William Siri : A SuperVia-crúcis de quem depende de trem no Rio de Janeiro

Descaso do Governo do Estado e da empresa operadora do sistema ferroviário prejudica a população e atrapalha o desenvolvimento

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
Em depoimento à CPI da ALERJ, o presidente da SuperVia declarou que o furto de materiais impacta de forma significativa os serviços prestados pela concessionária / Foto: Ale Silva/Futura Press/VEJA

Apesar da competência dos trens do Rio de Janeiro ser da alçada estadual, ou seja, de responsabilidade do governador Cláudio Castro, eu, como morador da Zona Oeste, não tenho como não abordar o tema. Desde que fui eleito vereador, meu compromisso tem sido o de pensar a cidade a partir da região, que tanto sofre com o mal serviço prestado pela SuperVia, a empresa responsável pela operação do sistema. O modal é fundamental no planejamento diário de milhares de trabalhadores de Santa Cruz, Campo Grande, Bangu, Padre Miguel, Paciência e tantos outros bairros, mas deixa muito a desejar.

O impacto disso é visível na qualidade de vida e nas oportunidades de quem mora por aqui. Afinal, quantas vezes você, trabalhador, já chegou atrasado no seu compromisso por causa da SuperVia? Quantas vezes acordou mais cedo para tentar ir sentado no trem e chegar menos amassado no trabalho? Quantas vezes você se viu empurrado ou empurrando alguém para conseguir entrar ou sair de um vagão superlotado? É por isso que existem tantas histórias de pessoas que ficam feridas nos trens, algumas fatalmente. 

O Rio de Janeiro tem cinco ramais e três extensões ao longo dos seus 270 quilômetros de trilhos com 104 estações ferroviárias. É o maior modal de transporte do estado, transportando mais de 350 mil pessoas diariamente, sendo boa parte delas da Zona Oeste. Um número que poderia ser ainda maior já que, no passado, o sistema já registrou mais de um milhão de usuários por dia. 

Sendo algo de tamanha importância, de forma nenhuma podemos normalizar o descaso dos responsáveis com a população. Temos o direito de cobrar o governo estadual, de quem é o dever de prover um transporte seguro, acessível e eficiente. Para piorar, nos últimos meses, o perrengue nos trens parece ter se intensificado. Todo dia, a rádio e a TV notificam atrasos enormes no serviço ou a paralisação dos ramais. 

Agravada pela pandemia, a situação dos ramais Deodoro e Santa Cruz vai de mal a pior. Hoje, há apenas o serviço parador, fazendo com que a viagem do trabalhador dure mais de duas horas entre as estações de Santa Cruz/Campo Grande e o Centro do Rio. Isso afasta aqueles que conseguem trocar o serviço pelo ônibus, van ou carro. Com menos passageiros, a SuperVia encontra justificativa para a redução no número de trens e o aumento do valor das passagens. E, com a diminuição das composições, o sistema fica superlotado e muito caro, afastando ainda mais gente, num ciclo vicioso que atrapalha o desenvolvimento. Atualmente, quem utiliza o trem diariamente e ganha um salário mínimo, gasta mais de 20% do que recebe só com passagem.

O prejuízo é gigante. Sendo o elo mais fraco da corrente, o trabalhador já chega cansado ao trabalho e leva menos dinheiro no bolso. O panorama é terrível já que o grande tempo de deslocamento gera perdas econômicas para toda sociedade. São horas desperdiçadas que poderiam ser utilizadas para o lazer, o descanso, mais tempo com a família, os amigos e para as causas sociais. Isso além dos custos com a saúde física e emocional, incluindo a de quem sofre com os acidentes nos trens. 

Este ano, a SuperVia foi condenada a pagar R$ 200 mil pela morte de um jovem de 19 anos que foi arremessado para fora dos trens e atropelado. Uma realidade que levou a organização Casa Fluminense a produzir um livro relatando as vidas perdidas no sistema ferroviário. De acordo com a obra, intitulada “Não foi em vão”, entre 2008 a 2018, aconteceram 368 homicídios culposos por atropelamento na região metropolitana do Rio de Janeiro. Esse cenário evidencia a urgente necessidade de melhorias, com a instalação de sinalização e aviso sonoro e a realização de reformas na infraestrutura e na segurança para que os trens parem de matar seus usuários.

O constante descumprimento do contrato pela empresa e a falta de cobrança do Poder Público, aqui na figura do governador, nos faz ter a certeza de que nenhum dos dois lados está realmente preocupado com a população. Cabe então a nós, sociedade civil e Poder Legislativo, juntos, cobrarmos medidas concretas. Nosso mandato tem feito fiscalizações constantes no sistema, viajando por todos os ramais para identificar os gargalos e sugerir soluções.

Hoje, cobramos com urgência a volta do sistema expresso, principalmente nos horários de pico, e o cumprimento do cronograma programado. Se deslocar de trem não pode ser uma caixinha de surpresas digna de filme de terror. É preciso garantir ao trabalhador dignidade e acesso ao trabalho e a toda a cidade.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp William Siri : A SuperVia-crúcis de quem depende de trem no Rio de Janeiro

2 COMENTÁRIOS

  1. Ué, mas o atual ninguém governador não está na frente na disputa eleitoral do estado do Lixo de Janeiro???? Ou a pesquisa é falsa ou o povo desse estado é imbecil mesmo!!!!

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui