Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha – e muito – é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).
Ligado à Secretaria de Comunicação Institucional, antiga Secretaria de Comunicação – SECOM – o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, ao lado do gabinete do ódio, sob o comando do secretário especial Flávio Augusto Viana Rocha.
Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.
No entanto, se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.
O maior problema do Bolsonaro, hoje em dia, parece ser o de se reeleger. Aliás, desde que tomou posse, não passou um dia sequer sem que o presidente pensasse em se reeleger. Já no discurso de posse – pasmem – Bolsonaro já avisava que faria um bom governo e se reelegeria.
A reeleição sempre foi a prioridade desse governo.
Bolsonaro estava lendo os jornais com as pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, quando o secretário de Comunicação entrou no gabinete:
- Me chamou, presidente?
- Chamei, sim, Flávio! Quero que você traga aqui o marqueteiro da
minha campanha. Precisamos discutir a minha reeleição. - Mas, presidente, ainda faltam nove meses para a eleição! O senhor vem pensando em reeleição desde que se elegeu… O rapaz do marketing já esteve aqui umas 200 vezes. Todo mês o senhor manda ele vir aqui para discutir a sua reeleição.
- Você já viu as últimas pesquisas de intenção de votos, divulgadas hoje? Eu estou com 23% das intenções de votos, contra 45% do ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva – disse o capitão, apontando para os jornais.
- É, tá feia a coisa! Até parte dos evangélicos já declararam voto espontâneo em Lula.
- Temos que dar um jeito nisso daí, taokey? Até o ex-juiz Sérgio Moro aparece com quase 10% das intenções de voto, colado em mim. Daqui a pouco, até a Simone Tebet acaba me passando.
- O que o senhor está pensando fazer para subir nas pesquisas de intenção de votos?
- Nessa ‘cuestão’ daí, acho que para atingir meu projeto de reeleição preciso pôr a culpa no Lula
por todas as mazelas do país. - Mas é o que o senhor vem fazendo, desde que tomou posse – disse o secretário, rindo.
- Pois é. Já tentei de tudo: tentei acusar o Lula de ser o mandante da facada em Juiz de Fora; tentei dizer que Lula vai transformar o Brasil em uma Venezuela; tentei por a culpa pelo aumento dos combustíveis no roubo da Petrobrás, pelo PT; culpei os governadores o ICMS, e nada!!
- Culpar Lula ou a pandemia pelos maus resultados do seu governo não vai ajudar, presidente. De mais a mais, nada disso respinga nem de longe no ex- presidente. O senhor tem que mostrar o que realizou, se quiser mais quatro anos no poder. Comece com os principais feitos do seu governo. Comece falando da inflação, por exemplo.
- Não. A inflação não. Ela anda um pouco alta.
- Fale do preço da gasolina.
- Tá louco! O preço da gasolina mais que dobrou.
- Fale das privatizações.
- Não. Ainda está a meia-bomba.
- Fale, então da taxa de desemprego.
- Não. Está muito alta.
- Do dólar?
- Não. O preço continua alto.
- Do preço dos alimentos?
- Tá alto.
- Do gás?
- Dobrou o preço.
- Do que o senhor vai falar, então. Tá tudo ruim! – disse o secretário, abatido.
O presidente coçou a cabeça.
- Não tem nem uma boa notícia do meu governo!? E a campanha de vacinação da população?
- O senhor sempre foi contra. Inclusive disse que quem vacinou-se ia virar jacaré, com Aids – disse o secretário.
- E a transposição das águas do Rio São Francisco?
- Foi o Lula que fez 94% da obra.
- E a BR-163?
- 93% foi paga pelo governo do PT.
- E a Ferrovia Oeste-Leste?
- 89% foi paga pelo governo do PT.
- E a BR 116 (trecho Porto Alegre-Pelotas)?
- 86% foi paga pelo governo do PT.
- E o “Minha Casa Verde e Amarela”?
- Era o “Minha Casa Minha Vida”, do Lula.
- E o auxílio emergencial de 600 reais?
- Foram os congressistas que deram, o senhor queria dar só 200 reais, lembra?
- E o “Auxílio Brasil”?
- Era o “Bolsa Família”, do Lula.
Com os índices de popularidade mais baixos que o salário-mínimo, e como não fez um bom governo – longe disso -, posso imaginar que Bolsonaro daqui a pouco, vai culpar o Lula pelo cheque na conta da Michelle.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.