Ediel Ribeiro: A medalha do Jaguar e a de Bolsonaro

Counista do DIÁRIO DO RIO comenta com bom humor os episódios mais recentes da política

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Arte: Nei Lima

Eu também já ganhei uma medalha da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, concedida pelo vereador Pedro Porfírio. Mas não devolvi, como fez Jaguar. Perdi a minha, depois de um porre no Amarelinho.

Tem medalhas, no entanto, que justificam a devolução. São honrarias também concedidas a corruptos, ditadores, genocidas e, portanto, ao invés de homenagear, denigre a imagem de quem recebe. Foram os casos das medalhas recebidas pelo cartunista Jaguar e pelo sertanista Sydney Possuelo.

Em 2006, Jaguar foi indicado pelo vereador Chico Alencar para receber a medalha Pedro Ernesto. Na mesma ocasião, a vereadora Cristiane Brasil, filha do Deputado Roberto Jefferson (PTB) – hoje aliado de Bolsonaro -, ofereceu a mesma comenda ao pai.

Jaguar fez questão de devolvê-la para não dividir a honra com Roberto Jefferson, o deputado bolsonarista que foi cassado por corrupção, admitiu ter recebido R$ 4 milhões e delatou o esquema do “mensalão”.

O sujeito é réu confesso, embolsou R$ 4 milhões e foi condecorado pela filha, num ato de nepotismo. Não deu para engolir.” – disse o cartunista.

Na última quarta-feira (16/3), Jair Bolsonaro (PL) foi condecorado pelo ministro da Justiça, Anderson Torres – pasmem -, com a Medalha do Mérito Indigenista. O titular da pasta também deu a medalha para si mesmo e para outros nove ministros do governo federal.

Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o reconhecimento foi oferecido “pelos serviços relevantes em caráter altruísticos, relacionados com o bem-estar, a proteção e a defesa das comunidades indígenas”.

Esta é a segunda honraria concedida pelo governo federal a Bolsonaro somente nesta semana. Na terça-feira (15/3), ele outorgou a si mesmo a Ordem do Mérito do Ministério da Justiça por serviços voltados para o crescimento e fortalecimento da pasta.

Em novembro de 2021, após uma série de declarações anti científicas em meio à pandemia de Covid-19, Bolsonaro se auto premiou com a Medalha de Ordem Nacional do Mérito Científico.

A homenagem com a Medalha do Mérito Indigenista gerou intensa controvérsia e protestos contra a condecoração do presidente da República, já que sempre se mostrou inimigo dos indígenas, e contra a política adotada pelo governo em relação ao tema.

O presidente é defensor de agendas que são consideradas por especialistas da área como contrárias ao bem-estar das comunidades indígenas, entre elas a mineração em terras demarcadas.

Na semana passada, ele afirmou que os indígenas “praticamente já são quase como nós”.

Antes, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro, em manifestação na Câmara dos Deputados, afirmou: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”.

Presidente da Funai entre 1991 a 1993, o sertanista Sydney Possuelo devolveu ontem a Medalha do Mérito Indigenista que recebeu há 35 anos ao saber que o presidente Jair Bolsonaro foi agraciado com a mesma honraria.

Possuelo afirmou que a concessão do mérito ao presidente “é um flagrante, descomunal” e uma “ostensiva contradição” em relação ao trabalho que ele mesmo realizou e a todas as convicções cultivadas por homens de estatura dos irmãos Villas Boas”- escreveu o sertanista, em carta encaminhada a Anderson Torres.

Com tantas medalhas outorgadas a si mesmo e oferecidas por figuras bolsonaristas, o capitão corre o risco de se transformar em um novo ‘Zé das Medalhas’.

Altair Domiciano Gomes, figura lendária de Copacabana, também conhecido como Zé das Medalhas, foi balconista da Farmácia do Leme, da Prado Júnior e chegou a ter 15 quilos de medalhas penduradas no peito.

A diferença, é que as medalhas do ‘Zé’ tinham mais valor que as do presidente.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

3 COMENTÁRIOS

  1. Só para fazer jus aos fatos, os EUA hoje comtam com mais de 4 milhões de índios americanos; No Brasil, segundo o IBGE, 1,1 milhão vivem em aldeias e reservas, mas não quer dizer que todos sejam índios puros, é uma fração disso.

  2. Quem quiser, assistam o documentário premiado do Brasil Paralelo no YouTube gratuitamente e vejam como esse pseudo jornalista mente em suas narrativas insanas… no documentário possui DADOS GOVERNAMENTAIS, relatos de indígenas e demonstra como a Funai é um câncer para esses povos.

    • A maioria dos jornalistas são militantes de esquerda e não querem divulgar a verdade, preferem mentir e iludir seu leitores com fake news e a visão de mundo completamente deturpada deles, essa matéria não é diferente. Tudo é invertido para esse pessoal, a desonestidade intelectual é 100% , são os verdadeiros fascistas da atualidade. Paulo Francis já falava que custava a acreditar que nas grandes redações dos jornais brasileiros existiam tantos esquerdistas, ele achava que alguém letrado não podia ser de esquerda. Ele mesmo quando jovem foi Trotskista, mas depois de ver com os próprios olhos como o capitalismo enriquece o povo e o comunismo só funciona na base da polícia, desgraçando a família e a sociedade, se converteu ao liberalismo e conservadorismo de direita. vale à pena ver a Roda Viva (da época que era um excelente programa) com Paulo Francis no youtube, ele foi entrevistado 2 vezes, é uma aula de história do Brasil de quem viveu a ditadura militar de 64, foi preso 4 vezes, mas depois se converteu ao capitalismo vivenciando junto com os protagonistas.

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