais pelo Governo do Estado na compra de novas composições e reformas de algumas estações para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, hoje o sistema sofre também com a perda de passageiros e consequentemente de receita. Com isso, o sistema se precariza. Viagens que eram feitas em menos de 1 hora entre Santa Cruz, Campo Grande e a Central do Brasil, hoje variam de 2 a 3 horas, em média. As viagens diretas agora são paradoras, com o objetivo de pegar mais passageiros, mas a estratégia pouco adianta, pois, com o aumento constante da passagem, menos moradores da Zona Oeste conseguem arcar com os custos deste deslocamento.
Também faltam ciclovias, calçadas e faixas de pedestres. No entorno da estação de trem de Campo Grande, onde, mesmo com paraciclos públicos a 500 metros da estação, os ciclistas preferem deixar a bicicleta em um estacionamento, com o custo diário de R$ 2,00. As pessoas não têm escolha: gastam mais para garantir que sua bicicleta estará segura no retorno do trabalho.
Cabe trazer também para nossa discussão outros dois modos de transporte complementares aos ônibus e às vans: os mototáxis e o sistema de transporte por aplicativo. Em muitos lugares, a única alternativa é chamar um Uber ou pegar o mototáxi, mas muitos moradores relataram que quando os motoristas são chamados e veem o local, cancelam a corrida ou, quando estão no trajeto, insistem para terminar a corrida antes de chegar às casas. Nos mototáxis, usuários e motoristas correm riscos pela falta de regulamentação e fiscalização.
O sistema de transportes na Zona Oeste é feito para não funcionar. Existe muita espera, muito engarrafamento, poluição sonora e do ar e, para piorar, redução de linhas essenciais. As mulheres estão submetidas a condições de completa insegurança. Os índices de violência sexual são alarmantes e muitas dessas violências ocorrem em transportes públicos ou no caminho até os pontos. Os passageiros arriscam-se todos os dias expostos também a possibilidades de assaltos, inclusive dentro desses ônibus. Os trabalhadores estão sujeitos a passar longas horas do seu dia nos transportes públicos, uma vez que a maior parte de seus empregos não se encontra nas periferias e a oferta de transporte público no Rio de Janeiro funciona de modo cruel com quem mora distante das regiões centrais.
O trabalho do nosso mandato é lançar luz para todos esses problemas, que impossibilitam o trabalhador e a trabalhadora de acessarem a cidade que eles mesmos ajudaram e ajudam a construir. Observar e denunciar a realidade de cada ônibus quebrado, de cada ciclovia destruída e de cada rampa desfeita é o nosso trabalho. Assim como cobrar à Prefeitura para que esse cenário mude e todos tenham seus direitos garantidos. Seguiremos nessa luta os nossos olhos e voz estão em cada morador da Zona Oeste!