Costumamos dizer que o Brasil não sofre com tragédias naturais, como ocorre em outros países. Mas isso é um erro. Sofremos sim. Há muito tempo, com chuvas. O Rio de Janeiro é um triste exemplo disso. Nos últimos 11 anos foram, pelo menos, 1232 mortes causadas por consequência de temporais.
O DIÁRIO DO RIO fez um levantamento, baseado em notícias de veículos de imprensa, que mostra que desde a catástrofe na Região Serrana, em 2011, que deixou – em números oficiais – mais de 900 mortos, muito mais gente perdeu a vida após e durante fortes chuvas.
A reportagem se baseou em dados oficiais, publicados na imprensa. Contudo, tentou um levantamento com números da Defesa Civil-RJ, que não respondeu os contatos.
Em 2011, o estado do Rio de Janeiro viveu o que muitos especialistas consideram a maior tragédia climática da história do Brasil. As fortes chuvas que atingiram a Serra Fluminense deixaram, de acordo com os registros de órgãos públicos, 918 mortos e 34.600 mil desalojados. Fora 99 vítimas seguem desaparecidas, segundo o Ministério Público Estadual – dados divulgados em 2021.
Nova Friburgo, com 451 mortes, foi o munícipio mais atingido. Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto também foram afetados. Rios transbordaram e deslizamentos aconteceram em muitas partes das cidades.
O fato ocorrido em 2011, como se não bastassem outros, deveria ter sido um alerta determinante para que novas vidas fossem poupadas. Pois, como dizem especialistas, não dá para controlar a força da natureza, mas dá para evitar mortes e grandes danos às pessoas e cidades.
“Não é possível que todo verão, a gente seja surpreendido. Existe tecnologia para evitar grandes estragos. Há pouco tempo foram instaladas sirenes, sistema de alarme, em áreas de risco em épocas de fortes chuvas. O importante é que a gente aprenda. O Poder Público tem que confiar nas previsões sobre as mudanças climáticas a longo prazo e a curto prazo, como pode ser nesse verão. Precisamos estar muito atentos e o Poder Público sabe disso, existem instituições que fazem um ótimo trabalho para ajudar na identificação e na prevenção de desastres”, diz Christovam Barcellos, coordenador do Observatório de Clima e Saúde e vice-diretor de Pesquisa e Ensino do Icict/Fiocruz.
No ano seguinte, em 2012, foram registradas por órgãos oficiais e publicadas na imprensa sete mortes após chuvas fortes. Três delas em janeiro e quatro em abril. Os registros aconteceram na Baixada Fluminense e Região Serrana do estado do Rio de Janeiro.
O ano de 2013 foi marcado, novamente, por mortes na Região Serrana na sequência de temporais. Em Petrópolis foram 13 mortes. Entre elas, dois técnicos da Defesa Civil que trabalhavam nos resgates. Na Baixada Fluminense, dois registros de mortos, na Zona Oeste da Capital, um e em Cabo Frio, outro.
Os anos de 2014 e 2015 passaram sem registros oficiais de mortos após chuvas. O que parecia ser um alívio mais longo diante do cenário que se repete todo início de ano no estado do Rio de Janeiro foi terminado no início de março de 2016, quando a Região dos Lagos sofreu com temporais. Foram cinco mortes. Em Saquarema, um homem foi levado por uma enxurrada e morreu. Centenas de famílias ficaram desabrigadas no munícipio.
No mesmo ano, também em março, mas na segunda quinzena, a cidade do Rio de Janeiro amargou perdas. Quatro mortos. Localizados na Rocinha, Rocha Miranda e Chácara do Céu, onde duas pessoas foram vítimas de um desabamento.
Após um 2017 sem registros de mortes depois de chuvas no estado do Rio de Janeiro, em fevereiro de 2018, um homem e uma mulher estavam dentro de casa quando foram atingidos por um deslizamento de terra no bairro de Quintino. Em Realengo, um policial militar ia para o trabalho de carro quando uma árvore caiu sobre o veículo e o matou. Em Cascadura, um adolescente de 12 anos também morreu por consequência do temporal.
Ao menos 10 mortes foram noticiadas após as chuvas de abril de 2019, na cidade do Rio de Janeiro. Sete das vítimas estavam na Zona Sul, entre elas uma avó e uma neta que tentaram fugir do temporal em um táxi e três na Zona Oeste – dois em Santa Cruz e outro no Jardim Maravilha.
Antes das tragédias de abril de 2019, fevereiro do mesmo ano também foi de luto depois da chuva na capital. Ao menos seis mortes foram registradas. Entre as vítimas estavam dois passageiros que viajavam no ônibus atingido por uma árvore que despencou de uma encosta do morro do Vidigal, onde houve deslizamentos de terra, alagamento de ruas e de um hotel de luxo. Além do desabamento de parte de uma ciclovia Tim Maia. À época, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) decretou luto oficial de três dias.
Entre as chuvas que ocorreram de 29 de fevereiro e 2 de março de 2020, pelo menos cinco pessoas morreram. Três casos ocorreram na capital – dois deles na Zona Oeste e um na Zona Norte – e dois na Baixada Fluminense.
Em 2021, o levantamento feito pelo DIÁRIO DO RIO não localizou registros de mortes após fortes chuvas nem notícias na imprensa sobre ocorridos. Já este ano de 2022 começou com pelo menos 238 pessoas mortas em Petrópolis desde que as chuvas começaram a cair em fevereiro e mais 18 mortes confirmadas, por consequência de temporais no fim de março e começo de abril em todo o estado, sobretudo Região Serrana e Costa Verde. Os números foram confirmados até a publicação desta matéria.