Museu Internacional de Arte Naïf tem 6.000 obras sem destino após venda de sede

Aberto ao público em 1995, o espaço foi vendido e agora guarda cerca de seis mil obras de artistas naïf nacionais e duas mil de estrangeiros, além das duas maiores telas do gênero em exposição no mundo

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Acervo do Museu Internacional de Arte Naïf do Rio de Janeiro - Jacqueline Finkelstein/Acervo pessoal

Desde a semana passada, a maior coleção de arte Naïf do mundo, cerca de 6 mil obras de 120 artistas diferentes, está sem destino após o fechamento do Museu Internacional de Arte Naïf. O espaço, único no país, dedicado à divulgação e à valorização do gênero, fica localizado em um antigo casarão de estilo néoclássico datado do século 19, no bairro do Cosme Velho, na Zona Sul do Rio. O prédio foi finalmente vendido por R$ 4 milhões, depois de cinco anos à espera de um comprador, conforme informou o jornal Folha de S. Paulo.

As artes foram parar em guarda-móveis, sem as condições adequadas de acondicionamento, sem refrigeração ou controle de umidade. Fechado, o imóvel custava aos proprietários R$ 6.000 para manutenção. Até o momento, nenhuma obra foi iniciada no local, o que se sabe é que uma empresa adquiriu o antigo museu.

Desde 2016, pinturas de Heitor dos Prazeres e Lia Mittarakis estavam numa sala, sem as condições necessárias à preservação das telas. Diretora do Mian, Jacqueline Finkelstein, disse que deseja vender o acervo –ou mesmo ceder em comodato– para alguma instituição pública ou privada. O Museu de Arte do Rio, o MAR, foi procurado, mas não houve interesse na compra.

Aqui no Rio as pessoas estão com medo de receber qualquer coisa, porque isso demanda ter mão de obra. O pessoal está com dificuldade de manter o próprio acervo“, ela diz.

Museu Internacional de Arte Naïf tem 6.000 obras sem destino após venda de sede
Arte Naïf no Parque Lage

Para o fim do mês, Finkelstein acerta os últimos detalhes antes de repassar ao Museu Histórico Nacional a maior tela de arte naïf do mundo, “Brasil, Cinco Séculos de Luta”, de Aparecida Azedo.

Finkelstein decidiu que manterá no país 2.000 obras. Até o momento, a Pinacoteca de São Paulo e o Museu do Sol, de Penápolis, mostraram interesse em receber parte dos quadros. “No Brasil, e principalmente no Rio, falta a cultura da cultura. E sobre arte naïf existe um desprezo. Acho que os europeus vão admirar mais a arte brasileira“, afirma. Sendo assim, cerca de 4.000 telas devem deixar o país em breve. Ela já iniciou as tratativas com o Museu Naïve de Jagodina, na Sérvia.

Fundado em 1995 para abrigar a coleção do pai de Finkelstein, o francês Lucien, o Mian tinha em seu acervo obras de Miranda, Antonio da Silva e Maria Auxiliadora. O termo naïf é usado para designar um tipo de arte popular feita, muitas vezes, por artistas sem iniciação acadêmica. O primeiro sinal da crise veio em 2008, ano da morte de Lucien.

A prefeitura interrompera o financiamento de R$ 16 mil por mês, que ajudava a cobrir os custos do casarão. Sem a verba, o Mian fechou as portas pela primeira vez.

Em 2011, Tatiana Levy, filha de Finkelstein, assumiu a gestão do museu, integrando as exposições a programas educativos, o que provocou um aumento de público. Nessa época, a família chegou a comprar o casarão ao lado, visando a inauguração de uma biblioteca sobre arte naïf, que teria entrada pela praça do trem do Corcovado.

A prefeitura não liberou o projeto, alegando que a obra descaracterizaria o imóvel do século 19. Com o tempo, a estrutura do prédio cedeu e hoje está em ruínas. O imóvel foi vendido pelo valor de R$ 2 milhões também no fim do ano passado.

Por diversas vezes, a família buscou apoio do poder público –nas esferas municipal e estadual– e da iniciativa privada, mas durante oito anos nenhum patrocinador se sensibilizou pelo museu. A última exposição do acervo ocorreu em 2019, em parceria com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Naquele ano, o Museu do Pontual havia sido inundado e o Museu Nacional, consumido pelo fogo.

O cenário econômico não é dos melhores para os museus cariocas. Em 2019, a prefeitura concedeu um aporte de R$ 451 mil para evitar o fechamento do MAR. Um ano antes, o Museu de Arte Moderna, o MAM, teve de se desfazer de uma tela do pintor americano Jackson Pollock para sair da crise.

Segundo dados da plataforma Museus Br, do Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram, 22 instituições estão fechadas ou foram extintas no Rio de Janeiro. É mais do que o dobro do número relativo a 2016, ano em que a cidade recebeu os Jogos Olímpicos –e o Mian encerrou as atividades.

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4 COMENTÁRIOS

  1. Gostaria de fazer contato com a Jaqueline Finkelstein, ou alguém que a assessora,pois tenho projeto para este museu em discussão numa cidade do estado de São Paulo. Sou professor de arte aposentado, entusiasta por muesologia e militante social. Alguém me adiciona para um contato urgente? WATSAP 11 971358688

  2. Complementando o que o João Paulo escreveu, poderia incluir o prédio do antigo Automóvel Clube do Brasil na Rua do Passeio, o Castelinho do Flamengo, um prédio bonito e antigo ao lado do Teatro Prudential no Flamengo, aquele conjunto de prédios abandonados na entrada da Lapa, onde havia a Pizzaria Guanabara, o Palacete Cornélio, na Glória, o antigo Museu do Primeiro Reinado em São Cristóvão, um belo palacete medieval na Rua Ibituruna, na Tijuca, o Teatro Villa-Lobos no Leme, o Palacete Laguna no Maracanã, o antigo prédio do IEDI na Urca, muitos belos prédios antigos abandonados no Centro da cidade e em Santa Teresa – só citando alguns outros locais disponíveis em nossa cidade para abrigar as obras do MIAN.

  3. SAIBAM… sobre o abandono do MIAN, e a farta distribuição de suas obras pelo Brasil e pelo mundo, com a conivência da prefeitura e do governo do estado do Rio de Janeiro.

    Somos ou não somos uma Republiqueta das Bananas, onde nossos pseudo administradores abandonam mais de seis mil obras de arte ao Deus Dará ?

    Qualquer país civilizado do mundo já teria feito construir um belo prédio para abrigar tão importantes obras, e nós aqui nesta cidade e neste País ficamos eternamente comendo moscas, estacionados na Idade da Pedra Lascada, devido à incompetência de nossos políticos meliantes, corruptos e quadrilheiros.

    Vai entender !!!!!!!!!

    MUSEU INTERNACIONAL DE ARTE NAIF (MIAN)

    Cadê este prefeito que ainda não se mexeu para arranjar uma nova sede para o nosso Museu de Arte Naif ?

    Ele vai deixar as obras irem embora da cidade e do País ?

    Desde a semana passada, a maior coleção de Arte Naïf do mundo, cerca de SEIS mil obras de CENTO E VINTE artistas diferentes, está sem destino após o fechamento do Museu Internacional de Arte Naïf.

    Até o momento, a Pinacoteca de São Paulo e o Museu do Sol, de Penápolis, mostraram interesse em receber parte dos quadros. “No Brasil, e principalmente no Rio, falta a cultura da cultura. E sobre arte naïf existe um desprezo.

    Acho que os europeus vão admirar mais a arte brasileira”, afirma. Sendo assim, cerca de 4.000 telas devem deixar o país em breve. Ela já iniciou as tratativas com o Museu Naïve de Jagodina, na Sérvia.

    “Aberto ao público em 1995, o espaço foi vendido e agora guarda cerca de seis mil obras de artistas naïf nacionais e duas mil de estrangeiros, além das duas maiores telas do gênero em exposição no mundo…”

    Enfim, estas secretaria de cultura do Rio de Janeiro tem que se mexer para arranjar uma nova sede para tantas obras importantes.

    Este País para ficar pior, precisa trabalhar muito, com a ajuda deste bando de incompetentes, que exporta nossas mais importantes obras para o resto do mundo.

  4. O que não faltam na cidade do Rio são prédios públicos sem utilidade útil. Agora que a Assembleia Legislativa mudou, o Palácio Tiradentes seria uma opção. Outra, a Estação Leopoldina, a desativada usina de asfalto da prefeitura, próxima a Rodoviária. Cidade das Artes na Alvorada, espaço não falta. O Sambódromo, uma placa de concreto que mais esquenta aquela área, espaço não falta sob as arquibancadas. No próprio Engenhão há espaço ao redor, inclusive o museu do Trem que está abandonado. O complexo do antigo Hospital Psiquiátrico Pedro II, deixaram grande parte dos pacientes sem atendimento com o fechamento da Unidade, aproveitem ao menos as construções antes que virem sucata como a falecida Gama Filho. Ou melhor ainda, algum “artista” preocupado com a arte, poderia doar um prédio, uma de suas propriedades para a causa.

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