No dia 26 de fevereiro de 1997, o Papa São João Paulo II nomeou o monge cisterciense Dom Orani João Tempesta para ser o terceiro bispo da Diocese de São José do Rio Preto (SP), aos 46 anos. Recebeu a ordenação episcopal no dia 25 de abril de 1997, em São José do Rio Pardo (SP), sua terra natal, pelas mãos de seu antecessor, Dom José de Aquino Pereira, e dos coordenantes Dom Dadeus Grings, então bispo de São João da Boa Vista (SP), e Dom Luís Gonzaga Bergonzini, bispo da Diocese de Guarulhos
(SP). Adotando o lema: “Que todos sejam um” (Jo 17, 21), governou a diocese riopretense de 1º de maio de 1997 até 13 de outubro de 2004, quando foi eleito para a Arquidiocese de Belém, no Estado do Pará.
Este texto do brilhante Jornalista Carlos Moioli, da Arquidiocese do Rio de Janeiro abre o Caderno Especial comemorativo aos 25 anos de Episcopado de Dom Orani Tempesta, do Jornal Testemunho de Fé, órgão oficial da Arqui-Rio que ouso aqui replicar. Sem o temor de exagerar, afirmo com tranqüilidade que ao comemorarmos as Bodas de Prata de Episcopado do Arcebispo Tempesta, comemoramos 25 anos de Episcopado do mais importante Bispo que eu conheci na vida, e eu conheci muitos.
Não irei aqui escrever uma Biografia, muitos já o fizeram, inclusive eu que fui autor de um dos livros. Vivemos tempos tumultuados, de questionamentos, de ataques frontais à Igreja vindos de fora, e pior, muitas vezes de dentro dela. É um momento em que o mundo passa por mudança e que cada vez mais as pessoas precisam ter pessoas em quem acreditar, em quem se espelhar, em quem sentir-se acolhido. Nessas Bodas de Prata de Episcopado de Dom Orani que hoje comemoramos vou ater-me a contar resumidamente duas passagem que pra mim resumem o que é Dom Orani, sua importância para a Igreja e sua relevância para o Brasil.
O primeiro fato deu-se numa tarde. Eu tomei um táxi, tinha um compromisso na Arquidiocese e pedi ao Motorista que me levasse para o Edifício João Paulo II, na Glória. O motorista disse pra mim: “Eu sei onde é! É na cada do Dom Orani.” Eu respondi que sim e seguimos viagem. Ele então começou a me contar que era Católico e que morava em uma comunidade onde o crack era uma presença cruel, onde homens e mulheres viravam “zumbis” e viviam sob o viaduto. Seguindo eu seu depoimento ele me disse que ele fazia parte de um grupo de Católicos que fazia um trabalho com os dependentes químicos e que por várias vezes esteve com Dom Orani. Eu perguntei onde teriam sido esses encontros, em reuniões, missas, ou em que lugar. Ele me disse que em missas, e entusiasmado subiu o tom de voz e me disse: “É meu camarada, Missa que o Dom Orani celebra debaixo do viaduto com os cracudos”. Na época eu estava a escrever meu livro sobre o Cardeal e me interessei ainda mais. Paramos o carros, ele desligou o taxímetro e passou a me relatar que o Cardeal almoçava com os dependentes químicos, falava com eles sobre Deus, sobre a vida e sobre a possibilidade que cada um tinha de sair daquela vida. Numa dessas falas o taxista me contou que Dom Orani disse, segundo ele mais ou menos assim: “Todos nós somos filhos de Deus, todos nós temos nossas cruzes, todos nós precisamos de ajuda para carregar nossos fardos e que onde existe vontade, Deus se faz presente e ajuda.”
Com os olhos marejados o motorista passou a me contar então sobre uma moça que segundo ele tinha cerca de 20 anos com aparência de muito mais velha. Que ela chegou até o Cardeal deu um abraço demorado e que o Cardeal retribuiu. Olinda perguntou ao Cardeal, contou me o motorista: “Essas palavras que o senhor disse servem para mim também?” O Cardeal respondeu que sim. Ambos conversaram mais tempo porém o motorista não soube na ocasião o teor do diálogo.
Passado segundo o taxista, cerca de 2 anos ele foi até uma feirinha no Largo do Machado, zona sul do Rio de Janeiro e para sua surpresa encontrou Olinda numa barraquinha vendendo artesanatos em tecido. Fazia tempos que ele não a via mais no ir e vir pra lugar nenhum no viaduto. Intrigado com a nova aparência da até então dependente do crack perguntou a ela o que havia ocorrido. Olinda disse que naquele dia com Dom Orani, “Deus falou com ela” e ela encontrou nele ajuda para se tratar e deixar o vício. Segundo o taxista, ela lhe disse que “estava limpa” há mais de um ano, e que era um dia de cada vez.
O taxista Arnaldo Firmino de Andrade, fiz questão de anotar, me disse que se despediu e perguntou a ela se ela ainda via o Cardeal. Ela disse que sim, que o via em Missas na Catedral na Avenida Chile mas que espiritualmente ela o via sempre, porque sempre que pensava em fraquejar sintonizava-se com Deus através da lembrança que tinha de Dom Orani.
Este é Orani João Tempesta, pacificador, generoso e um salvador de gente, apaziguador de corações, resgatador de almas.
Este é o Arcebispo do Rio de Janeiro que hoje completa 25 anos de vida Episcopal. Nestes tempos
estranhos onde a solidariedade humana está em segundo plano, onde o materialismo impera, onde a falsa
caridade ou caridade de coluna social reina, Dom Orani nos inspira e nos dá esperança nas promessas de
Deus.
Como esta Olinda, muitas outras existem nos cantos, vielas, marquises, cracolândias e outros locais onde
o desalento está presente. Como esta Olinda muitas outras ao longo de 25 anos de Episcopado de Dom
Orani encontraram naquele sorriso generoso e naquela mão de Pai o amparo necessário para sair do fundo
do poço.
Parabéns Cardeal Tempesta o senhor é uma reserva moral e a materialização de uma certeza: Deus é Pai
de todos nós e é de homens como o senhor que ele se mostra presente na vida das pessoas.