Na tarde de segunda-feira, o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio de Janeiro (IPHAN), Olav Schrader, esteve no Centro do Rio para visitar e acompanhar a obra do prédio que, em breve, abrigará a nova sede do DIÁRIO DO RIO. O imóvel fica localizado bem na entrada do Arco do Teles, que integra o corredor cultural da Praça XV, um dos trechos mais visitados por cariocas e turistas na região central da cidade, muito por conta do charme arquitetônico e da riqueza histórica do antigo Largo do Paço.
Durante o encontro, Schrader conheceu as futuras instalações do jornal e destacou a importante iniciativa do DIÁRIO DO RIO de concentrar suas operações em uma área repleta de patrimônios históricos, não só benéfica para a cidade como também para o país, em um gesto, segundo ele, de “valorização” da nossa história.
“Vocês estão de parabéns! Eu venho aqui prestar esse reconhecimento ao DIÁRIO DO RIO. Vocês teriam a escolha de ir para bairros novos da cidade ou algum edifício comercial no Centro da Cidade, ou em outra localidade, mas em um ato de valorização do nosso patrimônio histórico e cultural, vocês fizeram a opção voluntária de vir investir no nosso conjunto tombado nacional. Eu gostaria muito que isso servisse de exemplo e inspiração para outras empresas, atividades e forças da sociedade civil, que dessem o devido reconhecimento a esta região“, afirmou.
Olav Schrader foi recebido pelo presidente do DIÁRIO DO RIO, Claudio André de Castro, e pelo Diretor Executivo, Quintino Gomes Freire, que mostraram detalhes da execução da obra, e de como ficará o espaço que será entregue aos colaboradores do jornal mas também aos cidadãos. A visita foi acompanhada também pela decoradora Katia Peres, responsável pelo acabamento interno do imóvel bicentenário, cuja aprovação de projeto junto aos órgãos de patrimônio ficou a cargo da A+ Arquitetura, do arquiteto Manuel Fiaschi. A equipe do Iphan visitou todos os ambientes, ciceroneados também pelas diretoras do jornal Bruna Castro e Ivana Luterbark.
Peres citou com orgulho a descoberta, durante a obra, de dois grandes painéis do pintor Nilton Bravo (acima), considerado o “Michelangelo dos Botequins”, que ornamentam o térreo do prédio do DIÁRIO. Bravo já foi alvo de reportagem aqui. O superintendente do Iphan olhou os painéis, tombados pelo órgão municipal de patrimônio – IRPH, e gostou muito da sua preservação. ““É um trabalho pioneiro de restauro de arte decorativa, emblemática da longa historia boemia dos botequins cariocas”“, disse. Em ato contínuo, Castro lembrou que no prédio que sediará o jornal funcionou por quase 70 anos o tradicional Bar Arco do Teles, que, segundo ele, tinha “um dos mais deliciosos caldos de mocotó do Rio“, e que os painéis evocam a lembrança de uma casa que reuniu tantas pessoas no decorrer de décadas.
O prédio, com 3 andares, 7 portas e quase 15 metros de frente, contará com um estúdio de podcast envidraçado, uma grande área para eventos, workshops e palestras ligadas ao jornalismo, o Bar do Diário (espaço que servirá de cenário para a gravação do programa de entrevistas Mesa Viva e para atender aos eventos), uma grande redação com pé direito de 6 metros, refeitório, salas de editoria e até mesmo uma área descoberta para convivência dos jornalistas. A nova sede do jornal tem ar condicionado central e instalações para reuso de água e captação de água da chuva, em linha com as tendências verdes do mundo atual.
Schrader viu os forros em madeira pinho de riga, a centenária escadaria em ipê, e os pisos artesanais em ladrilhos hidráulicos encomendados a uma fábrica que ainda produz segundo as técnicas originais de mais de 200 anos atrás. A grande porta dupla da sala da presidência do jornal, reaproveitada de casario histórico de Pelotas/RS, pareceu impressionar o superintendente, que gostou bastante de serem restaurados os pisos de tábuas corridas originais da construção do segundo andar. O prédio do DIÁRIO DO RIO data do século XVIII, tendo sofrido uma ampliação e reforma em 1904.
Em seguida, após conhecer o espaço, o superintendente do IPHAN comentou um pouco sobre o trabalho desenvolvido pelo órgão no desenvolvimento e na revitalização de espaços tombados, sobretudo aqueles que serviram de pano de fundo para diversos episódios emblemáticos da nossa construção como país.
“A gente tem priorizado, na nossa gestão, todas as iniciativas que venham a trazer vida e atividades para os conjuntos tombados. Aqui você tem várias camadas de relevância para a história do Brasil, como o desembarque da família real portuguesa e assinatura da lei áurea. Nós temos a igreja da Antiga Sé, que é o único lugar do mundo no qual um rei europeu é coroado fora da Europa. Tudo isso, em um raio de um quilômetro, são eventos da nossa história muito especiais, que tiveram como cenário o Centro do Rio de Janeiro, mas que, infelizmente, são espaços que estão subvalorizados, ainda“, pontuou. Schrader valorizou também as parcerias com empresas privadas, na preservação de imóveis que são bens culturais federais.
Schrader ainda revelou que a superintendência do IPHAN irá se transferir para a Praça XV em meados do mês de maio. O órgão de patrimônio vai instalar-se em um espaço no Paço Imperial. Na prática, será quase vizinho do DIÁRIO DO RIO. Desde o final do ano passado, a sede estava provisoriamente alocada no Centro Empresarial Cidade Nova, mais conhecido como Teleporto, também na região central do Rio, porém mais afastada da região do antigo cais Pharoux.
“A gente estava em um imóvel comercial, pagando um aluguel comercial muito caro. Nós estamos ganhando duas vezes com essa mudança, primeiro uma economia mensal de recursos muito significativa, e agora, aquilo que nós gastarmos, que já vem com uma economia, será investido em um bem tombado nacional. E claro, a expectativa é movimentar a região e trazer atenção para o órgão, estando onde nós somos mais necessários”, finalizou.
Confira mais fotos da visita
Áreas tombadas na região da Praça XV:
Área central da Praça XV de Novembro e imediações
O perímetro da área tombada fica entre a Rua da Assembleia e a Praça Quinze de Novembro (Largo do Paco), o prédio conhecido como “Antigo Convento do Carmo”, passando pela Rua do Carmo, o Beco dos Barbeiros, a Rua Primeiro de Março, a Igreja da Candelária, e a Avenida Alfred Agache, além da Travessa do Comércio, ao qual se tem acesso pelo Arco do Teles.
Beco dos Barbeiros
Situado entre a Rua Primeiro de Março e a Rua do Carmo, o nome se deve ao fato de ter sido ocupado por barbeiros ambulantes quando foi aberta uma passagem durante a construção da Igreja da Ordem Terceira do Carmo.
O trecho é calçado com grandes blocos de pedra com calhas de ferro trabalhado, com carrancas esculpidas na pontas, para o escoamento das águas pluviais da Igreja.
Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores
Tombamento da edificação, incluindo todo seu acervo – Rua do Ouvidor – Centro do Rio – A igreja é linda, e se encontra em mau estado. Pertence à Ordem Religiosa de mesmo nome, que parece passar por dificuldades, apesar de ter também um pequeno edifício na Sete de Setembro. Ao contrário da maioria das igrejas históricas da região, apesar de ser católica, não é propriedade da Arquidiocese.
Àquele saguão na entrada do prédio é lindo e é uma pena que algo tão belo, na região mais central do Rio, não esteja sendo preservado e utilizado para fins mais nobres…
A loja que lá se instalou, ficaria melhor no Saara!!.
Parabéns! Escolheram o ponto mais emblemático e simbólico. Esperamos que a ininiciativa incite um movimento de reocupação dos sobrados da região da Praça XV (assim como das demais perímetros do centro e ZP) … e não apenas com bares e restaurantes, mas trazendo lojas criativas, cafés, livrarias etc… ativando o coração do Rio com charme.
Parabéns!!! Obras centenárias com arquitetura de época e adornos construídos com madeiras que não existem mais devem se preservadas. Quando for ao Rio gostaria de conhecer! Torço para que a Igreja da Ordem Terceira do Carmo também seja restaurada. A cidade merece, a Igreja merece, a população agradece!
Que tesouro !
Deve ser o centro de cidade do Brasil mais belo mas também o mais mal cuidado, poderia render ouro se a sua história fosse explorada com criatividade !
Muito bom ver o Diário do Rio crescendo e além da sua principal ativada de, ir além, contribuindo para a culta, história e renascimento do RJ. Quintino e Cláudio estão de parabéns e cada vez mais, o DR se torna minha principal fonte. Forte abraço e sucesso. Quando estiver pronta, vou visitar.
É com grande alegria que eu li esta matéria. Aquelas construções são belíssimas. E me incomoda, e muito, passar por ali (não só por aquele lugar) e ver construções históricas desta bela cidade sendo destruídas pelo descaso das autoridades.
Parabéns, diário do Rio.
Penso o mesmo!