Roberto Anderson: Purgatório dos ciclistas

Colunista do DIÁRIO DO RIO aponta problemas nas ciclovias da cidade

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Nas últimas décadas, houve na Cidade do Rio de Janeiro um real crescimento da atenção à mobilidade ativa, com a construção de ciclovias, ciclofaixas ou ciclorotas. Para quem não está familiarizado com esses termos, ciclovia é a pista ideal, destinada a ciclistas, em faixa segregada de carros e pedestres. Existe, por exemplo, na orla de Ipanema e Copacabana. Aqui no Rio, patins ou praticantes de corrida são permitidos nas ciclovias. Ciclofaixa é uma faixa pintada sobre o asfalto ou calçada. Quando a ciclofaixa ocorre sobre esta última, há eventual compartilhamento do espaço com os pedestres. É a situação do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas e do Parque do Flamengo. E ciclorota é uma sinalização sobre o asfalto indicando um trajeto prioritário para o ciclista em meio ao tráfego de veículos.

No entanto, apesar de uma maior oferta de espaços para os ciclistas, acompanhada por uma explosão dos usuários de bicicletas na cidade, a vida do ciclista carioca nem sempre é fácil. As ciclovias são contadas aos quilômetros, para deixar a cidade bem nas estatísticas. Mas a sua manutenção é pífia. As que foram especialmente construídas para o uso a que se destinam não tiveram uma manutenção adequada, e se encontram com falhas na pavimentação, remendos grosseiros e perdas de blocos ou sinalizadores que as separam dos demais veículos. Aquelas, que apenas utilizaram um trecho da via já existente, incorporaram todos os defeitos do asfalto, como calombos, buracos e tampas de visita de instalações subterrâneas salientes. Da mesma forma, as ciclofaixas sobre calçadas padecem dos mesmos males que tanto incomodam os pedestres, ou seja, buracos, falhas na pavimentação e elevação da mesma pela ação de raízes de árvores.

Se esses problemas na pavimentação podem provocar quedas entre os pedestres, são também potencialmente perigosos para os ciclistas. A velocidade um pouco maior das bicicletas torna mais incômoda a trepidação provocada por uma pavimentação irregular. E um buraco que leve o ciclista ao chão pode ter consequências ainda mais danosas. Isso sem contar que a sinalização das ciclofaixas deixa de existir em certos trechos. Isso produz confusão entre pedestres e ciclistas, e coloca estes últimos à mercê de carros que saem de garagens. Já as ciclorotas são uma abstração para os motoristas dos demais veículos, que muitas vezes as utilizam para estacionamento em fila dupla.

Com ciclorotas ou não, o ciclista está sempre sendo espremido junto ao meio-fio por motoristas que desconsideram a indicação do Código de Trânsito de guardar a distância de 1,50m ao passar por bicicleta ou ultrapassá-la, o que caracteriza uma infração média, passível de multa. Quem multaria, se nem mesmo os guardas de trânsito parecem conhecer essa regra? Os motoristas devem também reduzir a velocidade dos veículos ao ultrapassar um ciclista, sendo a não observância desse item uma infração grave. Quem o faz?

O Artigo 58 do Código de Trânsito indica que as vias urbanas e rurais são adequadas à circulação de bicicletas, desde que não haja ciclovias ou ciclofaixas. Portanto, o ciclista tem os mesmos direitos de estar na via asfaltada que os demais motoristas. Mas isso não parece ser entendido ou aceito por grande parte dos mesmos. Os ciclistas são vistos como invasores das pistas, como estorvos, às vezes apenas tolerados, às vezes tratados agressivamente. Não raro, essa incompreensão resulta em atropelamentos, com ferimentos ou mortes.

A Prefeitura tem uma enorme responsabilidade e capacidade de implantar políticas que tragam segurança e conforto aos ciclistas. Do bispo não se podia esperar mesmo muita coisa. Mas a nova administração municipal já se encontra no seu segundo ano. Já é hora de mostrar real atenção à mobilidade ativa, cuidando das vias dos ciclistas e patinadores, assim como dos caminhos dos pedestres. Sabe-se que ela se vê como comprometida com a sustentabilidade. Mas é preciso mostrar isso na prática, em diversas áreas. Somente o sistema Bike Rio, de bicicletas compartilhadas, já superou a marca de um milhão de usuários. Portanto, o número de ciclistas cariocas é expressivo e ainda tende a crescer. A atenção a esses milhões de usuários de bicicletas na cidade é parte dessa boa política de sustentabilidade. Vamos a ela? 

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.

3 COMENTÁRIOS

  1. oi! ciclovia no Rio? onde? CTB A I “CICLOVIA – pista própria destinada à circulação de ciclos, separada fisicamente do tráfego comum.”!

    nao “mesmos”, pois “, com preferência sobre os veículos automotores.”!
    mas precisava?
    “§ 2º Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.”

    at.,

  2. Concordo com os comentários e acrescento que está cada vez mais perigoso o ciclismo pois as bicicletas elétricas não respeitam absolutamente nada, como também, os ambulantes de gelo com suas carrocinhas a interromper o trânsito e, ainda os corredores e patinadores também não o fazem!
    A prefeitura deveria obrigatoriamente controlar e multar tais práticas!
    Julio Sergio dos Mares Guia, Msc.

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