O prefeito do Rio de Janeiro e um dos grandes eleitores das próximas eleições, Cesar Maia, deu hoje uma entrevista ao jornal Valor Econômico, em que entre coisas fala sobre as eleições cariocas em 2008. Veja o que disse o prefeito:
Valor: Qual a expectativa na disputa pela Prefeitura do Rio? Maia: Vamos ter uma redução do número de votos no primeiro turno na Prefeitura do Rio, pois eu ganhei no primeiro turno (em 2004) e ninguém vai ganhar no primeiro turno nesta eleição. A Solange (Amaral, candidata do DEM) deve ir para o segundo turno. A queda no primeiro turno é forte porque sai de 50% dos votos, 2 milhões de votos, passa para 1,3 milhão para o segundo turno. São 700 mil votos a menos, que a nível nacional, têm um peso. Em 2006, o DEM teve uma vitória espetacular para o Senado, passou a \ser o maior partido na Casa. Depois, tiraram um, tiraram outro, tiraram outro. Essa vitória sinalizava que o lugar que o governo iria ter problemas era no Senado. A gente viu isso agora na CPMF. Depois, o governo tem como carro-chefe político os programas de inclusão social. São programas que têm uma curva, que vai formando cada vez um ângulo menor. Sai de 6 milhões no Bolsa Escola e vai para 11 milhões no Bolsa Família. Depois, vai para 11,5 milhões, 11,7 milhões, não pode ir para 22 milhões. Os programas assistenciais têm sempre este problema. Quando recebe, a população dá um retorno muito grande porque recebeu aquele apoio. Se ele não está vinculado a um elemento de inclusão definitiva, a população começa a achar pouco logo depois. A pessoa ganha R$ 30, claro que é importante porque não ganhava nada. Só que daí a um ano R$ 30 não é nada, tem que ganhar R$ 150. Então, a produtividade política desses programas assistenciais é decrescente, o que é bom porque tem que acoplar um elemento de inclusão ao emprego, à Educação, à ascensão, uma porta de saída. Então, o governo Lula, nos programas assistenciais, vai ter, do ponto de vista político, uma produtividade política decrescente.
Valor: E no Rio de Janeiro, sua base eleitoral, como vai ser a disputa pelas prefeituras? Maia: O Rio de Janeiro, há 80 anos, tem dois vetores políticos. O populista, que pode ser de clientela, pode ser trabalhista com Getúlio (Vargas), pode ser social com (Leonel) Brizola, pode ser evangélico com (Anthony) Garotinho e com a Benedita (da Silva). Esse vetor é muito forte, sempre foi e continua sendo, está aí o Wagner Montes, o (senador Marcello) Crivella. E do outro lado, tem uma outra alternativa que o povo busca, não sei direito qual é o nome, na falta de um nome melhor, chamo de administrativo. Procura um perfil de candidato que faça mais o gênero do gestor, do administrador, isso tem aí há anos e vai se reproduzir agora. Já estamos em campanha com Solange Amaral. Quando o Crivella, habilmente, consegue levar o Exército para o Morro da Providência para fazer reforma de casa, passa a ter um discurso imbatível: "Atenção, vou fazer isso no Rio de Janeiro todo, vou com o Exército, a garantia de segurança e vou com a garantia de mão-de-obra". Quem pode dizer que é mentira? Ele fez ali. Então ele tem a oferecer um exemplo para o eleitor dele, que é imbatível. Mas como o Exército deixa se usar dessa maneira? Parabéns ao Crivella. E o documento do Exército é projeto Cimento Social, o nome do slogan dele.
Valor: O senador Crivella tem a simpatia do presidente Lula mas o PT quer lançar candidato. Maia: O PT tem que ter para suas bases. O Lula, cada vez que trata de política do Rio de Janeiro, ele baba bílis. Não sei o que passou na cabeça dele. Ele quer porque quer derrotar a gente e ter um aliado dele na prefeitura, seja qual for, não interessa se é de esquerda ou de direita, se é evangélico ou católico, nada, ele quer eleger. E o Crivella é uma alternativa.
Valor: O senhor sempre disse que o Crivella tem um teto de votos. Isso pode mudar? Maia: Não. No limite, ele passa… Ele vinha caindo na capital: se elegeu senador, se candidatou para prefeito, governador… Minha projeção, antes da entrada do Exército, é que ele iria cair mais ainda e iria acabar essa eleição com 10%. Mas com as imagens que ele está fazendo, com o Exército botando nos papéis "Cimento Social" e ele fazendo discurso para a base dele, recupera. Pode se recuperar para os 21% que ele teve em 2004 contra mim e deve ir para o segundo turno.
Valor: Como o senhor explica o movimento do governador Sérgio Cabral em lançar o Eduardo Paes pelo PMDB sendo que o partido tem aliança com o DEM? Maia: É o Lula em cima dele.
Valor: O governador não reconhece essa aliança com o DEM. Maia: Mas como? O acordo DEM-PMDB foi feito em 52 municípios e o Rio é um deles. O Cabral fez isso para a imprensa. Como o Cabral faz com o Lula em cima dele, babando bílis, dizendo que não pode apoiar candidato do Cesar Maia? Ele tem que fazer alguma coisa, ele recebe dinheiro do PAC, o Lula faz um monte de coisas para ele.
Valor: O senhor acha, então, que Eduardo Paes é para dar uma resposta ao presidente? Maia: Não, o Cabral, na hora que trouxe o Eduardo Paes, trouxe confiante de que o poder do governador e do presidente da República ia virar. O que aconteceu? O Michel Temer (presidente do PMDB) disse que iria ficar com a direção regional do partido. E em seguida, houve uma intervenção no diretório municipal do PMDB. E estamos falando de três políticos que não são atropeláveis: Jorge Picciani (presidente da Assembléia Legislativa do Rio), (os deputados) Leonardo Picciani e Eduardo Cunha. E o movimento do Eduardo Paes do PSDB para o PMDB o fragilizou, ele traiu a sua imagem anterior. Não tem como carregar o Eduardo dentro do PMDB. Como diz o Picciani, eles podem, no limite, derrubar o acordo na convenção, mas não com o Eduardo. Pode ser com o (Marcelo) Itagiba (deputado). Porque ele (Eduardo Paes) vai perder a eleição, como perdeu agora para governador do Rio, teve votação pífia. E vai ter votos contra os deputados federais, que não digerem isso.
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