André Luiz Pereira Nunes: As décadas derradeiras do Andaraí – parte 1 (1938 a 1943)

Parte da história de um dos mais tradicionais clubes do passado do futebol carioca

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O gradual e acentuado declínio do Andaraí Atlético Clube, histórica agremiação esportiva que pertenceu à primeira divisão do Rio de Janeiro de 1915 a 1924, se iniciou por ocasião da perda de sua praça de esportes e o posterior arrendamento a partir da Associação Atlética Portuguesa, em janeiro de 1938, através de um acordo do clube luso com a Polícia Municipal.

Alegando, portanto, possuir campo de jogo, a Portuguesa manifestou interesse em manter-se na Liga de Futebol do Rio de Janeiro (LFRJ) em definitivo entre os profissionais. O estádio, o qual apresentou à entidade, era justamente o mesmo que pertenceu ao Andaraí até 1934, quando o então presidente deposto, Jansen Muller, cedeu o espaço para os praças.

Como nada costuma ser uma mera coincidência no mundo do futebol, ele teria sido aceito como sócio da Portuguesa dias após ter sido banido do cargo máximo do Grêmio Alviverde. É evidente que a partir da cessão desse espaço esportivo, o qual já não mais pertencia ao Andaraí desde 1934, a agremiação entra em um profundo e irreversível estágio de decadência. As atividades foram mantidas, contudo de maneira frágil e irregular. Não só o clube, como seus jogadores, já não mais faziam parte do ambiente fabril do bairro, afetando consequentemente a identidade da agremiação, ferida ainda pela perda de outras modalidades esportivas como o basquete e o tênis.

Ao longo de 1939, o Andaraí passou a conviver com as ameaças de expulsão da Associação de Futebol do Rio de Janeiro (AFRJ). Em 17 de junho foi anunciado que o clube seria suspenso caso não cumprisse com as obrigações de filiado de acordo com o estatuto. Sem saber quando voltaria a atuar e com seus jogadores “presos”, portanto, impedidos de atuar em outras equipes, a agremiação vivenciou um ano praticamente ocioso.

Em mais uma infrutífera e desesperada tentativa de se reerguer, o Andaraí anunciou, em abril de 1940, não só o retorno do ex-presidente afastado Jansen Muller, como o plantel formado pelos jogadores de 1932 para atuar no campeonato da Associação de Futebol do Rio de Janeiro (AFRJ). O time daquele ano fora convocado a comparecer a uma reunião marcada na própria residência de Jansen Muller, localizada na rua Visconde de Santa Isabel, bem próximo à sede social do clube. Jogadores como Bianco, Aragão, Palmier e outros, que haviam se destacado oito anos antes já não se encontravam em favoráveis condições físicas. No início dos anos 1930 eram desejados por outros clubes que já haviam se profissionalizado. Por sua vez, o Andaraí só oficializou contrato com seus atletas depois da criação da Federação Metropolitana de Desportos (FMD), em 1935. Agora, esses jogadores atuavam em equipes que não faziam parte da liga profissional, como o próprio Dondon, zagueiro imortalizado pelo samba de Nei Lopes, dos anos de 1980, que vinha jogando junto a Bianco no Confiança, clube ainda mais modesto e vizinho.

O grêmio verde e negro ficava sediado na Rua General Silva Teles, a cerca de dois quarteirões da rua Barão de São Francisco, onde se localizava o estádio do Andaraí. Todavia, os esforços para refazer uma equipe, a qual obtivera certo destaque em um passado recente, a volta de dirigentes famosos e as tentativas de recuperar um espaço perdido entre os clubes de maior projeção da cidade se tornaram cada vez mais difíceis.

Em reunião realizada pelo Conselho Superior da Liga de Football, que controlava a AFRJ, no dia 29 de maio de 1940, ficou determinado o desligamento do Andaraí por ter infringido os estatutos daquela entidade. Portanto, já desvinculado da AFRJ, o clube não participou do Torneio Início daquela associação, realizado em 9 de junho de 1940. E, a partir daí, as notícias que traziam o nome de Jansen Muller e dos antigos jogadores provenientes do plantel do começo da década de 1930 tratavam apenas de jogos festivos e amistosos.

Entre 1939 e 1941, o time se restringiu a promover jogos e excursões sem compromissos profissionais a fim de relembrar tempos mais gloriosos.

Em 1942, o Andaraí passa a integrar o Campeonato Carioca de Amadores, Primeira Categoria, promovido pela Federação Metropolitana de Futebol (FMF). Com o estabelecimento do futebol profissional pela Liga Carioca de Futebol (LCF), em 1933, a disputa da antiga categoria de segundos quadros foi substituída pelo campeonato de quadros amadores, destinado aos atletas que não desejavam aderir ao profissionalismo. A campanha, no entanto, foi bastante insatisfatória. O clube ficou na penúltima posição, superando apenas o Carioca, com a campanha de 34 jogos, 6 vitórias, 6 empates e 22 derrotas, sofrendo algumas goleadas humilhantes.

Partidas: Primeiro turno: 29.03 – 2 a 5 Bonsucesso (F); 4/04 – 4 a 3 America (C); 11/04 – 2 a 6 – Vasco (F); 2/05 – 1 a 2 Fluminense (F); 10/05 – 2 a 5 Flamengo (C); 17/05 – 2 a 2 Carioca (C); 24/05 – 2 a 2 Ríver (F); 31/05 0 a 7 Confiança (C); 7/06 – 5 a 7 Olaria (F); 14/06 – 1 a 9 Botafogo (C); 28/06 – 3 a 4 Ideal (C); 5/07 – 6 a 1 Mavílis (F); 12/07 – 3 a 3 Bangu (F); 19/07 – 1 a 2 Ruy Barbosa (C); 26/07 – WO Canto do Rio (C); 2/08 – 1 a 1 Madureira (F); 8/08 – 2 a 6 São Cristóvão (C). Segundo turno: 16/08 – 6 a 4 Bonsucesso (C); 22/08 – 2 a 6 America (F); 29/08 – 0 a 6 Vasco (C); 12/09 – 1 a 12 Fluminense (C); 20/09 – 0 a 8 Flamengo (F); 27/09 – 2 a 3 Carioca (F); 4/10 – 2 a 4 Ríver (C); 11/10 – 1 a 2 Confiança (F); 18/10 – 0 a 12 Olaria (C); 25/10 – 1 a 17 Botafogo (F); 8/11 – 1 a 1 Ideal (F); 15/11 – 2 a 5 Mavílis (C); 22/11 – 3 a 2 Bangu (C); 29/11- 2 a 2 Ruy Barbosa (F); 5/12 – 5 a 0 Canto do Rio (F); 13/12 – 3 a 5 Madureira (C); 22/12 – 1 a 5 São Cristóvão (F).

Classificação da Primeira Categoria de Amadores:

1º Botafogo (campeão) – 64; 2º Flamengo (vice) e Vasco – 55; 4º Olaria – 52; 5º Fluminense – 51; 6º São Cristóvão – 43; 7º Ideal – 35; 8º Confiança – 33; 9º America – 31; 10º Mavílis – 29; 11º Madureira – 25; 12º Canto do Rio – 24; 13º Bonsucesso e Ruy Barbosa – 22; 15º Bangu e Ríver – 19; 17º Andaraí – 18; 18º Carioca – 15.

Em 1943, os times amadores passaram a integrar a Segunda Categoria da Federação Metropolitana de Futebol (FMF) por imposição das equipes profissionais que não desejavam dividir espaço. O campeonato foi disputado por Manufatura, Confiança, Andaraí, Ruy Barbosa, Ríver, Mavílis, Ideal e Oposição. O Andaraí, que atuou no campo do Mavílis, ficou na quarta colocação final no certame, cujo vencedor foi o Manufatura, ficando o Oposição na segunda posição. Na categoria juvenil o Grêmio Alviverde foi o lanterna. O campeão e o vice foram, respectivamente, Ríver e Ruy Barbosa.

Partidas: Primeiro turno: 13/06 – 4 a 3 Ruy Barbosa (C); 20/06 – 4 a 4 Oposição (C); 27/06 – 2 a 3 Manufatura (F); 4/07 – 1 a 2 Ideal (C); 11/07 – 5 a 2 Confiança (C); 18/07 – 1 a 1 Ríver (F); 25/07 – 6 a 3 Mavílis (C). Segundo turno: 1/08 – 3 a 1 Ruy Barbosa (F); 8/08 – 3 a 1 Oposição (F); 15/08 – 1 a 2 Manufatura (C); 22/08 – 1 a 8 Ideal (F); 29/08 – 3 a 2 Confiança (F); 5/09 – 3 a 4 Ríver (C); 12/09 – 3 a 2 Mavílis (F).

Classificação da Segunda Categoria de Amadores:

1º Manufatura (campeão) – 24; 2º Oposição (vice-campeão) – 19; 3º Ideal – 18; 4º Andaraí – 16; 5º Confiança – 12; 6º Mavílis – 10; 7º Ríver – 7; 8º Ruy Barbosa – 6.

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André Luiz Pereira Nunes é professor e jornalista. Na década de 90 já escrevia no Jornal do Futebol e colaborava com Almir Leite no Jornal dos Sports. Atuou como colunista, repórter e fotógrafo nos portais Papo Esportivo e Supergol. Foi diretor de comunicação do America.

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