Ediel Ribeiro: Adeus, Jabor

Arnaldo Jabor, jornalista e cineasta morto aos 81 anos, na madrugada desta terça-feira, alcançou o sucesso em tudo que fez

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Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro é um Narciso às avessas: odeia a própria imagem. E tinha razão: no Brasil cultua-se o fracasso, o insucesso. Pratica-se entusiasticamente a simpatia pelos derrotados.

Aos que fazem sucesso o brasileiro reserva seu desprezo, sua maledicência, seu rancor, sua inveja e seu ressentimento.

Arnaldo Jabor, jornalista e cineasta morto aos 81 anos, na madrugada desta terça-feira, alcançou o sucesso em tudo que fez. Considerado pela crítica um dos intelectuais mais talentosos, influentes e controvertidos no panorama político e cultural brasileiro dos últimos anos, ainda assim foi muito criticado por alguns – principalmente bolsonaristas -, quando deveriam cultuá-lo fanática e, em alguns casos, até doentiamente.

Jabour — originalmente formado em direito — estreou no cinema, por influência direta do amigo Cacá Diegues. Fez parte da geração do ‘cinema novo’ onde dirigiu de sucessos como “Eu Te Amo”, de 1981, ao retumbante fracasso de “Pindorama”, em 1970.

Foi com “Toda Nudez Será Castigada” (1973) – seu terceiro longa – que Jabor encontrou seu tema e seu estilo. A obra é considerada até hoje a melhor adaptação cinematográfica de Nelson Rodrigues. As cafajestices, as loucuras, o melodrama, o pecado, o moralismo suburbano, as gritarias e, por fim, a tragédia de Nelson Rodrigues, estão todas lá.

Depois de “O Casamento” – outro bom filme inspirado em Nelson Rodrigues – Jabor dirigiu “Tudo Bem”, “Eu Te Amo” e “Eu Sei que Vou Te Amar”. Em todos eles, percebe-se ainda a influência de Nelson Rodrigues, sobretudo nos diálogos.

Para Nelson Rodrigues, Jabor foi seu melhor intérprete.

Descendente de judeus libaneses, Arnaldo Jabor nasceu no Rio de Janeiro, em 1940. Foi jornalista, escritor, cineasta, roteirista, diretor e crítico de teatro, cinema e TV. Tudo isso passando, como era óbvio na época, pela militância de esquerda.

No início dos anos 70, com o recrudescimento da repressão política e da censura e com o cinema brasileiro já afetado pela crise que culminaria com o fechamento da Embrafilme, Jabor se dedicaria ao jornalismo.

Na TV, ficou célebre pelos comentários não raro irônicos e cáusticos. Trabalhou na ‘TV Globo’ como comentarista de programas como o ‘Jornal Nacional’, ‘Jornal da Globo’ e ‘Bom Dia Brasil’, bem como na rádio ‘CBN’, e nos jornais ‘O Estado de São Paulo’, ‘Folha de São Paulo’, ‘O Globo’, ‘O Metropolitano’ e na revista ‘Movimento’, entre outros.

Publicou ainda livros de coletâneas como ‘Os Canibais Estão na Sala de Jantar’ (Editora Siciliano de 1993); ‘Sanduíches de Realidade’ (Editora Objetiva, 1997); ‘A invasão das Salsichas Gigantes’ (Editora Objetiva, 2001); ‘Amor É Prosa, Sexo É Poesia’ (Editora Objetiva, 2004); ‘Pornopolítica’ (Editora Objetiva, 2006); ‘Eu Sei Que Vou Te Amar’ (Editora Objetiva, 2007) e ‘O Malabarista – Os Melhores Textos de Arnaldo Jabor’ (Editora Objetiva, 2014).

O jornalista estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após sofrer um acidente vascular cerebral. Ele deixa três ex-mulheres, três filhos, e quatro netos.

Adeus, Jabour!

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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