Era época de alcachofras. E lá estavam elas sobre a mesa, bem crocantes, com uma mistura mágica de azeite com um vinagre branco especialíssimo aromatizado com algo que eu não consegui identificar.
O Gero Fasano era a empolgação em pessoa, falando das receitas das alcachofras, onde a conheceu, como aperfeiçoou o preparo ao trazer a ideia para o seu grupo de restaurantes. Alcachofras, no entanto, têm um problema: são difíceis pacas de harmonizar com vinho. O ideal é com brancos e, pela nossa experiência ali na mesa, branco encorpados. Bons de boca mesmo. A planta (sim, ela é uma planta!) do Mediterrâneo, trazida para cá pelos imigrantes italianos, tem elementos que reagem com o vinho e deixam o palato com um gosto metálico duro de engolir.
Diante disso, o Gero foi abrindo uma, duas, três rótulos diferentes até achar o qual segurasse a potência da alcachofra. A gostosa epopéia aconteceu no Gero, quando ficava na Rua Aníbal de Mendonça e fazia tanto sucesso, que as filas de espera intermináveis virou manchete na capa de um jornal de grande circulação. A história, aliás, está contada no livro Fasano, Dal 1902, lançado na última terça-feira. A obra tem fotos bacanas que contam a história da marca, assim como textos curtos, gostosos de ler, alguns escritos, em primeira pessoa, pelo próprio Gero.
Do restaurater para o restaurante, poucos foram tão copiados com o Gero, cuja fórmula, decoração, cardápio e ambiente são perfeitos. E quando a gente pensava que não era possível superar tamanha magnitude, eis que surge o nosso Gero de sempre, dentro do hotel Fasano, no lugar do Al Mare, lindo e sofisticado, porém faltava alma nele.
No mesmo lugar, o Gero trouxe o que faltava porque alma nunca lhe faltou. Além de uma nova decoração, na qual uma enorme treliça em madeira transforma as paredes do lugar. O ambiente mais falado, no entanto, é a varandinha na calçada, com ombrelones e vasos de plantas que a cerca. Ela virou hit assim que surgiu, com carioquices e brisa do mar, envolvendo a ótima comida de sempre. Os clássicos pratos do restaurante continuam aqui: a cotoletta alla milanese, o risoto allo zafferano, o ossobuco e o creme de mascarpone feito na hora, que cobre o tiramisú.
Há ainda outras joias, criadas pelo chef Luigi Moressa, quem deu cara da comida do Gero no Rio, quando abriu há 20 anos. Sempre com as raízes da culinária italiana, correndo nas veias. O ravioloni recheado com de mozarela de búfala com molho de tomate fresco e manjericão dá uma pala do que estou falando.
E, já que estamos na praia, o meu prato preferido, depois da cotolleta, é o spaghetti profondo mare. Com um nome desses, ele não poderia deixar de trazer camarões, lulas, cavaquinhas e vieiras, numa liga irretocável com tomatinhos cereja e legumes.
Enfim, o Gero mudou mas não mudou, confirmando o status de ter uma das melhores cozinhas do Rio. Cá entre nós, vai a dica de ouro: programe-se para um almoço de domingo e se entregue ao bollito, o cozido à moda italiana. É inesquecível. Vai na minha que você vai na boa.
Serviço
Gero
Av. Vieira Souto, 80, Ipanema
Tel.: (21) 3202-4030.
Segunda a quarta das12h às 15h e das 19h às 23h; Quinta das 12h às 15h e das 19h às 00h; Sexta e sábado das 12h às 16h e das 19h às 01h; Domingo, das 12 às 22h